Em um ano, Yuki Tsunoda viu a Red Bull trocar sem dó seu companheiro de equipe três vezes, mas o jovem sempre teve consciência da realidade que é ser um piloto do grupo austríaco. E é justamente permanecer no time B por três temporadas seguidas que o motiva a querer retribuir a confiança com resultados

Há um conceito na milenar cultura do Japão que explica o intrínseco senso de gratidão que um nativo do país asiático costuma nutrir por aqueles que lhe fazem algo de bom, como um favor. O ‘giri’ (lê-se ‘guirí’, romanização para o ideograma 義理), como é chamado, na verdade, remete ao código de conduta dos samurais, que eram guiados por sete princípios básicos: justiça, coragem, compaixão, respeito, honestidade, honra e lealdade.

O giri pode ser traduzido como um ‘dever social’, um senso de dever e justiça que gera essa retribuição quase que obrigatória de um benefício recebido. Não seria exagero, portanto, dizer que, mais do que qualquer outra coisa na passagem atual pela Fórmula 1, Yuki Tsunoda busca dar essa recompensa pelo que a Red Bull tem significado em sua carreira.

O próprio piloto, aliás, entende que não estaria mais no grupo Red Bull se não fosse por merecimento. Ainda assim, o sentimento que move Yuki temporada após temporada é devolver essa “confiança com resultado”. Essas foram as palavras usadas por ele em entrevista exclusiva concedida ao GRANDE PRÊMIUM durante a última passagem da F1 por Interlagos.

Na ocasião, Yuki chegou a São Paulo com 13 pontos, porém embalado graças ao significativo progresso da AlphaTauri na perna final da competição. O clima ao redor, contudo, sempre foi tenso, mas ele nunca esteve alheio à realidade de quem assina um contrato com a cúpula dos energéticos. Em apenas um ano, foram três companheiros de equipe diferentes, sendo que o primeiro, Nyck de Vries, foi sacado sem dó diante da falta de resultados esperados.

Yuki Tsunoda está na AlphaTauri desde 2021 (Foto: Red Bull Content Pool)

Só que veio, então, a maior ameaça que Tsunoda poderia ter: Daniel Ricciardo, de volta à Red Bull como o bom filho pródigo que anseia desfrutar do melhor da casa do pai. Era um aviso claro, dito na época pelo próprio consultor dos taurinos, Helmut Marko. Afinal, do que o jovem piloto oriundo do programa de talentos da Honda era, de fato, capaz?

Tsunoda e Ricciardo dividiram os boxes da AlphaTauri em oito corridas na temporada 2023; em cinco, levou a melhor sobre o companheiro australiano tanto nas classificações quanto nas corridas. Foi de Daniel, contudo, o melhor resultado obtido pela base de Faenza ao cruzar a linha de chegada em sétimo na Cidade do México.

O duelo, todavia, é um detalhe. O foco de Tsunoda é apenas continuar fazendo o melhor trabalho possível para provar que foi, é e continuará sendo digno de ser o único a permanecer na equipe ‘B’ dos taurinos, seja quem for que estiver na garagem ao lado.

Confira na íntegra o bate-papo que Yuki teve com o GP:

GRANDE PRÊMIO: Red Bull não se esconde quando acha que um piloto deve ser demitido. Então, o fato de que você vai para o quarto ano mostra o valor que enxerga em você, certo? Isso te dá confiança?

Yuki Tsunoda: Sim, desse ponto de vista, é verdade, estou muito feliz com isso e com a minha relação com o pessoal da Red Bull. Mostra a confiança deles, e é por isso que tenho boa motivação e faz com que eu queira ainda mais trabalhar em cima do que já sei. Provar que sou bom piloto o bastante para que eles me mantenham na família Red Bull. Quero pagar a eles, como piloto, com resultado. É por isso que estamos felizes com isso. Não é fácil, vocês conhecem o ambiente da Red Bull, não é sempre assim. Ao mesmo tempo, eles sempre nos dão objetivos claros e guiam os pilotos de maneira direta. Eu meio que já me acostumei com isso. Eu gosto, porque são as mesmas pessoas e reuniões. Não deixo de captar o que eles querem dizer. Gosto deste estilo, é bom.

Tsunoda sabe que Daniel Ricciardo é uma ameaça, mas e daí? (Foto: Getty Images/Red Bull Content Pool)

GP: Parece que o carro melhorou muito com as últimas atualizações. Como você avalia o desenvolvimento do carro?

YT: As atualizações que trouxemos em Austin, especialmente, pareceram ter funcionado para melhorar o ritmo, o que é bom. Então, temos atualizações que nos dão confiança, e elas foram importantes em todas as pistas. Acho que essa base nos elevou em direção ao top-10. A abordagem que tivemos em nossas atualizações foi definitivamente boa em comparação aos outros, o que nos deu certa vantagem, já que desenvolvemos o carro em praticamente todas as corridas. Nenhuma outra equipe fez isso. Mas eram atualizações pequenas, e nem todas funcionavam para nós — essa era a principal dificuldade. Mas, agora, conseguimos ter mais confiança após a evolução em Austin, o que é bom. É uma pena termos apenas três corridas pela frente, mas as evoluções funcionaram. Então, não estou preocupado com isso.

GP: Você teve muita consistência com companheiro de equipe nos primeiros anos da carreira, com Pierre Gasly. Esse ano, não só você foi o piloto que mais conhecia o carro, mas também teve três companheiros. Muda o trabalho?

YT: Não muda muito, não. Estou mais focado em mim e, no fim das contas, não importa que qualquer piloto venha ao meu time. Eles têm o trabalho deles para fazer e precisam se concentrar para que façam o trabalho bem. Eu conheço bem o carro. Estou realmente focado no feedback que posso dar para a equipe, o que eu sinto no carro e o que o time pode melhorar no carro. Mas os dois pilotos precisam entender o carro, e leva tempo para dar feedback claro para a equipe. São coisas nas quais eu me concentrei neste ano, especialmente, com a escalação de pilotos sendo instável: que eles pudessem pelo menos confiar em mim em termos de desenvolvimento. Quero ser esse tipo de piloto. E tenho uma meta clara em mim mesmo, do que preciso e quero melhorar. Não me afetou [a série de mudanças]. Claro que Daniel, Liam [Lawson] e Nyck são pilotos completamente diferentes, mas, sim, não tive dificuldades.

GP: Acha que ter três companheiros de equipe em três anos pode atrapalhar o desenvolvimento do carro?

YT: Acho que a equipe se sente mais confiante no feedback de Daniel. Ele tem muita experiência, dá para entender, tem muito conhecimento de times em que esteve sobre como trabalham, então o feedback dele é mais valioso, possivelmente, que o dos outros pilotos. Creio que é uma coisa boa, e eu estou também nessa direção. Daniel mostrou bom desempenho nas últimas duas corridas e que a equipe pode confiar nele também. Daniel é muito bom piloto e dá boas ideias para a equipe. É bom para a equipe e para mim, embora nós tenhamos estilos muito diferentes de guiar o carro e diferentes perspectivas, o que provavelmente não é muito fácil para a equipe. Mas faz o time receber muitas informações, dados e ideias de como evoluir e se desenvolver para o futuro. É uma boa dupla para a equipe.

(Entrevista por Pedro Henrique Marum e João Pedro Nascimento)

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