Conta-giro: ‘Estrela Solitária’ do Brasil na base da Indy, Franzoni trabalha até de mecânico para manter sonho vivo

Com enorme tradição na Indy, o Brasil teve apenas dois – veteranos – pilotos na temporada 2015 da categoria. E a perspectiva para os próximos anos não é das melhores: Victor Franzoni, da Pro Mazda, é o único brasileiro nas categorias de base da Indy e trava dura luta para levar adiante o sonho de chegar ao topo

Victor Franzoni é um dos bons nomes da nova geração do automobilismo brasileiro. Com 20 anos e atualmente na Pro Mazda – terceira divisão da Indy –, é o único do país nos campeonatos de base da categoria. Isso mesmo, o Brasil, tão tradicional na série de monopostos norte-americana, hoje tem apenas Helio Castroneves e Tony Kanaan na divisão principal, além de Franzoni na base.
 
Pouco conhecido no Brasil, o piloto daqui saiu em 2012, ainda com 16 anos, para começar a traçar seu caminho na F-Renault em terras europeias. Por lá, alguns bons resultados com a Koiranen, mas nada espetacular.
 
A carreira de Victor poderia muito bem ter caminhado na Europa e, em alguns anos, o brasileiro, quem sabe, estaria em uma ainda mais importante categoria de acesso à F1, como hoje estão alguns de seus rivais da época, como Esteban Ocon, Oliver Rowland, Nyck de Vries e Pierre Gasly. Entretanto, a falta de patrocínio acabou pesando e Franzoni precisou de uma categoria que fosse mais barata e trouxesse maiores benefícios imediatos. Aí, então, descobriu o Road to Indy e seguiu para a USF2000 – espécie de quarta divisão – em 2014.
 
“A oportunidade de correr nos EUA surgiu no fim de 2013. Eu estava na Europa, correndo de F-Renault. Quando acabou a temporada, ficou aquela indefinição normal de fim de ano. Como estava sem patrocínio, resolvi dar uma olhada nas opções fora da Europa. Das mais baratas que tinham, havia o Road to Indy. Além disso, lá, se você é campeão, garante uma bolsa para o ano seguinte, era a melhor opção naquela época. E deu mais certo do que eu esperava: chegando lá, consegui um patrocínio que me garantiu na temporada toda da USF2000 e ajudou bastante”, contou em entrevista ao GRANDE PRÊMIO.
Victor Franzoni venceu ainda pela USF2000 em NOLA (Foto: USF2000)
O primeiro ano de Franzoni na USF2000 foi de considerável sucesso. Com direito a uma vitória logo na estreia do campeonato em São Petersburgo e quatro pódios durante a temporada, o brasileiro fechou em quinto, anotando 202 pontos. 
 
Ainda assim, o piloto explica que teve certa dificuldade para se adaptar com o carro, mas não com o país e com a maneira de trabalhar dos americanos.
 
“Os EUA são muito diferentes da Europa. Mesmo assim, achei bem mais fácil me adaptar aqui do que lá. Na Europa, as equipes são muito mais rígidas, nos EUA a coisa é mais feita na base da amizade, um sempre quer ajudar o outro, é bem mais tranquilo. No fim, nem foi tão difícil de me adaptar. As dificuldades maiores eu encontrei no carro, que tinha muita coisa de diferente dos que eu guiei na Europa. Nada que uma semana de treinos não tenha resolvido”, comentou.
Victor Franzoni festeja o triunfo em NOLA (Foto: USF2000)
Em 2015, entretanto, as coisas se complicaram. Você deve estar se perguntando: “Como assim complicaram se o Victor foi da USF2000 para a Pro Mazda?”. Pois é. Franzoni, na realidade, acabou praticamente sendo obrigado a ir para a terceira divisão, pois sua equipe na USF2000, a Afterburner, ficou de fora de uma série de etapas, o deixando sem vaga no grid. Por sorte, uma vaga na Pro Mazda apareceu, mas o brasileiro teve de encarar a categoria superior sem a menor experiência.
 
“Eu fui meio que obrigado a ir para a Pro Mazda. A equipe em que eu estava na USF teve problemas, não conseguiu fazer algumas etapas do campeonato, então fiquei sem ter para onde ir. Aí, uma equipe da Pro Mazda me chamou através de um piloto expert, que é um cara veterano que te banca para correr no time em troca de coaching e ajuda na telemetria”, falou.
 
Segundo o brasileiro, que venceu sua segunda prova na USF2000 no ano e ainda fechou em 14º com dez provas a menos que os rivais, a ida para a Pro Mazda com a temporada em andamento não foi das mais tranquilas. Para ele, contudo, o desempenho não foi tão ruim assim. Victor fechou a Pro Mazda com o 16º posto na classificação geral.
 
“Eu sentei no carro e já estava correndo, sem treinar nunca. O começo foi ótimo, promissor, mas os problemas foram aparecendo e a gente começava todos os finais de semana com defeitos no carro. No fim, nos acertávamos, mas o problema é que perdíamos muito tempo nisso. Foram momentos complicados, mas acho que o resultado final acabou sendo bom. Poderia ter sido melhor, eu poderia ter feito um pódio, mas foi um primeiro ano bom”, avaliou.
Victor Franzoni oscilou na Pro Mazda em 2015 (Foto: Pro Mazda)

Indefinição para próxima temporada
 

Apesar de ter passado boa impressão em seus dois anos correndo nos EUA, Franzoni tem um futuro próximo bastante nebuloso. Sem patrocínio, o brasileiro admite que está distante de formalizar um acerto com uma equipe da Pro Mazda e chega até a cogitar correr de turismo já no ano que vem.
 
“Meu futuro ainda está bem complicado, não consegui arrumar nada para 2016, por enquanto. A ideia é continuar aqui nos Estados Unidos. Se tudo der certo, eu sigo na Pro Mazda, mas eu tenho olhado bastante para categorias de turismo. Hoje, estou bem longe de tudo. Com o dólar alto, nada de patrocínio e com as empresas daqui ajudando os pilotos americanos, a coisa complica. Tenho falado com muitas equipes tanto da Pro Mazda, quanto de GT. Vamos ver o que eu consigo para o ano que vem”, explicou.
Victor Franzoni teve sua estreia na Pro Mazda (Foto: Pro Mazda)

Dúvidas mais para frente

 
Com tantas dificuldades surgindo em seu caminho, Franzoni já reconhece que ir à Indy é um sonho distante e trata como sonho “pés no chão” conseguir viver de automobilismo.
 
“O meu grande sonho é chegar à Indy, mas, com os pés no chão, tudo o que eu quero é poder viver do automobilismo. Então, quero chegar em alguma categoria onde eu possa me firmar e, então, viver disso. É o meu objetivo mais próximo", declarou.
 
Questionado sobre a falta de brasileiros nas categorias de base da Indy, Franzoni tornou a falar do momento financeiro do país e revelou que tem trabalhado em diversas áreas do automobilismo para conseguir se sustentar nas pistas.
 
“A economia do Brasil está muito ruim, então, tudo o que você pensa em fazer fora do Brasil fica caro. A categoria aqui é barata, mas sair do Brasil está bem caro. Aqui nos EUA, estou trabalhando muitas vezes em equipes de kart, trabalho também de mecânico, faço muito coaching, só para viver aqui já está complicado, para correr, então, nem se fala. Quando eu cheguei aqui, em 2014, eram seis brasileiros do Road to Indy. Mas é difícil, a coisa aperta cada vez mais, o dólar está bem alto”, completou.
Victor Franzoni, que venceu a corrida 2 em Nova Orleans na USF2000, tem futuro incerto (Foto: USF2000)
Com os colombianos tomando de assalto a categoria principal capitaneada pelos ótimos Juan Pablo Montoya e Carlos Muñoz, o Uruguai tendo em Santiago Urrutia o campeão da temporada 2015 da Pro Mazda e o Brasil apenas com Castroneves e Kanaan na Indy, é cada vez mais possível que fiquemos atrás de nossos vizinhos no número de pilotos em cerca de cinco anos.
 
O cenário é terrível para um país que já tem cinco títulos da categoria e sete vitórias nas 500 Milhas de Indianápolis, mas o momento do automobilismo nacional e o financeiro, de fato, não são dos mais animadores para aqueles que querem, um dia, na Indy chegar.
 
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