O acidente que matou Wilson não foi nada convencional. Na hora, a maior preocupação era com Karam, que batera forte no muro. No entanto, a repetição mostrou o carro do britânico passando reto, logo após pedaços do bico da Ganassi do americano voarem na direção do #25.
A categoria, que tanto pensou na segurança quando projetou seus kits aerodinâmicos, descobria da pior forma que ainda teria de evoluir muito nesse aspecto para garantir a integridade de seus pilotos.
Foi o acidente de Newgarden, aliás, que mais botou pressão na categoria neste ano. Reconhecendo os riscos, o vice-presidente de engenharia da Indy Bill Pappas revelou pouco depois ao site norte-americano 'Motorsport.com' que a categoria já corre para descobrir a melhor solução.
"Não estou querendo escolher entre a cobertura ou o Halo, quero o que funcione melhor. Mas o Halo tem um conceito que me agrada, agora é refinar essa ideia. Eu gostaria de algo assim na Indy, mas não nessa versão. A gente tem de pensar que o Halo possivelmente atrapalharia em ovais, na formação das linhas. Precisamos ver isso", explicou na época do lançamento do projeto.
É bom lembrar que, ainda que seja a opção favorita da Indy,
o Aeroscreen foi rejeitado na F1 após
falhar nos testes de impacto, o que tende a exigir uma carga grande de desenvolvimento e testes do equipamento nos mais diversos tipos de pista da categoria norte-americana. Como a F1 vem fazendo com o Halo, é necessário que a Indy comece a usar treinos livres para aprimorar a novidade, já que a ideia de Pappas é ter a proteção o mais cedo possível, possivelmente em 2018.
A Indy gosta muito do conceito do Aeroscreen (Foto: Getty Images)
A última prova
Na última corrida que completou, Justin Wilson deu um show. Muito rápido e agressivo, o britânico podia até vencer em Mid-Ohio, mas pensou nas dificuldades da Honda em se acertar e na possibilidade dos japoneses saírem campeões da temporada 2015 com Graham Rahal. Assim, o gigante inglês preferiu evitar qualquer tipo de enrosco com o colega de montadora. O GRANDE PRÊMIO relembra a participação de Wilson em Mid-Ohio:
A largada de Wilson não foi nada de espetacular. Com a saída sendo autorizada com apenas metade do grid agrupado, o inglês já começou ficando um pouco para trás. Wilson superava, assim, apenas o companheiro Marco Andretti, mas perderia o lugar para o americano metros à frente.
Suas três primeiras voltas se resumiram a brigar com o companheiro, já cerca de 10s atrás do líder e pole Scott Dixon, mas herdando o 13º lugar com Charlie Kimball indo parar na brita após toque com Will Power.
A relargada da prova aconteceu na volta sete. Mais uma vez, Wilson reagiu melhor que Andretti e, assim como na largada, tirou o parceiro da frente, chegando ao 12º posto.
Na décima volta, Wilson começou a batalha que seria, mais para frente, pela vitória. Junto de Graham Rahal, o piloto da Andretti dava um show de arrojo, claramente com um carro bem acertado e focando em posições mais para frente no pelotão.
Justin Wilson fez grande corrida e ficou em segundo em Mid-Ohio (Foto: IndyCar)
Wilson foi o primeiro dos que mais para a frente estavam a fazer a sua parada. O inglês foi aos boxes na 12ª volta, voltando em 20º para a pista, cerca de 40s atrás do líder.
Na volta 15, o gigante voltava a aparecer com destaque. Wilson fazia a melhor volta provisória da prova: 1min07s083. No giro seguinte, se aproveitando de um pit-stop horrível da CFH, o inglês partiu para cima e passou com categoria por Josef Newgarden. Wilson já era 14º, com alguns pilotos ainda sem o pit-stop realizado.
A segunda bandeira amarela veio na volta 21. Em um toque entre Takuma Sato e Stefano Coletti, uma série de detritos ficou na pista. Wilson assumia, momentaneamente, a quinta posição com os pit-stops dos ponteiros.
A bandeira verde voltou a ser acionada na volta 26 e foi aí que Wilson fez, provavelmente, a manobra da corrida. Imediatamente superando Rodolfo González, o inglês não tomou conhecimento dos dois principais candidatos ao título na curva 6 e, por fora, passou nada menos que Rahal e Juan Pablo Montoya, já se aproximando de Tristan Vautier para brigar pela liderança provisória. Quem atrapalhava era Kimball, retardatário que aparecia exatamente entre os dois ponteiros.
Kimball foi para os boxes na 31ª volta, finalmente permitindo que Wilson apertasse o ritmo para cima de Vautier. De qualquer forma, o ritmo do francês impressionava, afinal, ele não havia feito nenhuma parada.
Vautier foi chamado pela Dale Coyne para os boxes na volta 33 e, então, Wilson finalmente assumia a merecida primeira colocação. Atrás do inglês seguiam nada menos que Montoya e Rahal, nesta ordem.
Graham Rahal e Justin Wilson conversam em Mid-Ohio (Foto: IndyCar)
Três giros mais tarde, Wilson voltava a cravar a melhor volta da corrida: 1min06s761 era o tempo do então líder.
O ritmo do britânico seguia impressionantemente bom. Sem correr riscos, Wilson virava 0s2 mais rápido que os rivais a cada volta e chegava ao 39º giro com 2s3 de vantagem para Montoya. Então, era hora de sua segunda parada.
O trabalho da Andretti foi regular, realizando o pit-stop em 8s3, 1s3 mais lento que o de Scott Dixon, por exemplo. Ainda assim, Wilson retornava à pista em décimo, entre Sébastien Bourdais e Tony Kanaan.
A primeira volta do novo stint não foi das melhores e o inglês acabou sendo superado pelo baiano da Ganassi. Com algumas paradas dos líderes, incluindo Montoya e Rahal, Wilson já surgia novamente entre os oito primeiros, mas atrás do colombiano que contou com um ótimo trabalho da Penske nos boxes.
O stint de Wilson realmente não era bom. Rapidamente, o #25 da Andretti acabou sucumbindo à pressão, tanto de Newgarden, quanto de Rahal. Wilson era sexto, com apenas Helio Castroneves e Kanaan em sua frente sem o segundo pit-stop.
Com as paradas dos dois brasileiros na volta 48, Wilson se tornava quarto colocado. Entretanto, seu momento era muito mais de se defender de Ryan Briscoe que atacar Rahal.
Na voltas seguintes do terceiro stint, Wilson continuou escoltando o top-3 e controlando bem o quarto lugar. Assim foi até a sua terceira parada, que aconteceu na volta 64, com a Andretti fazendo péssimo trabalho: 9s3 para ele.
Wilson voltava na 11ª posição, mas seria extremamente beneficiado com algo que aconteceria no final daquela volta: logo após Dixon e Kanaan terem feito suas paradas, Sage Karam rodou sozinho e causou mais uma bandeira amarela, o que gerou a ira em Montoya, que ficava com a prova totalmente comprometida. Na dele, Wilson ganharia uma série de posições no reposicionamento após os pits.
A relargada veio na volta 70 e foi aí a penúltima chance de vitória de Wilson. Com todos os primeiros colocados parando, o britânico só estava atrás de Rahal. O britânico até apertou o piloto da RLL, mas pareceu o tempo todo ciente de que seu colega de Honda estava na luta pelo título e, por isso, ficou bem atento para evitar um choque.
Rahal, Wilson e Pagenaud no pódio de Mid-Ohio (Foto: IndyCar)
O ritmo de Rahal começava a ficar melhor e o americano abriu quase 1s5 em três voltas. Wilson, por sua vez, seguia tranquilo em segundo, com a mesma vantagem para Simon Pagenaud.
Com dez giros para o fim da corrida, contudo, lá estava Kimball aparecendo de novo. Mais uma vez, o americano ia para a grama e causava a bandeira amarela. Wilson, que já estava quase 3s atrás de Rahal, ganhava nova chance em mais uma relargada.
A última relargada da corrida aconteceu com seis voltas para o final e, mais que da outra vez, Wilson foi para cima de Rahal.
Com push-to-pass sobrando – algo que não acontecia com Rahal – o inglês até chegou a colocar o bico na frente do adversário, mas o piloto da RLL conseguiu a preferência na curva e, novamente, o britânico não quis causar um problema interno na Honda. Rahal, é verdade, foi muito bem na defesa, mas ficou claro que Wilson teve o máximo do respeito com o colega de montadora.
O ritmo do britânico caiu um pouco nas voltas finais. Assim, Wilson teve de se contentar em evitar que Pagenaud o tirasse da segunda colocação. Rahal vinha muito mais rápido, em três voltas, a distância já estava em 3s.
No fim, Wilson realmente não conseguiu mais ameaçar Rahal, mas encerrava sua trajetória com uma prova marcante, um honroso lugar no pódio e colocando na conta uma ultrapassagem dupla marcante em cima de Rahal e Montoya. Mid-Ohio foi a comprovação das duas características mais marcantes que Wilson deixou: a de um grande piloto e de um cara extremamente respeitoso com os colegas.
Para Rahal, a vitória significou uma sobrevida na temporada. O piloto da RLL contava com o 11º lugar de Montoya para, assim, cortar para nove pontos a diferença na classificação geral.