Na Garagem: Hildebrand estampa muro na última curva e perde Indy 500 para Wheldon
Em uma das edições mais inacreditáveis de todos os tempos da Indy 500, em 2011, o novato JR Hildebrand deixou a vitória certa escapar na última curva, estampando o muro e vendo Dan Wheldon passar para triunfar, com 2s109 de vantagem
Indy 500 é sempre Indy 500, mas poucas são tão inesquecíveis quanto aquela que envolveu JR Hildebrand e Dan Wheldon. Sim, só pelo nome de Hildebrand o leitor já sabe que estamos falando de 2011, da 95ª edição da maior corrida do esporte a motor no mundo e que, neste sábado (29), completa seu aniversário de dez anos.
A prova foi marcada por uma das chegadas mais inacreditáveis de todos os tempos no automobilismo. Então novato, JR liderava tranquilo a corrida até a última curva, quando forçou uma manobra para cima do retardatário Charlie Kimball e estampou o muro, se arrastando até a linha de chegada com o carro destruído no segundo lugar, meros 2s atrás de Wheldon.
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Para entender como aquilo tudo aconteceu, vamos do começo: a Indy 500 2011 começou com Alex Tagliani, um espcialista em classificação em oval, largando na pole com a Schmidt, seguido por Scott Dixon, da Ganassi, que tratou de assumir a dianteira ainda antes da primeira curva. E foram os dois que se revezaram na primeira posição nas 60 voltas iniciais, com o neozlandês por lá a maior parte do tempo.
Nesse período, duas bandeiras amarelas aconteceram: a primeira com Takuma Sato encontrando o muro com sua KV. Logo na relargada, o companheiro do japonês, EJ Viso, tocou em James Hinchcliffe e foi mandado para a mesma parede da curva 1. No meio disso, Will Power fazia um pit-stop tenebroso que praticamente o tirava da luta pela primeira Indy 500 da carreira.
Dixon, Tagliani, Oriol Servià, Dario Franchitti e Wheldon ocupavam as primeiras posições na metade inicial da corrida, que ainda foi interrompida outras duas vezes: acidente de Jay Howard, na curva 1, e de Hinchcliffe, na 3, justamente quando a corrida superava 50% de sua duração.
Tagliani raspava o muro e abandonava, deixando a briga pelas primeiras colocações. Quando Ryan Briscoe e e Townsend Bell se acharam na volta 158, começou uma batalha também estratégica, com Franchitti e Hildebrand enchendo o tanque e tentando ir até o final, enquanto outros pilotos apostavam em mais uma parada ou nova bandeira amarela.
Só que a amarela nunca mais veio, o que tirava, aparentemente, pilotos como Dixon, Servià e Wheldon do páreo. Com 20 voltas para o fim, Danica Patrick liderava, mas se queixava de fortes vibrações nos pneus. Bertrand Baguette e Tomas Scheckter seguiam, com Hildebrand já em sexto, logo atrás de Franchitti.
Faltando 12 voltas, Danica já estava praticamente sem nada no tanque e se arrastava na pista ao ser superada por Baguette. Scheckter era mais um a desistir e ia aos boxes, promovendo Franchitti para terceiro, Hildebrand para quinto e Wheldon para oitavo.
Danica e Andretti desistiam juntos da saga por uma amarela e paravam dois giros depois, deixando Baguette como o único herói dos sem combustível, seguido por Franchitti, que parecia ter a vitória nas mãos. Hildebrand era terceiro, depois vinham Dixon e Wheldon.
Foi só quando faltavam três voltas que tudo pareceu conspirar para Hildebrand. Baguette não aguentou e parou, enquanto Franchitti despencou de performance e, também ficando de tanque vazio, tirou o pé. O americano virava líder com sua Panther e, com combustível bem controlado, era só não errar para vencer.
Mas errou, errou feio, errou rude, errou enormemente e na pior hora possível. JR foi passar o retardatário Kimball na última curva, sem qualquer necessidade, perdeu o carro e estampou o muro em uma das cenas mais dramáticas da história do esporte. O americano ainda se arrastou pele parede de concreto e cruzou a linha de chegada em segundo, mas, afinal, quem venceu?
Wheldon venceu. Do nada, o inglês da Bryan Herta saiu de quinto na penúltima volta para primeiro após a batida do rival e, depois de dois anos anos ficando no quase em Indianápolis, levou a Indy 500 pela segunda vez na carreira ao superar os rivais que foram praticamente estacionando sem combustível.
“Estou me sentindo perdido. Peguei ele [Kimball] na parte errada da pista, acabei pisando na parte suja da pista e deu no que deu. Só estou frustrado. Não é que eu vim achando que venceria, mas eu cometi o erro que nos custou tudo. Acho que é por isso que novatos não costumam ganhar aqui”, resumiu um desolado Hildebrand, que praticamente nunca mais teve destaque algum na Indy desde aquele 29 de maio.
Aquela foi uma vitória inesquecível para Dan, que perderia a vida meses depois em um acidente tenebroso no oval de Las Vegas. Um dos grandes da história da Indy, Wheldon se despediu de Indianápolis no melhor estilo possível.
“É claro que é uma pena por ele [Hildebrand], mas isso é Indianápolis. É por isso que a Indy 500 é o maior espetáculo do mundo no esporte a motor, ninguém nunca sabe o que vai acontecer. Só me sinto muito aliviado, é um sentimento incrível, eu nunca desisti”, falou o vencedor da corrida.
Dez anos depois da inacreditável corrida, o GRANDE PRÊMIO foi conversar com dois personagens envolvidos na disputa: Helio Castroneves e Tony Kanaan, duas lendas da Indy 500. O tema? A chegada maluca, a derrota de JR e a vitória de Dan. Para Helio, a memória é do choque que ficou o paddock de Indianápolis.
“Lembro que tive um dos meus piores anos na Indy, terminei fora dos dez primeiros e na Indy 500 foi a mesma coisa. Quando cruzei a linha de chegada, vi a bandeira amarela e os detritos na pista, mas não tinha entendido nada. Aí eu vi o Hildebrand parado na curva 1 e pensei que ele estivesse sem gasolina, fiquei com pena dele, fui para os boxes, tudo bem. Chegando lá, o pessoal foi me contar o que aconteceu e eu não conseguia entender como o Wheldon tinha vencido, como o Hildebrand tinha conseguido bater na última curva”, contou Castroneves em exclusiva ao GP.
“Quando vi o replay, fiquei sem entender: como o cara pode ter arriscado tanto na última curva estando mais de 5s na frente do segundo? No paddock, o que se falou no dia é que o pessoal do rádio estava tão animado que esqueceu de dar as instruções para ele, esqueceu de mandar ele ter calma, tirar o pé. Foi ali uma combinação da equipe, que ficou quieta, e dele, claro, que não soube usar o espelho e ver que ninguém estava perto. Isso gerou um momento histórico e que, infelizmente, vai marcar sempre a vida dele”, completou o paulista, que chegou em uma discreta 17ª colocação com a Penske, que sofria bastante na temporada e na Indy 500.
Kanaan teve outra realidade e até chegou a ter alguma chance de vitória nas voltas finais. O brasileiro da KV foi quarto, mas lembra bem de um enrosco com Wheldon poucos minutos antes da consagração do inglês.
“Lembro que faltavam umas dez voltas e ele [Wheldon] me passou puto porque eu dei uma segurada nele e ele estava mais rápido. Lembro que ele me mandou o dedo e, depois da corrida, quando fui cumprimentar ele, ele quis reclamar daquilo e eu mandei ele calar a boca, tinha acabado de vencer a Indy 500. E aí nos abraçamos, nós dois e o Dario Franchitti. Tenho várias memórias desse dia, mas, com certeza, essa é a mais forte, foi ali na hora”, disse ao GP.
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