Recorde de Ibope e embate com Globo: como Silvio Santos e SBT trataram Indy nos anos 90

Morto neste sábado aos 93 anos, Silvio Santos marcou época no SBT com a transmissão da Indy na 'era de ouro' da categoria no Brasil, nos anos 90. Ápice veio com narração histórica de Téo José na primeira corrida da história da classe no Brasil, em 1996

O mundo da comunicação perdeu um de seus maiores nomes neste sábado (17). Aos 93 anos de idade, Silvio Santos morreu após ficar internado desde o início do mês no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, devido a uma infecção pelo vírus H1N1. A primeira internação foi em 18 de julho, com alta dois dias depois, mas Silvio voltou ao hospital em agosto e teve a notícia do falecimento confirmada neste fim de semana.

De carreira extensa na comunicação, Senor Abravanel nasceu no dia 12 de dezembro de 1930, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro. Após adotar o nome artístico de Silvio Santos, lançou o Sistema Brasileiro de Televisão, mais conhecido como SBT, em 1981. E a história da emissora se confunde com a história do automobilismo dos anos 90 no Brasil — mais especificamente da Indy.

Aproveitando a lacuna de um piloto brasileiro vencedor na F1 por conta da morte de Ayrton Senna, o SBT entendeu que a Indy vivia uma época de expansão e incluía uma gama diferenciada de pilotos brasileiros. Entre eles, nomes jovens e promissores como Gil de Ferran, André Ribeiro e Christian Fittipaldi se juntavam a veteranos como Emerson Fittipaldi, Raul Boesel e Maurício Gugelmin.

As transmissões da Indy em TV aberta duraram de 1995 a 2000 no SBT, com o ápice na primeira corrida da história da categoria realizada no Brasil. No dia 17 de março de 1996, a modalidade — ainda sob a alcunha de CART — entrava no circuito oval do autódromo de Jacarepaguá para o que seria um dia histórico para a emissora com a Rio 400.

O pódio da Rio 400 de 1996 (Foto: Divulgação)

Naquele dia, nada menos do que oito pilotos brasileiros fizeram parte da estreia da Indy no Brasil: André Ribeiro, Gil de Ferran, Maurício Gugelmin, Emerson Fittipaldi, Roberto Moreno, Marco Greco, Raul Boesel e Christian Fittipaldi. Além deles, a prova contava com nomes como Alex Zanardi, Bobby Rahal, Al Unser Jr., Michael Andretti e Juan Manuel Fangio II.

No fim, a corrida resultou em um dia marcante para a história do SBT — e de Silvio. O auge da categoria no país terminou com vitória de André Ribeiro e recorde de audiência da Indy, que liderou o Ibope em transmissão comandada por Téo José.

Segunda emissora de maior audiência do país na época, o SBT aproveitou a explosão de pilotos brasileiros na categoria para trazer a Indy ao Brasil. Isso, algum tempo depois da ida de Nigel Mansell direto da Fórmula 1 para a modalidade, em 1993, atraiu o público brasileiro, que aproveitou a oportunidade não apenas de assistir aos pilotos do país, mas também a um campeão da principal classe do esporte — e que costumava rivalizar com Senna.

Se a Indy poderia ser considerada antes uma categoria periférica e vista com certo desdém por aqui, a presença de Mansell ao lado de outros pesos pesados como Emerson, Paul Tracy, Michael Andretti e Al Unser Jr. ajudou a mudar o patamar do esporte, que ficou cada vez mais interessante para os pilotos brasileiros. Era uma alternativa plausível e muito competitiva ao sonho caro e distante da F1.

Ida de Mansell para a Indy também ajudou a popularizar o esporte (Foto: Reprodução)

Depois de passar na Band e na TV Manchete, a Indy desembarcou no SBT em 1995 como forma de buscar mais pontos na briga por audiência contra a Globo. Silvio, então, decidiu investir forte nas transmissões, montou uma forte estrutura operacional e técnica e fechou uma equipe que incluía nomes como Téo José, Dede Gomez, Roberto Cabrini, Luiz Carlos Azenha e Antonio Pétrin.

A temporada, que foi de altos e baixos para o Brasil, terminou com três vitórias do país: Emerson Fittipaldi em Nazareth, André Ribeiro em New Hampshire e Gil de Ferran em Laguna Seca. Ainda que os resultados não tenham sido de grande destaque, serviram para fundamentar uma ascensão que se consolidaria a partir do ano seguinte. Com a audiência cada vez maior e a confirmação da primeira corrida em solo nacional, empresas do país passaram a estampar carros, macacões e capacetes do grid.

Após o ápice com a corrida no Rio de Janeiro em 1996, a Indy ainda viveu outros momentos de glória para o país enquanto era estampada nas telinhas do SBT. Christian Fittipaldi fez boa temporada em 1996 e terminou em quinto, mas sofreu grave acidente em 1997, na etapa de Surfers Paradise, e acabou substituído por Roberto Moreno.

Ainda em 1996, um momento contrastante de dor e glória nas 500 Milhas de Michigan. Depois de Emerson Fittipaldi atingir com muita força o muro ainda na primeira curva, ao ser tocado por Greg Moore, e precisar encerrar a carreira de forma competitiva, André Ribeiro cruzou em primeiro e conquistou sua última vitória na categoria.

Kanaan conquistou vitória histórica em Michigan, em 1999 (Foto: David Taylor)

Não parou por aí, porém. Depois de um ano insosso em 1998, sem grandes alegrias, Gil de Ferran venceu em 1999 em Portland, assim como Christian Fittipaldi em Elkhart Lake — seu primeiro triunfo na Indy. Por fim, Tony Kanaan coroou uma década histórica para o Brasil com uma vitória de tirar o fôlego em Michigan, suficiente para eternizar uma narração histórica de Téo José.

O curso da categoria na emissora passou a mudar no fim dos anos 90. Na ‘guerra’ dominical com a Globo, o SBT optou pela transmissão do ‘Domingo Legal’ para rivalizar com o ‘Domingão do Faustão’, o que relegou as corridas da Indy aos VTs. De qualquer forma, a emissora se tornou o estandarte da ‘era de ouro’ da modalidade no Brasil e marcou uma época histórica e que ficará marcada na enorme trajetória de Silvio Santos na televisão.

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