Bubba Wallace clama por fim das bandeiras confederadas na Nascar: “Tirem-nas daqui”
Único negro no grid da Nascar desde 1971, Bubba Wallace repudiou a presença de um dos símbolos mais racistas dos Estados Unidos no meio da categoria: a bandeira dos estados confederados: “É chegada a hora de mudar”, disse o piloto, que criticou a apatia de colegas que não se posicionam a respeito: “O silêncio de muitos deles vai além da frustração”
As várias manifestações nos Estados Unidos, que ganharam corpo ao redor do mundo para protestar contra o racismo e a violência policial que matou recentemente George Floyd, Breonna Taylor, Ahmaud Arbery e tantos outros negros também levaram o universo do esporte, à sua maneira, a se posicionar. No automobilismo, é verdade, são raros os exemplos de um posicionamento genuíno, e é preciso citar Lewis Hamilton, único negro na história da F1 e hexacampeão mundial, como esportista que não somente se pronunciou, mas se revoltou contra a inércia de colegas do grid a respeito. Na Nascar, a mais popular categoria dos Estados Unidos, Bubba Wallace é o único negro a fazer parte da competição desde 1971. Aos 26 anos, o piloto nascido no Alabama clamou pelo fim da presença, na categoria, de um dos símbolos mais racistas e nefastos do país: a bandeira dos estados confederados.
O pavilhão foi criado em 1861 para simbolizar a união de seis estados do sul do país (Alabama, Carolina do Sul, Flórida, Geórgia, Louisiana e Mississipi), agrários e escravistas após Abraham Lincoln, assumido abolicionista, ter vencido as eleições presidenciais em 1860. A chamada Confederação, formada pelos estados citados, proclamou ilegalmente independência, sendo acompanhada depois por Texas, Virgínia, Carolina do Norte, Arkansas, Tennessee e partes de Missouri e Kentucky, bem como territórios que hoje fazem parte do Arizona e Oklahoma.
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Os símbolos confederados, portanto, vêm desta época, numa situação separatista e escravista, sendo a bandeira o emblema que celebrou um autoproclamado estado que se rebelou para manter a escravidão.
E falhou. A 9 de abril de 1865, em Appomattox, na Virgínia, no meio do caminho entre as capitais da União e dos Confederados, Washington e Richmond, o General Robert Edward Lee se rendeu ao General Ulysses S. Grant. Uma rendição incondicional, já após a abolição da escravidão assinada por Lincoln dois anos antes.
A guerra acabou, mas os resquícios dela ficaram para a história. Em boa parte dos territórios que se rebelaram 150 anos atrás, há um orgulho confederado de pessoas cujos antepassados foram combatentes. Ou mesmo por pessoas que lembram a rebeldia como um heroísmo de um povo que enfrentou a morte e o ônus carregado junto por todo um futuro renegado pelo que acreditava.
Em vídeo divulgado nas suas redes sociais, Darrell ‘Bubba’ Wallace, piloto da equipe de Richard Petty e na Nascar desde 2017, deixou claro: o racismo não pode mais ser ignorado.
“Para nós, andar rápido não é nada estranho. Somos conscientes de que a vida pode passar rápido demais, mas agora é o momento de parar e refletir. O que aconteceu nas últimas semanas ressaltou o trabalho que ainda temos de fazer enquanto nação para condenar a desigualdade racial. As mortes de George Floyd, Breonna Taylor ou Ahmaud Arbery, junto a tantos outros no passado na comunidade negra, dilaceram nosso coração e não podem ser ignoradas por mais tempo”, disse.
“Esse processo começa por escutar e aprender porque entender o problema é o primeiro passo para resolvê-lo. Estamos comprometidos a escutar com empatia e com o coração aberto para ter uma educação melhor. Essa educação é o que devemos usar para mudar nossa nação, nossas comunidades e, o mais importante, nossas casas”, afirmou Wallace.
“Todas as nossas vozes fazem a diferença, não importa se sejam grandes ou pequenas. É nossa responsabilidade não estar calados. Temos um longo caminho pela frente. Nossas diferenças não devem nos dividir. Devemos nos unir para trabalhar juntos e contribuir com uma mudança verdadeira”, bradou o piloto.
Nascido em Mobile, no Alabama, Wallace falou também à emissora norte-americana CNN. E criticou a presença das bandeiras confederadas no meio da Nascar. “Meu próximo passo seria colocar fim à presença das bandeiras dos estados confederados. Não deveria haver nenhuma pessoa que se sinta incomodada por algo que viu. Ninguém deveria ficar incomodado quando chega a uma corrida da Nascar. Por isso, tudo começa com as bandeiras confederadas. Tirem-nas daqui! Não é lugar para isso”.
Assim como Hamilton na F1, Wallace criticou a inércia e o silêncio de muitos dos seus colegas no grid frente ao racismo e também sobre a bandeira confederada. “Tenho certeza de que tem muita gente de saco cheio disso e outras que empunham suas bandeiras dos estados confederados com orgulho, mas é chegada a hora de mudar. Temos de mudar isso. Há pouquíssimos pilotos dando sua opinião sobre este aspecto, mas o silêncio de muitos deles vai além da frustração.”
Wallace disse que pode “tomar o caminho de onde vim” caso os fãs da Nascar não concordem.
No domingo, o presidente da Nascar, Steve Phelps, reforçou o discurso por um mundo novo e também por uma Nascar nova e de tolerância zero diante do racismo. Recentemente, Kyle Larson, então piloto da Ganassi, perdeu todos os patrocinadores, foi suspenso pela categoria e demitido da equipe depois de ter proferido comentários racistas em uma corrida virtual.
“Nosso país vive momentos de dor, e as pessoas estão cansadas, com motivo, e pedem que sejam ouvidas. A comunidade negra e todos os afroamericanos têm sofrido em nosso país, e isso já foi longe demais antes de ouvirmos seus clamores por mudança. Temos de fazer melhor enquanto esporte. Temos de fazer melhor enquanto país”, clamou o dirigente.
“É tempo de escutar, de entender, de estar contra o racismo e as injustiças raciais. Pedimos aos pilotos e aos fãs que se unam nesta missão, encarar este momento como reflexão para entender que temos de melhorar enquanto esporte”, finalizou.
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