Coluna Power Stage, por Fernando Silva: WRC no Brasil? Melhor não (por enquanto)

Antes de trazer um evento como o Mundial de Rali, é preciso ajeitar a cozinha, estruturar minimamente o esporte por aqui. Trazer o WRC para cá em 2014 é dar um passo maior que a perna


Na última quarta-feira, uma notícia mexeu com os amantes e entusiastas do rali no Brasil. Gilles Spitalier, diretor e organizador do Rali do México, disse que há planos para levar o WRC (Mundial de Rali) ao Brasil em 2014. Na visão do empresário, a ideia é trazer o evento para um grande centro do país, e São Paulo é o destino mais provável.

A ideia de trazer o Mundial de Rali para o Brasil novamente não é nova. No fim de 2011, a rainha Michèle Mouton esteve por aqui para negociar o retorno da categoria, que não corre no país desde 1982. Michèle, aliás, ganhou aquela prova e será sempre lembrada por seus feitos na região de Campos do Jordão, onde foi realizada a etapa, ainda que bastante criticada pela falta de organização e por vários problemas.

Já se vão, então, mais de 30 anos da última passagem do Mundial de Rali pelo Brasil. De lá para cá, houve um grande crescimento, sobretudo político, econômico e social por aqui. Esportivamente, o Brasil também evoluiu e passou a receber competições de nível mundial, em várias modalidades. No entanto, para receber o WRC, por exemplo, acho que só isso não basta. É preciso muito mais do que crescimento econômico, social e até mesmo know-how para receber uma competição tão importante quanto o Mundial de Rali.
Ainda é muito cedo para trazer o WRC ao Brasil (Foto: BWRT)

Em dezembro do ano passado, fiz uma entrevista — publicada na Revista Warm Up — com Paulo Nobre, o Palmeirinha, antes de ele assumir a presidência do Palmeiras — que, diga-se, começa a reagir. Homem do rali, Palmeirinha tem respaldo para falar a respeito da situação do rali por aqui.

“Vamos analisar o cross-country e o rali brasileiro, o Campeonato Brasileiro de Rali. Você vê o grid. Na última etapa, correram apenas seis carros. Seis carros! Quando você escuta os comentários, a coisa não está muito próxima. Só sei que as coisas não parecem muito bem. Vejo o rali brasileiro na UTI, respirando por aparelhos, e eu acho que meus amigos que disputam o campeonato são todos heróis.”

Em tempo: a primeira etapa do Brasileiro de Rali neste ano, realizada em Canela, Rio Grande do Sul, contou com um grid bem mais forte, impulsionado muito por conta de competidores gaúchos. A temporada 2013 terá cinco etapas, sendo que a última será em Atibaia, em 9 de novembro.

Acho que é por aí. Antes de trazer um evento como o Mundial de Rali, é preciso ajeitar a cozinha, estruturar minimamente o esporte por aqui. É preciso dar aos pilotos e navegadores condições mínimas de contarem com um Campeonato Brasileiro forte, interessante e atraente para todos, inclusive para as montadoras e o público.

Trazer o WRC em 2014, antes de deixar a modalidade minimamente organizada por aqui, é dar um passo maior que a perna. Não adianta trazer para o Brasil uma categoria dessa magnitude se não for para deixar um legado, palavrinha tão em voga nos últimos dias.

Outra coisa que, sinceramente, me incomoda um pouco, é a insistência em trazer o WRC para São Paulo ou Rio de Janeiro, para um grande centro. Do ponto de vista de logística e do marketing, realizar o WRC no Sudeste pode ser viável, já que as montadoras, que são os pilares de qualquer esporte a motor, estão nesta região. Mas aí o apaixonado pelo rali ficaria de lado. Já até escrevi sobre isso uma vez no ano passado. Erechim, mais que qualquer cidade do Brasil, mereceria uma etapa do Mundial de Rali. 

Quanto ao restante do país, infelizmente ainda não há uma cultura de rali e, sinceramente, tenho grandes dúvidas se o esporte pegaria por aqui mesmo com uma etapa do Mundial. É preciso atrair, principalmente, a televisão, exibir o rali para o Brasil. Para que o WRC venha aqui para o Brasil, é necessário que haja um projeto concreto, sustentável e que permita um desenvolvimento real do esporte. Trazer o Mundial de Rali só para “inglês ver” não vale a pena, definitivamente.

Fecho novamente com as palavras do Palmeirinha para deixar claro que não me oponho ao Mundial de Rali por aqui, desde que haja um projeto de longo prazo para que o esporte seja sólido e atraente por essas bandas. “Torço para que o WRC venha ao Brasil, mas não a qualquer preço: que seja um sucesso e que seja para voltar todos os anos”.
 
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