20 anos após morte, Julio Campos se inspira e diz que “leva muito do irmão e ídolo Marco” na carreira no automobilismo

Julio Campos é irmão de Marco Campos, jovem piloto que morreu em 1995 depois de um grande acidente na última corrida da temporada da F3000 na França. O piloto da Stock Car lembrou da perda, se emocionou e revelou que ainda leva muito de Marco em sua carreira

Marco Campos foi uma grata revelação do automobilismo nacional nos anos 1990 e rapidamente se tornou uma promessa para o futuro. O jovem curitibano começou no kart por causa de um amigo e o que era apenas uma brincadeira acabou se tornando uma profissão ainda cedo, como costuma acontecer no automobilismo. E o piloto se consagrou no primeiro degrau do esporte a motor, com inúmeras vitórias e títulos em campeonatos sul-americanos, brasileiros, paulistas, paranaenses. A carreira meteórica logo o levou para a Europa, aos 18 anos. E foi pelas mãos da equipe Draco que Marco estreou na F-Opel em 1994. 
 
A primeira temporada foi desconcertante. Campos se mostrou bastante competitivo e fechou aquele ano como campeão. Um cartão de visitas de respeito para quem almejava a F1. A equipe de Adriano Morini, que já abrigara tantos outros pilotos brasileiros naquela década, havia decidido continuar com o jovem no ano seguinte, restava saber em que campeonato. 
Marco Campos morreu há 20 anos em um acidente na França (Foto: Divulgação)
A esquadra chegou a realizar testes com Marco com um F3, em tese o passo seguinte à F-Opel, mas um treino com o F3000 logo na semana seguinte mudou os planos. E Marco decidiu seguir com Morini em uma categoria mais veloz e à beira do Mundial. 
 
Porém, a experiência não foi das mais fáceis. O campeonato foi difícil, marcado por acidentes, apesar da estreia na quinta colocação no grid. Campos tinha nas mãos um chassi Lola, empurrado pelos motores da Cosworth. Só que o conjunto mais competitivo na época era o da Reynard. O melhor resultado foi um quarto lugar em Enna-Pergusa, depois de ter largado em 12º. Aí veio a última corrida da temporada, em Magny-Cours, na França, no dia 15 de outubro de 1995.
 
E um acidente na volta final da corrida francesa acabou por colocar fim à carreira promissora do curitibano. Depois de um toque com Thomas Biagi em uma disputa por posição, o carro de Marco levantou voo e foi bater uma barreira de concreto. O jovem ainda foi levado ao hospital em Paris, mas morreu dois dias depois devido aos graves ferimentos cerebrais. 
 
20 anos depois da perda de Marco, Julio Campos, atualmente um dos principais pilotos da Stock Car, revela que o irmão ainda é muito presente na vida de sua família. O filho mais velho leva o nome do primeiro ídolo no esporte a motor. Apesar dos quase seis anos que separavam os dois, Julio afirmou que lembra bem dos primeiros anos de kart de Marco, das conquistas e da aventura de ir correr na Europa, sem “grana ou experiência”.
 
A sua trajetória no automobilismo, claro, se confunde com a do irmão mais velho. Enquanto Marco tentava alcançar o topo do esporte, Julio já vencia campeonatos no Brasil, já representava patrocinadores importantes. Mas a inspiração vinha de Marco.
Julio Campos é um dos principais pilotos da Stock Car (Foto: Vanderley Soares/MF2)
“Na verdade, eu não lembro da minha infância antes de estar em kartódromos, sempre com a minha família ao lado. E Marco teve grande influência nisso, foi 100% por causa dele. Ele começou a andar de kart por quase de um amigo. E partir disso eu me lembro de estar sempre junto dele. Sempre torci muito ele, claro. Só que ele foi ganhando tudo e virou o meu ídolo e ainda era família. Na época, para mim, não havia ninguém que chegasse perto dele. E fui acompanhando todos os pilotos daquela época que foram chegando à F1, à Indy, mas, para mim, era primeiro o Marco e, depois, o resto. É claro que, por ser meu irmão, era mais ainda. Além disso, os resultados dele sempre foram muito expressivos. Ele venceu muitos campeonatos no kart”, afirmou Campos ao GRANDE PRÊMIO.
 
Demonstrando grande admiração, Campos lembra com detalhes da carreira do irmão. Disse que achou cedo o passo tomado depois da F-Opel, mas reiterou que a decisão foi do irmão. “Quando ele foi para a Europa, foi difícil. A gente não tinha a grana que muitos tinham e ele também não tinha milhões de quilômetros de experiência. Mas ele foi campeão neste primeiro ano. Então, foi um negócio impressionante e gerou grande expectativa no país, era uma revelação”, contou. 
 
“No ano seguinte, a Draco resolveu entrar para a F3000 e eles compraram o chassi Lola para aquele ano, porque na temporada seguinte todas as equipes usariam o Lola. Então, eles já queriam que ele se adaptasse a esse carro. Quer dizer, como eles não sabiam como seria esse carro ou se eles poderiam obter resultados expressivos, eles acabaram usando o Marco como cobaia, até para na temporada seguinte poder ter nas mãos um carro competitivo. E pronto para disputar um título. Eu acho que a ideia foi um pouco precipitada, porque o Marco tinha um ano só de fórmula e era um carro que não era tão bom quanto o dos demais. Mas a escolha foi dele”, completou o piloto. 
 
“Eu lembro que ele fez um teste com um F3, que era bem parecido com um F-Chevrolet na época, mas um pouco mais rápido, claro. E, na semana seguinte, o colocaram para andar de F3000. Aí ele ligou para casa e falou: ‘Eu não quero andar naquela porcaria de F3 de jeito nenhum’”, acrescentou Julio.
 
A aventura durou apenas aquela temporada, mas deixou marcas profundas e incuráveis. “Aquele ano, na verdade, foi bem difícil, cheio de altos e baixos. E aí veio o fim do campeonato e aquela fatalidade, que ainda é inexplicável para a minha família. É claro que hoje todos nós já assimilamos tudo isso, mas a gente ainda sofre. Quer dizer, ainda hoje é uma coisa bastante complicada para a minha família. E nós temos um Marco em casa, o meu filho chama Marco, que é uma homenagem a ele também.” 
 
“Na verdade, o Marco é muito presente na nossa família. Na minha casa, na casa dos meus pais, nós temos fotos, pôsteres dele, troféus, a sala dele. E espero levar isso comigo, dentro do esporte, enquanto eu correr”, afirmou Julio, sem esconder a emoção.
 
Difícil de aceitar 
 
Não foi um período fácil, lembra Campos. A família demorou em assimilar a tragédia, compreensivelmente. E o acidente na França acabou também por determinar a maneira como Julio teve de lidar com a própria carreira. Na semana seguinte, o garoto já estava de volta ao kart “ou não voltaria mais”. Não se arrepende e não guarda mágoa. 
 
“A minha mãe não queria mais que eu corresse. Isso também afetou meu pai psicologicamente. E durou muito tempo mesmo, quase uns três ou quatro anos. Então, foi bem difícil para nós assimilarmos tudo. Foi bem difícil do meu pai aceitar o que aconteceu. Ele sempre foi um pai muito presente, sempre fez muito pela gente. Era até demasiado, mas, na parte profissional, ele não conseguiu mais levar como fazia com o Marco. Na verdade, ele não tinha mais cabeça e ficou sem chão mesmo. E eu tive de trilhar o meu caminho, muito com ele no meu pé, mas muito mais por preocupação. Essa coisa do Marco ficou muito forte dentro da casa”, finalizou Campos.
 
Julio seguiu de fato uma carreira de sucesso. Também foi um dos principais pilotos de kart do Brasil, andou na F-Renault, na Sul-Americana e foi campeão da Skip Barber em 2001. Está na Stock Car desde 2006 e já possui duas vitórias.
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