Caso dos comissários repercute entre pilotos da Stock Car, que fazem coro por CBA mais profissional

O GRANDE PRÊMIO ouviu os pilotos para saber como repercutiu entre eles o caso dos comissários da CBA e as suspeitas de manipulação de resultados contra Cacá Bueno. Mesmo com discursos em tons diferentes, foi possível encontrar pontos em comum na fala deles

Indignação, surpresa, tristeza, chateação — foram diversificadas as reações dos pilotos da Stock Car a respeito do escândalo que estourou no início da semana.
 
O jornal ‘Folha de S.Paulo’ revelou — com destaque na capa, inclusive — conversas de WhatsApp trocadas por comissários técnicos da CBA que sugeriam intenção de prejudicar o pentacampeão Cacá Bueno, com Thiago Camilo também sendo citado. “Os mais chatos”, dizia uma das mensagens.
Cacá Bueno é o alvo principal da polêmica, mas não quer ficar marcado como a vítima da polêmica. Para ele, a vítima precisa ser o automobilismo brasileiro (Foto: Bruno Terena/Red Bull Content Pool)
Isso, claro, a poucos dias da abertura da temporada, que acontece neste domingo em Curitiba. O GRANDE PRÊMIO aproveitou a ocasião para sentir qual a percepção que os pilotos tem da situação.
 
Uns falaram, outros não. Uns mais políticos, outros nem tanto. Embora cause certa aflição saber que resultados podem ser manipulados por comissários, o que seria motivo para revolta e maiores manifestações, há também o medo de represálias. De bater de frente e, por isso, tornar-se também um alvo no futuro. Além daqueles que temem simplesmente o fato de se complicarem diante de patrocinadores.

Apesar das diferenças no tom do discurso, a palavra "profissional", com suas derivações, foi recorrente nas declarações. Principalmente com relação à CBA, mas destacando também o caráter da categoria em sim.

"A Confederação é falha em vários pontos, como o controle de seus comissários. E, sim, eu acho que a CBA precisa se profissionalizar, mas o que aconteceu ali não tem nada a ver com isso. De qualquer forma, os comissários e fiscais precisam se preparar melhor e não é de agora que eu digo isso Mas nada disso me surpreendeu. Não me surpreendeu. E eu não confio na CBA, mas isso também não é uma surpresa para eles. O maior atingido é o automobilismo, mas eu vejo uma luz no fim do túnel", falou Cacá ao GRANDE PRÊMIO.

“Acho que é um divisor de águas porque, de fato, o que a gente tem de aproveitar neste momento é fazer com que a CBA profissionalize os comissários, talvez trazendo algum piloto, alguém que tenha o ponto de vista de quem está dentro do carro, que às vezes tem uma visão diferente de quem está de fora”, sugeriu Camilo.

Thiago Camilo também foi citado na conversa dos comissários (Foto: Marcus Cicarello)

A comissão de inquérito criada pela CBA também foi citada.

O assunto como um todo continuará sendo tema de reportagens do GP e do GRANDE PREMIUM ao longo dos próximos dias.

 
Confira as declarações de alguns pilotos do grid da Stock Car:
 
Rubens Barrichello
 
Essa análise tem de ser feita muito friamente. Antes de tudo, é preciso ter todas as informações para falar alguma coisa. De qualquer forma, o Brasil passa por uma revolução, que é parecida com a que a gente sofre no automobilismo. Eu, quando cheguei no Brasil, tentei falar alguma coisa que eu achava um absurdo, como um guard-rail em uma pista que parecia o mesmo guard-rail de quando eu corri de F-Ford em 1989, e os caras disseram que era o mesmo. Isso, sim, é um absurdo e que precisa ser mudado. E essa associação dos pilotos é a melhor chance que temos de fazer uma revolução no automobilismo também. O que aconteceu é pejorativo? Bom, a gente pode olhar pelo lado vazio do copo e dizer que é pejorativo, mas eu acho que é vantajoso porque aí a gente vai a fundo nos problemas, que é a nossa grande chance de mudar o automobilismo para mim, agora, e quem sabe para os meus filhos no futuro. Mas se a gente não fizer nada agora a gente vai ver o mesmo automobilismo no futuro com aquele mesmo guard-rail que eu corri em 1989.
 
Eu acho que o que a gente precisa é profissionalizar, é muito amador. Não podemos ter uma pessoa que a apaixonada pelo automobilismo e que venha gerir o nosso fim de semana. A gente precisa é de escola. Precisa de um ensinamento. E o nosso planejamento é esse a partir dessa associação. Na minha visão, a gente precisa profissionalizar a CBA, para ter um ganho maior. E também para que a gente possa cobrar depois.
Popó Bueno é um dos pilotos mais experientes da Stock Car atual (Foto: Vanderley Soares)
Popó Bueno
 
Eu tenho duas opiniões. É uma só, mas se separar o lado profissional, do colega de categoria, do lado irmão, são duas. Para usar o termo que o Cacá usou, que tem nojo do que aconteceu, é mais ou menos assim que eu me sinto também, porque envolve tanta coisa… Dedicação de pilotos, patrocinadores, equipes. E manipulação de resultados em esporte profissional, pelo menos do que eu vejo aqui e fora, é caso de polícia. São coisas que para mim tem que ser averiguadas e tem que se ir a fundo.
 
E pelo lado irmão, acompanhei muito a carreira do Cacá, e nesse período que está se falando, eu o vi sofrendo. Ganhava corrida: a gente chegava em casa, olhava na internet e estava ‘Cacá Bueno desclassificado’. Eu realmente o via sofrendo. Era uma desconfiança que a gente tinha, uma conversa que a gente tinha internamente, falava e ninguém dava ouvido. Fica aquela coisa chata de ‘o choro do filho do Galvão’. Com isso se comprovando, é mais um alívio do que uma indignação, porque para ele isso estava muito claro. Para mim também. De repente, para outras pessoas não.
 
É importante não generalizar a CBA e todos os comissários. Por enquanto, o que apareceu é de uma coisa muito pontual entre dois comissários. Se aparecer mais coisa, a gente pode falar de outro também. Mas existem profissionais competentes dentro da categoria, então acho que é super importante não generalizar a classe.
 
Átila Abreu
 
Todo episódio dessa maneira é triste, prejudicial. Nunca é bom ter esse tipo de notícia dentro do esporte. Da minha parte, todo mundo sabe que eu sempre briguei por uma categoria mais justa, que todos tenham igualdade na hora de competir. O regulamento é muito claro, que a regra seja igual para todo mundo e que vença quem fizer o melhor trabalho. A gente vê muitas categorias seguindo esse caminho. Tênis, futebol americano, elas têm o replay, estão pensando em pôr no futebol. O que é isso? Existe uma igualdade. Tem os críticos, mas eu sou a favor que um ponto que não foi ponto não pode ser considerado porque pode modificar o placar final. Essas coisas. Esse episódio, obviamente que a notícia que saiu é grave. Espero que não tenha mesmo esse tipo de interferência. Foi criada uma comissão para analisar, e que sejam apurados os fatos. A grande lição que tirou pode sair disso é que, após esse episódio, a Stock Car cresça profissionalmente. Tem muitos pilotos que vivem disso, equipes e mecânico, os próprios comissários, federações, estruturas. É importante que a gente saia do episódio com um saldo positivo. Quanto aos fatos, não sou a pessoa para julgar. Espero que a comissão faça bem esse trabalho. Se não tiver esse saldo positivo, será só uma mancha para todos. Aí, não é benéfico para ninguém.
 
Ricardo Zonta
 
É muito difícil dizer como isso tudo saiu, se foi como um boato, uma sacanagem ou algo para o bem do esporte. Então, precisamos entender o que aconteceu. Quer dizer, se tem um erro, é aí que vamos ver o que tem de melhorar. É difícil julgar. Mas agora… Queira ou não queira será investigado e teremos de ver até onde está a verdade em tudo isso. Gostei da criação da Comissão de Inquérito, é muito importante mesmo.
 
Sérgio Jimenez
 
A gente fica chateado com o que estava ali. Não dá para saber se houve manipulação real. Eu não sei, não tenho prova disso. Você vê que, nas mensagens que se lê, dá para perceber que é num tom de brincadeira, que tem risadinha e tudo, como em um grupo de amigos. Mas acho que, no alto profissionalismo da categoria, não poderia haver esse tipo de brincadeira dentro de um grupo de comissários que pode definir realmente um título ou uma corrida. Realmente não é justo, não é certo o que aconteceu. A CBA diz que abriu um inquérito para poder investigar, e precisa ser investigado mesmo, para verificar se houve esse tipo de manipulação, esse tipo de coisa que falaram no grupo deles. É realmente investigar. A gente fica chateado porque trabalha, luta, corre atrás, é tão difícil estar na categoria e no automobilismo, e aí você lê um negócio daquele… E quem está diretamente atingido, como é o caso do Cacá, vai ficar pê da vida com razão. Ninguém ficaria feliz. Tem que abrir para saber se houve algum tipo de manipulação ou não.
 
A gente fica com um pé atrás, né? Quem não ficaria. Será que tudo está sendo visto? Que não tem o dedo de alguém? Se a gente ficar pensando deste jeito, ninguém consegue concentrar para fazer o trabalho. Então a gente nem pensa muito. Foi bom que veio à tona para a gente tentar limpar e deixar as coisas mais claras e redondas.
O campeão de 2010, Max Wilson, também falou a respeito do tema (Foto: Rodrigo Berton/Grande Prêmio)
Max Wilson
 
Na verdade, eu não acompanhei bem a fundo e, pelo que eu entendo, ainda está tudo bem prematuro. A situação toda ainda será investigada. Creio que os comissários citados serão questionados. Agora, acho que devemos esperar para ver o que vai acontecer, para aí então ter algum tipo de opinião com mais propriedade. De qualquer forma, isso não é uma coisa agradável. Não é bom para nós, independente do que for provado. Não é uma coisa legal para o esporte. Agora teremos de esperar e, se a CBA entender que tem de punir alguém, que puna. E prestar contas para quem está envolvido com o automobilismo.
 
Eu, pessoalmente, nunca vi um comissário punir ninguém para prejudicar ou beneficiar outro. O que eu vi nos últimos anos, e isso não tem nada a haver com isso, foram muitos erros, com diversos pilotos. Mas esse é um momento, principalmente para a CBA, tomar atitudes para que isso não volte a acontecer no futuro. E investir mais no treinamento dos comissários, em termos de postura e tudo mais. Sempre podemos melhorar.
 
Julio Campos
 
Muito estranho tudo isso. A gente já vê tanta corrupção no nosso país e a gente nunca imagina que pode ter dentro do nosso esporte. Todo mundo aí dando a vida, fazendo de tudo para trabalhar, para entregar algo bacana para os fãs e para o esporte e de repente vê um caso em que alguns comissários alteraram um resultado só por não gostar de um piloto, é muito triste. Para a gente, não tem graça nenhuma. Isso não tem cabimento. Espero que, se for comprovado o caso, essas pessoas nem passem mais perto do nosso automobilismo.
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