Em busca de novas ideias, diretor da Stock Car visita DTM: "Tem muitas coisas para levar ao Brasil"

Maurício Slaviero compareceu pela primeira vez a uma etapa do DTM neste fim de semana pensando em ver o que é possível "adaptar à realidade brasileira". Nisso, os carros da categoria alemã não se encaixam, mas o dirigente destacou o envolvimento das montadoras, a estrutura do evento e o show para o público

 

Durante a etapa de Norisring do DTM, que aconteceu no último fim de semana, uma figura importante do automobilismo nacional marcou presença no paddock alemão. Com uma câmera fotográfica na mão e observando o que tinha ao seu redor, Maurício Slaviero, diretor-geral da Vicar, compareceu pela primeira vez a uma corrida da categoria, um dos principais campeonatos de carros de turismo do mundo.
 
"Estou conhecendo para ver o que é possível adaptar à realidade brasileira", afirmou.
 
O comandante da Stock Car aliou a brecha no calendário do automobilismo no Brasil à possibilidade de acompanhar um dos principais eventos da temporada do DTM. Montado nas ruas da cidade alemã de Nuremberg, o circuito de Norisring recebeu 126 mil pessoas entre sábado e domingo.
 
Quem ficou nas arquibancadas viu carros na pista todo o tempo: a programação contou não apenas com o DTM, mas também com a F3 Europeia, a Porsche Cup Alemã e a Copa Volkswagen Scirocco. Aqueles que compraram ingressos para a visitação aos boxes e ao paddock puderam caminhar pelo grid de largada, ver carros e pilotos de perto e se divertir com inúmeras atrações e shows – no sábado, músicos se apresentaram até depois das 20h na parte de trás dos boxes.

Maurício Slaviero é o diretor-geral da Vicar, empresa que promove a Stock Car (Foto: Divulgação)

O que importa é o show do domingo
 
É essa parte do entretenimento que Slaviero acredita ser possível implantar no Brasil. "Os carros são fora da realidade do Brasil. São carros maravilhosos, mas muito caros. Mas, com relação ao evento, tem muitas coisas para levar. O evento aqui está lotado. É muito legal a maneira como eles trabalham", destacou o executivo em entrevista ao GRANDE PRÊMIO no grid minutos antes da largada para a quinta prova da temporada 2013.
 
Slaviero ressaltou, porém, que um fator que dificulta a montagem de estruturas semelhantes às do DTM é a falta de espaço dos autódromos brasileiros. "As áreas para você montar as estruturas que eles montam aqui são limitadas [no Brasil]", disse.
 
Apesar de ser um circuito de rua, o Norisring possui espaço de sobra. A pista fica em um enorme parque na zona sul de Nuremberg que estava sendo construído pelo Partido Nazista para seus congressos anuais, mas a obra não foi concluída por causa da Segunda Guerra Mundial. O paddock e a reta dos boxes passam por dentro de um extenso campo de zepelins no qual Audi, BMW e Mercedes não apenas estacionam motorhomes, mas levantam enormes estandes que utilizam para relacionamento com clientes e exposição de produtos para o público. Outros patrocinadores, como a gigante dos transportes Deutsche Post, a Hankook, fornecedora de pneus, e a Volkswagen têm seu espaço garantido.
 
De tudo o que viu, Slaviero citou o que lhe pareceu ser mais fácil introduzir na Stock Car. "Uma coisa muito legal são esses shows que eles fazem na hora da visitação. Levantam um palco não muito grande no fim do pit-lane, com uma música muito legal e, na hora da visitação, isso está entretendo o público, que gosta bastante", exemplificou.

Público encheu as arquibancadas em Norisring (Foto: DTM)

"Outra coisa é um monte de opções de entretenimento que eles têm aqui em volta. Diversas brincadeiras, coisas menores que você consegue fazer. O clube local de automobilismo tem um carro em que você entra e ele te mostra a sensação de quando você capota. São detalhes assim, coisas bacanas que são legais e que dá para fazer em um espaço pequeno", continuou.
 
Slaviero ainda afirmou que, o mais importante, é valorizar o domingo, pensamento que é o mesmo da direção do DTM, com quem ele também se reuniu durante o fim de semana. "Conversei com eles um pouco, tentando aprender, tentando entender como que eles fazem", contou.
 
"Eles realmente pensam no show do domingo. Isso aqui que é o importante, o que a gente está vendo agora", falou apontando para o ambiente ao redor: a arquibancada lotada e o público caminhando por entre os carros. "Os treinos, para o público, não são tão importantes. O DTM tem uma hora e meia de treino no sábado e ponto final, mais nada".
 
Tudo, graças ao envolvimento de Audi, BMW e Mercedes. "Esse evento é do tamanho que é, em grande parte – o que o próprio pessoal do DTM me falou –, em função do envolvimento das montadoras. Isso ajuda muito e é um trabalho que a gente precisa fazer muito forte no Brasil, para trazer as montadoras", avaliou.
 
A questão financeira e a disparidade nos preços dos carros
 
Sobre as conversas que teve com o comando do DTM, Slaviero também destacou a preocupação com os gastos. "Com esse investimento gigante das montadoras, eles só têm treino no sábado e corrida no domingo". Os pilotos da categoria alemã possuem menos tempo de pista nos finais de semana de corrida do que a Stock Car, que também anda apenas nos sábados e domingos desde 2013, mas realiza uma sessão de treinos a mais. "Foi uma conversa boa neste aspecto", definiu o brasileiro.
 
Recentemente, o DTM firmou acordos com o Super GT, no Japão, e com a Grand-Am, nos EUA. O plano é levar os carros introduzidos em 2012 à terra do sol nascente e criar uma versão norte-americana do DTM.

Um acordo semelhante, no entanto, não interessa à Stock Car, "especialmente pela questão dos custos".

Slaviero está satisfeito com a atual geração dos carros da Stock Car (Foto: Duda Bairros/Vicar) 
"Seria maravilhoso, mas tem a questão dos custos. O carro do DTM custa de € 800 mil a € 1 milhão, quase R$ 3 milhões. O Stock Car custa R$ 350 mil, R$ 500 mil, quase 15% do valor. E o orçamento para manter o carro e colocá-lo na pista também é muito grande", ressaltou. "No futuro, quem sabe? Com a economia brasileira, com as coisas mudando. Mas, para os próximos cinco, seis anos, é inviável".
 
Além disso, Slaviero está satisfeito com a atual geração de carros da Stock Car. "O importante é o público ter uma sensação bacana do que ele está vendo na pista. E isso a gente tem na Stock Car, com os carros que a gente tem lá. Um carro seguro, rápido e que transmite esportividade e agressividade", exaltou.
 
Por que Norisring?
 
"É uma pista de rua e eu queria saber como que eles fazem a montagem de uma estrutura toda na rua. Não só a parte do show, mas a pista em si", justificou Slaviero, perguntado sobre o motivo da escolha pela etapa de Norisring.
 
Acompanhado do piloto brasileiro Augusto Farfus Jr., Slaviero caminhou pelo traçado de 2300 metros para analisar de perto todo o trabalho. "Fui junto com o Augusto olhando detalhes da zebra, do guard-rail, do alambrado, barreira de pneus, esses detalhes para a gente tentar adaptar alguma coisa ao Brasil, que eu acho que é interessante".
 
O calendário da Stock Car possui dois circuitos temporários: Salvador e Ribeirão Preto.

O evento de Norisring é um dos pontos altos da temporada (Foto: DTM)

Opinião
Andando pelo paddock, as enormes estruturas montadas por Audi, BMW, e Mercedes chegam até mesmo a ofuscar o que acontece na pista – o que não é tão positivo. Tudo gira em torno dessas três montadoras. No fundo, o campeonato conta com três grandes equipes e tem um jeitão um tanto corporativo.
 
Mas é uma via de mão dupla. De fato, o DTM é o que é por causa do envolvimento das montadoras e elas produzem uma competição que, dentro da pista, é sensacional. A corrida deste domingo foi excelente, empolgou da primeira à última das 83 voltas. Talvez o corporativismo fosse mais diluído se mais marcas estivessem envolvidas – como no WEC -, mas, enfim, é algo que acaba sendo necessário.
 
E, ao meu ver, esse envolvimento maior de montadoras é algo que faz falta na Stock Car. Os carros contam com bolhas do Sonic (Chevrolet) e do 408 (Peugeot), mas, no fundo, as fabricantes pouco aparecem. Todos os bólidos são praticamente idênticos, é difícil para o público diferenciar e até mesmo escolher alguém para torcer – na Alemanha, Audi, BMW e Mercedes têm suas torcidas que vão com camisetas, bonés, bandeiras, bandeirolas e o que mais for possível.
 
Com relação às atrações para o público, realmente falta espaço nos autódromos brasileiros, mas dá para fazer um pouco mais. Não precisa ser nada extraordinário. Coisas simples que estimulem o gosto dos fãs pelo automobilismo já bastam. Barracas/lojas com miniaturas, camisetas e outros produtos ligados ao esporte, atrações como as citadas por Slaviero, sorteios, e, claro, preços acessíveis. No Brasil, o futebol, que é o esporte número 1, não sobreviveria com preços exorbitantes. O automobilismo é caro, sem dúvida, mas fica difícil atrair públicos maiores se os preços estiverem salgados.

Chamada Chefão GP Chamada Chefão GP 🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias do GP direto no seu celular! Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.