Coluna Warm up, por Flavio Gomes: Frank

Não dá para se contentar com um pontinho por ano. Tenha dó. Seu time e sua história não condizem com a derrota. Não deixe que colem o selo de decadente naquilo que você construiu. Pense grande, como você sempre foi

Devo chamá-lo de “Sir”? 
 
Não, vamos deixar essas formalidades de lado. 
 
Muito bem. Já estamos sabendo do Felipe e tal. Sua história com pilotos brasileiros é muito rica. Em tudo. Sucesso, tragédia, mediocridade. Por mediocridade, não me entenda mal, nem ofensivamente. Também não sei se escolhi a palavra certa. Uso mediocridade no sentido de nem bom, nem mau. Na média. Opaco, quase irrelevante. 
 
Com Piquet, aquele final dos loucos anos 80 foi riquíssimo. Teve sucesso e tragédia, também. Era Nelson que estava atrás do seu carro quando aconteceu aquele acidente que mudou sua vida, na volta de Paul Ricard. Foi em 86, primeiro ano dele na equipe. Você é um bravo. Não é qualquer um que consegue tudo que você conseguiu na vida depois de algo tão grave e doloroso. 
 
Piquet não foi seu primeiro brasileiro. Você alugou um carro a Luiz Pereira Bueno uma vez. E teve o Moco. Seu time ainda não se chamava Williams. Você era um garagista, começo dos anos 70. Menos de dez anos depois, já como Williams, ganharia o primeiro título com o gorducho Alan Jones e a grana dos árabes. Um desbravador, você. Foi buscar os petrodólares para dar o salto gigantesco que deu. Até a empresa da família Bin Laden patrocinou seu time. Um desbravador.
 
E depois veio o segundo, com Keke, e seu time virou grande de vez. Enorme, eu diria. Um pouco mais tarde, a terceira taça, com Piquet. Seu primeiro brasileiro campeão, aí sim. Que campeonato aquele de 87, não? No ano anterior, vocês perderam porque eram doidos, alimentaram uma disputa interna que só ajudou Prost. O francês adorou. Prato cheio para um cara como ele ver dois monstros como Piquet e Mansell se comendo no box vizinho. Ele deve ter dado muita risada. 
 
Nos anos 90, porém, não teve pra ninguém. Campeão em 92 com Mansell, em 93 com Prost, em 96 com Hill, em 97 com Villeneuve, a parceria com a Renault que era quase imbatível, o desenvolvimento tecnológico assustador, aquela suspensão ativa era de matar neguinho do coração, o investimento pesado em engenharia pura, depois a parceria promissora com a BMW, mas aí, em algum momento, a coisa desandou. Talvez porque você não tenha querido vender a equipe aos alemães, talvez por acreditar que pessoas, mais do que dinheiro, seriam o suficiente para seguir grande.
 
Bem, Frank, grande sua equipe é. Empresa forte, sólida, respeitada. Mas acabaram os resultados. Neste século, Frank, sua equipe ganhou só 11 corridas. Onze. Só neste ano, o Vettel ganhou nove. Aí é osso. Ossada de dinossauro, como diz uma amiga minha da comunidade. Não peça para traduzir, vai ser difícil compreender. Vamos mudar: aí é dose pra leão. E se não fosse aquela zebra de Barcelona no ano passado, você estaria sem saber o que é uma vitória desde 2004. Quase dez anos, Frank. Não combina com você, nem com sua gente.
 
Vamos pular a tragédia maior, a de 94. Ninguém gosta de falar muito sobre isso, compreendo. Depois de Senna, mais brasileiros defenderam suas cores. Pizzonia, em algumas corridas, depois Barrichello e depois Bruno, o sobrinho. Foram os anos da mediocridade que eu estava falando lá em cima. A aura de grande, apesar disso, não se desfez, Frank. Todo mundo olha para você e para seus boxes com respeito e reverência. Mas a gente se pergunta: até quando, Frank?
 
Agora, pelo visto, vem Massa. OK, ninguém espera milagres imediatos, e não estou aqui para implorar nada em nome do Brasil, dos brasileiros, nada disso. Sou avesso a essa mistura boba de patriotismo com esporte. Não me importa, sendo muito sincero, qual a nacionalidade dos rapazes que você coloca em seus carros. As novidades dos últimos dias são apenas um pretexto para te escrever. 
 
Não, não tem nada a ver com o Brasil, com pilotos brasileiros, essas coisas para mim não têm relevância. O que eu gostaria, Frank, era de ver você grande de verdade de novo. Sua equipe brigando na frente, disputando com a Ferrari, a McLaren, a Red Bull, a Lotus, a Mercedes. Sua equipe não nasceu para mendigar pontinhos. Para ficar atrás da Toro Rosso, da Sauber e da Force India. Vocês fizeram um ponto neste ano, Frank. Unzinho só! Não, definitivamente não. A Williams é a terceira maior vencedora da história. Terceira, Frank. Só perde da Ferrari e da McLaren. Se você contar, Frank, vai ver que tem 114 troféus de primeiro lugar nas estantes aí de Grove. 
 
Então, faça-nos o favor de conseguir mais alguns. Não dá para se contentar com um pontinho por ano. Tenha dó. Seu time e sua história não condizem com a derrota. Não deixe que colem o selo de decadente naquilo que você construiu. Pense grande, como você sempre foi.
 
E boa sorte.
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