Criado em 2013 para dar poder às equipes, Grupo de Estratégia age pouco e já desagrada a elas mesmas

Os diretores da Red Bull e da Force India criticaram o Grupo de Estratégia da F1 e a falta de decisões efetivas para resolver os problemas da categoria nos últimos meses. Justamente o órgão que foi criado com o objetivo de deixar a discussão na mão das equipes e, consequentemente, tomar medidas mais democráticas

A democracia e o poder de decisão dado às equipes nos assuntos referentes ao Mundial de F1 já não agrada às… próprias equipes. Um ano e meio depois do estabelecimento do Grupo de Estratégia, o órgão que permite que os times tomem decisões referentes ao campeonato junto da FIA e de Bernie Ecclestone ainda não foi efetivo para atacar os problemas da categoria e é alvo de críticas das escuderias.
 
Na última semana, um grande pacote de mudanças foi anunciado. Para 2016, as equipes terão a possibilidade de escolher quais pneus da Pirelli levarão para as provas. Para 2017, uma série de outras medidas, como o reabastecimento, pneus mais largos, aumento de potencia dos motores e novas diretrizes aerodinâmicas, entrarão em efeito.
 
E o tom de alguns dirigentes na entrevista coletiva da FIA em Mônaco deixou claro uma coisa: ainda falta resolver o principal.
 
Essas propostas que passaram pelo Grupo de Estratégia da F1 e que agora serão encaminhadas à Comissão da F1 e ao Conselho Mundial da FIA para sanção ajudam na questão do espetáculo. Entretanto, com relação à divisão do dinheiro entre as escuderias, pouco progresso foi feito.
 
Com isso, a existência do Grupo começa a ser questionada com mais veemência.
 
“Tivemos 18 meses, dois anos, de Grupo de Estratégia trabalhando com nada saindo dele”, disparou Robert Fernley, chefe-adjunto da Force India, crítico do órgão desde sua concepção, em meados de 2013.
Bob Fernley, da Force India, é um dos mais críticos quanto ao Grupo de Estratégia (Foto: Getty Images)
Antes de se criar este Grupo, chegou a circular a ideia de que a FIA deixaria de redigir o regulamento e deixaria isso a cargo das próprias equipes. Na época, havia certa insatisfação das escuderias com a entidade e tentava se negociar um novo Pacto da Concórdia. O último expirou em 2012 e não foi renovado. O problema é que não adianta: as equipes vão invariavelmente defender os próprios interesses e tornar o debate pouco produtivo.
 
A solução foi este fórum com três partes. A FIA tem direito a seis votos, Bernie Ecclestone, como promotor, tem direito a outros seis, e mais seis equipes votam. Cinco entraram no Grupo porque se comprometeram a seguir no Mundial até 2020: Mercedes, Ferrari, McLaren, Williams e Red Bull. A sexta entra pela posição no Mundial de Construtores do ano anterior, por isso a Force India substituiu a Lotus em 2015.
 
Chefe da Red Bull, Christian Horner disse que, de certo modo, as reuniões são previsíveis. “Bob vai pedir mais dinheiro, Toto não vai querer mudar nada e nós queremos mudar os motores. Então cada time tem seu interesse e vai lutar pelo seu córner”, falou.
 
“A única coisa que o Grupo de Estratégia aprovou de forma unânime foi o uso do mesmo por toda a temporada. É um sucesso do grupo? Não exatamente. É um fórum que tem seu valor? Eu acho que tem, mas a estrutura de como as regras são implementadas é o que precisamos observar”, argumentou.
 
Nisso, Horner compartilha da mesma opinião de outros: Jean Todt, o presidente da FIA, e Bernie Ecclestone precisam exercer uma liderança maior.
 
“Precisamos olhar para o sistema de um jeito melhor. No passado, com Max [Mosley] e Bernie no comando, não haveria nada disso. Saberíamos exatamente para onde iríamos. Não acho que deveríamos ter equipes tomando as decisões”, disse Fernley.
 
“Deveria ser o Bernie e o Jean juntos”, afirmou Franz Tost, chefe da Toro Rosso, “eles deveriam decidir o que temos que fazer. Nem deveriam perguntar para as equipes, pois as equipes nunca vão chegar a um acordo.”
 
A Renault e a Pirelli, no papel de fornecedoras e patrocinadoras, concordaram. “Eu acho que é necessário ter uma liderança muito forte com um grupo muito pequeno de pessoas”, falou Cyril Abiteboul. “Em nenhum esporte, competidores deveriam estar envolvidos nas decisões sobre as mudanças”, acrescentou Paul Hembery.
 
Mas a ‘ditadura’ não é o caminho preferido pelo diretor-esportivo da Mercedes. “É sempre difícil encontrar a forma de governo correta”, ponderou Toto Wolff. “Este é um esporte profissional. Uma plataforma global. Precisa ter uma governância adequada. E eu acho que, se quisermos uma ditadura, já posso nos imaginar sentados aqui daqui a dois anos reclamando de que está indo na direção errada.”
A F1 precisa reencontrar o rumo, mas está com dificuldades para isso (Foto: AP)

  OPINIÃO 
Renan do Couto, repórter de F1

 
Já foi tema de análise no GRANDE PRÊMIO, há duas semanas, a necessidade de Jean Todt exercer uma liderança maior no Mundial de F1.
 
Teoricamente, pela estrutura do Grupo de Estratégia, Todt e Ecclestone têm poder para fazer valer suas escolhas. Mas os dois não estão trabalhando na mesma sintonia que trabalhavam Ecclestone e Max Mosley. Mas isso não está acontecendo. As decisões são lentas e por vezes se passa do prazo para que elas possam valer já para o ano seguinte sem a necessidade de uma votação unânime.
 
A FIA não tem de escolher os rumos da F1 sozinha, tampouco Bernie. As equipes merecem ser ouvidas – mas não necessariamente ter o poder de decisão.
 
Em um momento em que a categoria precisa ser ágil para resolver uma crise, ela se perde na própria burocracia e não sai do lugar. Está na hora de se repensar essa estrutura e de Todt assumir uma postura mais ativa diante do Mundial, como tem feito muito bem com outras categorias. E, principalmente, de se olhar para o problema principal: a distribuição do dinheiro e formas de se reduzir os gastos.
 
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