24 horas de trabalho por dia e atualizações a cada 20 minutos: como Mercedes atua para manter domínio na F1

Não basta apenas ter um dos melhores pilotos de todos os tempos, um dos motores mais confiáveis e robustos da história e toda a solidez de um grande chefe de equipe. A Mercedes tem uma estrutura gigantesca capaz de manter sua fábrica em Brackley em funcionamento 24 horas por dia e sete dias por semana, com até quatro turnos de trabalho. E, claro, conta com orçamento igualmente robusto para conseguir atualizar seus carros de forma quase ininterrupta

A Mercedes domina a Fórmula 1 desde o início da era dos motores híbridos, a partir de 2014. Desde então, a escuderia anglo-alemã, com sede em Brackley, na Inglaterra, conquistou todos os cinco títulos do Mundial de Construtores e viu seus pilotos Lewis Hamilton — quatro vezes — e Nico Rosberg alcançarem o Olimpo do esporte. E, a julgar pela forma perfeita neste início de temporada 2019, tudo aponta para conquistas ainda maiores.
 
Com Hamilton, a Mercedes conta com um dos melhores pilotos da história. O britânico é um dos pilares do sucesso da vitoriosa equipe, ao lado de Toto Wolff, responsável pela chefia a partir de 2013, Valtteri Bottas, finlandês que substituiu Rosberg a partir de 2017, e o diretor-técnico James Allison. Morto na última segunda-feira, Niki Lauda, lenda da Fórmula 1 e presidente não-executivo da Mercedes, fechava uma estrutura sólida e imbatível nos últimos anos.
 
Mas por trás dos nomes que aparecem em evidência, a Mercedes tem uma enorme, gigantesca estrutura por trás. Uma estrutura formada por cerca de 1.600 funcionários apenas em Brackley, sem contar a fábrica onde são construídos os motores, em Brixworth, também na Inglaterra. Na sede onde são feitos os carros, o trabalho é realizado de maneira ininterrupta, literalmente: 24 horas por dia, sete dias por semana. 
 
Com um orçamento robusto impulsionado pelos patrocinadores e também pela montadora alemã, a Mercedes consegue alcançar um nível de excelência jamais antes visto porque não para um segundo sequer.
A Mercedes acumula sucessos na F1 muito por conta do trabalho incessante nas fábricas (Foto: Mercedes)

O diário australiano ‘Sidney Morning Herald’ realizou uma rara e recente visita guiada à sede de Brackley, liderada por um ‘guia secreto’, que não pôde se identificar, e desvendou alguns dos segredos que fazem da Mercedes uma das maiores equipes da Fórmula 1 em todos os tempos.

 
“O carro que larga na primeira corrida não é o mesmo carro que termina a última e, se você não melhorar constantemente, fica para trás. Na última temporada, ganhamos 2s ao longo do ano. Se não tivéssemos feito isso, estaríamos 2s atrasados, e isso significaria terminar em último lugar”, explicou o guia.
 
Para que tamanha margem de melhora seja obtida ao longo de uma temporada, os 1.600 funcionários em Brackley atuam em até quatro turnos de trabalho, permitindo que a fábrica fique operante de forma ininterrupta. “Novas e caríssimas peças de fibra de carbono são constantemente criadas, desenvolvidas e testadas, e a maioria delas jamais chega a um carro de corrida. Em 2018, uma peça do carro foi atualizada, ou redesenhada, em média, a cada 20 minutos, 24 horas por dia”, diz a reportagem.
A Mercedes chega a desenvolver atualizações a cada 20 minutos (Foto: Mercedes)

O impacto físico e mental na pilotagem de um carro de Fórmula 1

 
Quem vê de longe pode ter a impressão de que a pilotagem de um carro de Fórmula 1 é fácil e pouco desgastante. Não poderia haver engano maior. Com o desenvolvimento constante tanto de aerodinâmica, dos pneus e dos combustíveis, os carros de hoje são cada vez mais rápidos, sobretudo os da Mercedes, que segue quebrando recordes a cada fim de semana de GP. Mas os pilotos são duramente exigidos ao longo de uma prova e precisam estar bem preparados para acelerar durante pouco mais de uma hora e meia de pressão constante.
 
“Na súper secreta base da Mercedes, nos pediram para considerar o peso médio de uma cabeça humana: cinco quilos. Foi então assinalado que os carros de F1 deste ano estão, ao mesmo tempo, passando dos 330 km/h, submetendo seus pilotos a uma força de 5G. Isso significa que, enquanto ele percorre uma curva de raio longo, a cabeça de Lewis Hamilton pesa, efetivamente, 25 kg, aproximadamente uma criança de oito anos, e assim, tentaria rolar em seus ombros se ele não tivesse a força no pescoço”, relata o jornal.
 
O guia secreto da Mercedes então completa. “Quando ele fez sua primeira corrida de F1, em 2007, a circunferência do seu pescoço media 14 polegadas. Hoje, tem 18. E isso é típico de todos os pilotos nos dias de hoje. Eles têm de treinar os músculos para fazer o trabalho. As forças G são tão extremas que seus órgãos estão constantemente sendo esmagados. Em Melbourne neste ano, no fim da reta, Lewis me disse que estava em lágrimas e podia vê-las espirrando pela viseira nas frenagens”, explicou.
 
Outro ponto, segundo o guia, é que, nas fases finais de uma corrida, um piloto pode perder até 40% da sua função cerebral. Isso por conta das elevadas temperaturas dentro do cockpit, com o piloto vestindo capacete, macacão e roupa antichama, chegando a 55ºC, causando uma perda de até 4 kg de líquido. Segundo estudos da Mercedes, cada quilo perdido temporariamente acarreta cerca de 10% de perda da potência cerebral.
Guia secreto da Mercedes fala sobre o quanto a pilotagem de um F1 é exigente (Foto: AFP)

O desgaste é tão grande que a F1 tem regras próprias até mesmo para o peso máximo dos troféus para evitar o risco caso um piloto não consiga erguê-lo no pódio. Tal cenário remete a 1991, quando Ayrton Senna teve de recobrar suas forças para levantar o troféu da vitória do GP do Brasil daquele ano.

 
Em Mônaco, a expectativa é que cada piloto faça mais de 3.600 trocas de marcha. Não basta apenas acelerar, visto que um volante de um carro da Mercedes conta com 25 botões, que proporcionam cerca de 500 configurações diferentes, isso entre os ajustes que são possíveis de fazer apenas dentro do carro, como o equilíbrio dos freios.
 
Além de todo o trabalho físico e mental na condução do carro, encontrar o posicionamento correto dentro do cockpit é fundamental, ainda que não seja uma missão das mais fáceis. “O objetivo é manter a parte pesada do ser humano, a região lombar, da forma mais baixa possível. É como se o piloto estivesse deitado em uma banheira, enquanto os pedais ficam em uma posição semelhante às torneiras”, descreveu o jornal australiano.
 
E ainda há uma bateria enorme posicionada logo atrás. “Imagine uma bateria de celular do tamanho de uma churrasqueira e libere uma quantidade proporcional de calor. Essa bateria dá um impulso elétrico à performance do carro, mas, aparentemente, queima as nádegas de Hamilton, e ele reclama constantemente sobre isso”, comentou o guia.
 
Todo o esforço empregado pelos pilotos na pista e pelos funcionários nas fábricas de Brackley e Brixworth valem a pena. Desde 2014, foram nada menos que 79 vitórias e todo o cartel de títulos mundiais já elencado. Com uma estrutura de tamanha envergadura, parece ser difícil imaginar que, nos próximos anos, a Mercedes vai perder o posto de equipe dominante da Fórmula 1.

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