Análise: Alonso perde tempo ou a insistência na errática McLaren é válida?

Fernando Alonso vai celebrar na Rússia, neste fim de semana, a corrida de número 250 de sua longa carreira na F1. O espanhol, ainda considerado por muitos o melhor piloto do grid, vive uma temporada errática pela McLaren, mas insiste no sucesso futuro do conjunto. E será que é uma atitude válida?

Fernando Alonso vai disputar neste fim de semana, na Rússia, a etapa de número 250 de sua longa carreira na F1. E a marca vem em um dos piores momentos do piloto do Mundial. Como se sabe, o bicampeão trocou a Ferrari, no fim de 2014, pela McLaren, em busca do tão sonhado terceiro título, mas o cenário que encontrou na equipe da qual já fez parte em um passado não muito distante foi ainda mais desolador. E a insistência de Alonso deixa a pergunta se essa não foi mais uma das escolhas equivocadas que fez ao longo dos anos. E o que se pode esperar de Fernando daqui para frente. 
 
O asturiano deixou a equipe italiana por não ver mais futuro em Maranello, por se ver em um ambiente desfigurado, sem comando, prestes a enfrentar uma grande transição. Antes, ainda, foram cinco temporadas de mais baixos do que altos. É verdade que Fernando teve momentos de brilhantismo, especialmente em 2010 e também em 2012, no talvez melhor ano com os italianos, mas acumulou momentos de frustração, não conseguiu construir uma equipe forte o bastante ao seu redor e sucumbiu. 
 
Sem qualquer condição de permanecer e com a decisão de sair já tomada há muito tempo, Alonso tentou bater em portas prateadas, mas acabou mesmo no único lugar que havia espaço. É claro que o acordo com os ingleses não foi assim tão fácil, a Honda precisou intervir, porque também queria alguém do naipe do bicampeão para conduzir a reedição da parceria com o time de Woking. Nada mais justo, pois. 
Fernando Alonso foi campeão pela primeira vez em 2005 (Foto: Reprodução/Twitter)
Convencido pelo tamanho do investimento, Fernando aceitou o desafio. Mas, e parece que sempre tem um ‘mas’ na vida do espanhol, o trabalho junto com os japoneses e os ingleses se mostrou mais complicado do que o imaginado. O motor Honda apresentou inúmeras falhas desde os primeiros movimentos, faltou quilometragem, testes e tempo, e isso acabou por refletir na complexa ausência de potência e performance. A McLaren, de repente, se viu no fundo do grid, brigando para conseguir completar corridas. E lá estava Alonso, de novo lutando por alguma dignidade na pista.
 
Nos primeiros meses, o espanhol procurou olhar o lado positivo de tudo. O imediatismo deu lugar à paciência. O piloto foi encarando corrida a corrida os desafios que a Honda apresentava a cada novo GP. Mesmo com um sorriso disfarçado, Alonso foi convencendo a todos de que tudo aquilo ali era perfeitamente normal, ainda que o asturiano tenha dado alguns indícios de insatisfação, como aconteceu no GP do Canadá, em junho passado. 
 
Porém, como tudo na vida, uma hora o limite realmente chega — levou sete meses. E isso aconteceu em Suzuka. Na casa da Honda, Alonso mostrou que, sim, a paciência havia se esgotado. Depois de tomar várias ultrapassagens sem conseguir sequer se defender, o espanhol usou o rádio: “É vergonhoso”. 
 
“GP2, motor de GP2”, disparou também.
Alonso reclamou da falta de potência da McLaren no Japão (Foto: Mark Thompson/Getty Images)
O desabafo do piloto foi sentido, claro, nas garagens da McLaren, pelos membros da Honda, pela F1. Depois, como sempre acontece na principal categoria, todos minimizaram as críticas, inclusive Alonso. Mas Inês é morta, como diriam. 
 
O que fica do episódio é, de fato, a insistência do bicampeão. Fernando ainda é considerado por muitos o melhor piloto da F1 atual, mas não vence desde o GP da Espanha de 2013, não vai ao pódio desde julho do ano passado e a última vez em que ergueu a taça de campeão foi há nove anos. Muito pouco para alguém como Alonso, que também tem no currículo disputas  acirradas e triunfos contra Michael Schumacher, 32 vitórias, 97 pódios e 22 poles. 
 
Aos 34 anos, é difícil imaginar que o asturiano terá uma nova chance de disputar um título no cenário atual. Ao que tudo indica, o piloto vai permanecer na McLaren por pelo menos mais uma temporada — o contrato assinado com os ingleses fala em três anos, mas há sempre a cláusula do desempenho. A questão é que o conjunto McLaren-Honda terá de melhorar muito nas duas próximas temporadas para manter as esperanças e a paciência do espanhol, que tem o tempo contra si. E será que isso é realisticamente possível?
 
Tempo é um artigo de luxo na F1. E um projeto como esse leva realmente anos para vingar em um campeonato tão competitivo, a própria Mercedes é exemplo. A Red Bull também. Ferrari.  
 
Alonso vai estar perto dos 36 anos na última temporada de compromisso com a equipe inglesa. Se não houver sucesso, no horizonte, há apenas uma possibilidade de tentar de novo a Mercedes em 2017, quando o acordo com Nico Rosberg se encerra. 
 
Mas seria uma aposta longa demais. E nesse meio tempo, Fernando conseguiria sustentar a imagem de que é um piloto competitivo o bastante, ainda um dos melhores? Ou seria uma grande perda de tempo? E que talvez o caminho seja o de procurar outras categorias?
Alonso vai completar 250 etapas na F1 no GP da Rússia (Foto: AP)
Indo além, como lidar com a decadência? Pelas explosões em Suzuka, é possível dizer que Alonso não está pronto para liderar com a perda de desempenho e que ainda tem lenha para queimar. 
 
A idade é o que menos conta, neste caso, Valentino Rossi está aí para provar. O que pesa mesmo contra Alonso é que ele está em uma fase da carreira em que não pode mais perder tempo com fracassos, não há mais paciência, nem energia, e isso é fato. 
 
O bicampeão precisa de vitórias, títulos e não apenas de parcos pontos aqui e ali.
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