Carlos Reutemann, 1942-2021

Um dos maiores pilotos argentinos da história da Fórmula 1, governador, senador e aspirante à presidência. No esporte e na política, 'Lole' esteve presente na vida da Argentina ao longo de sete décadas diferentes

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O mundo do esporte a motor está de luto. Morreu, aos 79 anos, o ex-piloto Carlos Reutemann, que não resistiu e sucumbiu aos problemas de saúde que o acometeram ao longo dos últimos meses. Principal adversário de Nelson Piquet na campanha do título de 1981, Reutemann morreu cercado pela família em Santa Fe, na Argentina. A informação foi confirmada pela família do ex-piloto e senador da República.

Carlos Alberto Reutemann nasceu em 12 de Abril de 1942 em Santa Fé, Argentina. Cresceu numa fazenda, onde a família tinha criação de leitões, e frequentou os seus anos de escola a bordo de um cavalo. O apelido ‘Lole’, que acompanharia a vida inteira, veio ainda durante a infância. Lole é uma derivação da expressão “Lo lechone” (os leitões).

Autodidata, ainda adolescente desenhou e criou uma pista de terra para correr com sua caminhonete Rastrojero, veículo muito popular durante aquele período do fim dos anos 1950 e início dos 1960 na Argentina. Depois de frequentar as primeiras corridas competitivas como espectador, em 1965 fez a estreia na categoria Turismo Nacional a bordo de um Fiat 1500, disponibilizado por conta do apoio de alguns empresários da sua cidade natal.

Ali, conquistaria o primeiro título e, consequentemente, teria experiências na categoria Mecânica Argentina Fórmula 2 e no Turismo Carretera, onde correu com um Ford Falcon. As boas atuações no automobilismo local levaram a que participasse nas rodadas que a Fórmula 2 Europeia realizou na Argentina durante 1968, naquela que seria a primeira experiência internacional. Pilotou um chassi Tecno e um Brabham, na ocasião.

Reutemann foi vice-campeão pela Williams em 1981, enquanto Alan Jones [à esquerda] foi o campeão de 1980 (Foto: Williams)

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No ano seguinte, correria o último campeonato no país para, em 1970, tornar-se um dos dois pilotos da equipe da companhia petrolífera YPF na F2 europeia, com uma Brabham T30. A primeira corrida de Reutemann no Velho Continente foi no dia de seu aniversário, 12 de Abril, para a oitava colocação em Hockenheim. Após um ano de adaptação, foi vice-campeão, atrás do sueco Ronnie Peterson, em 1971.

Enquanto isso, com o apoio de empresas estatais argentinas, Reutemann conseguiu participar na sua primeira corrida de Fórmula 1 em 1971. GP em Buenos Aires, mas sem pontos válidos para o campeonato. Mesmo assim, não passou ao largo o fato de ter sido terceiro colocado a bordo de uma McLaren. Finalmente, com quase 30 anos de idade, o argentino faria a estreia oficial na categoria na temporada de 1972, com a Brabham. E a estreia veio em grande estilo: pole-position na corrida de casa.

Na Brabham liderada por Bernie Ecclestone, ‘Lole’ conseguiu seus primeiros resultados relevantes. O primeiro pódio foi no GP da França de 1973, onde foi terceiro colocado, e a primeira vitória veio no ano seguinte, na África do Sul, como revanche de uma quase vitória na Argentina, onde liderava confortavelmente e seu Brabham BT 44 ficou sem combustível na última volta. Coração cheio para substituir o coração partido.

Após terminar em terceiro lugar no Mundial de 1975, Reutemann deixou o time no meio da temporada seguinte insatisfeito com os maus resultados e a conjuntura. O próximo passo foi a Ferrari, que buscou em Reutemann um substituto para Niki Lauda, que estava à beira da morte após o acidente no GP da Alemanha daquele ano, em Nürburgring.

Mas faria somente uma corrida pelos italianos em 1976, por conta da rápida recuperação de Lauda. Reutemann já tivera uma experiência com a Ferrari em 1973 no que foi sua única incursão nas 24 Horas de Le Mans: defendeu a esquadra ao lado de Tim Schenken, mas abandonou a corrida.

Assumiu de vez a titularidade na versão de F1 da tradicional fábrica do comendador Enzo Ferrari no lugar de Clay Regazzoni no ano seguinte e abriu a temporada com um pódio na Argentina e vitória no Brasil. Apesar de ensejar a luta pelo título, acabou superado por Lauda, que conquistou o bicampeonato. Lauda deixou o time no fim do ano, o que fez Reutemann herdar, ao menos teoricamente, a principal cadeira da equipe, ao lado de Gilles Villeneuve, em 1978. Aquele seria seu último ano de vermelho, com o terceiro lugar do campeonato e partindo para a campeã Lotus na sequência.

Reutemann em homenagem prestada pela Ferrari (Foto: Ferrari)

No time de Colin Chapman, não conseguiu nenhuma vitória na temporada 1979. Finalmente, em 1980, assinou com a Williams para ser segundo piloto do australiano Alan Jones, que seria campeão naquele ano.

Assim, ‘Lole’ chegaria a 1981 e, na segunda prova, GP do Brasil, venceria ao desobedecer a uma ordem da equipe para dar a vitória a Jones. Dessa forma, Reutemann acabaria por se tornar o líder indiscutível durante a primeira parte do campeonato, até que uma mudança no fornecedor de pneus – da Michelin para a Goodyear – o fez perder desempenho. Na decisão do campeonato, o GP de Caesars Palace, em Las Vegas, conquistou a pole, mas terminou somente no oitavo lugar após corrida problemática. Nelson Piquet terminou no quinto posto e marcou os dois pontos que precisava para ultrapassar o rival. Piquet foi campeão com um só ponto a mais que Reutemann.

Apesar da frustração, Reutemann continuou como piloto da Williams em 1982. Porém, ao abandonar durante o GP do Brasil, em 27 de março daquele ano, decidiu encerrar a carreira na Fórmula 1. Embora aposentado há quase 40 anos, Reutemann ainda é o último argentino a ganhar uma corrida e subir ao pódio na Fórmula 1.

Após se aposentar, a única experiência no automobilismo foi como participante no Rali da Argentina de 1985, onde terminou em terceiro lugar a bordo dum Peugeot 205. Na sequência, as poucas participações em uma pista de corrida seriam apenas para homenagens, como quando a Argentina voltou a ter um GP de Fórmula 1, em 1995.

Aposentado do esporte, o foco de Reutemann mudou para a política, com dois mandatos como Governador da província de Santa Fé – 1991-1995 e 1999-2003 -, com uma pré-candidatura presidencial também em 2003. ‘Lole’ foi senador do partido político Cambiemos, de orientação neoliberal, pelo qual tinha mandato de senador até o final deste ano.

Fato inegável é que, no esporte e na política, Carlos Reutemann foi figura presente de maneira contínua na Argentina ao longo de sete décadas diferentes.

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