Coluna Apex, por Andre Jung: Amigos que se tornam inimigos

Amizade e F1 não são coisas lá muito compatíveis. Difícil acreditar no acaso quanto ao acidente de Nico Rosberg, no momento justo de atrapalhar a volta de Lewis Hamilton

Nos meus primeiros anos como fã entusiasmado da F1, não era Emerson, nosso “herói”, que me despertava a torcer, e sim Sir Jack Stewart. Já vinha acompanhando aquele capacete branco, riscado pelo tradicional xadrez escocês, desde que tomei ciência daquele esporte, nas revistas ‘Quatro Rodas’ que minha mãe, então artista gráfica da Editora Abril, trazia para casa.

Até onde podia alcançar, apenas eu deixava de torcer para o ídolo nacional para escolher o escocês, que havia ganhado o título de 1969 a bordo de um Matra. Em 1970, pilotando o recém lançado March-Cosworth, Stewart não fez grande coisa, mas a partir de 1971, na equipe que seria sua derradeira, as vitórias voltaram a acontecer com frequência.

Veterano, Sir Jackie era escoltado por um jovem francês, tão famoso mundialmente por sua beleza quanto por seu talento. Uma relação de mestre e discípulo, mais comum de se ver em artes marciais ou coisa parecida, mas que, para mim, simbolizava a força imensa que constitui uma grande amizade.

E assim foi até aquele trágico 6 de outubro de 1973, a corrida prevista para ser a derradeira de Stewart, o momento em que ele passaria o bastão ao seu bem preparado discípulo. Do alto dos seus três títulos mundiais e 27 vitórias em 99 GPs, penduraria as luvas e o capacete. Naquele dia, a morte de Cevert pôs fim a uma amizade que merecia muitos anos mais.

Mesmo quando já era tão ou mais veloz que seu mestre, Cevert mantinha o respeito por seu experiente parceiro, certo de que sua hora de liderar o time de Ken Tyrrell chegaria em breve e que seu tempo de campeão estava por começar. Uma conduta que, nos primeiros anos de minha adolescência, me ajudou a criar a imagem do que uma amizade era capaz.

Ilustração: Marta Oliveira

Mas foi só. 1973 também foi o ano em que Ronnie Peterson incomodou Emerson Fittipaldi na Lotus ao ponto de o brasileiro sair para um lugar onde não tivesse de conviver com inimizades e pudesse liderar um time na busca de outro campeonato — coisa que fez.

Amizade e F1 não são coisas lá muito compatíveis. A celebrada relação entre Senna e Berger não sofria muito risco: o brasileiro era muito mais piloto, e o austríaco nunca foi um rival capaz de criar a menor competição. A propalada generosidade de Senna, ao conceder uma vitória ao seu parceiro, foi executada de forma humilhante, com o tricampeão parando o carro quase na linha de chegada para deixar bem claro ao mundo quem foi o vencedor de direito. Houvesse a intenção qualquer de valorizar Gerhard, não seria aquela a forma adequada.

Hoje ainda lembro de Hamilton comemorando o primeiro pódio de Rosberg, assim como sua ida para a equipe Mercedes, amigos que eram desde os tempos do kart, ambos talentos natos, destinados um dia a medir forças no topo do esporte a motor. A declaração de Hamilton, de que ele e Rosberg não são mais amigos (o “mais” é por minha conta) não deixa de ser um triste e desagradável choque de humanidade.

Assisti ao GP de Mônaco do meu apartamento no Hotel Nacional de Havana, onde a TV a cabo me proporcionou, graças à TV Venezuelana, acompanhar a corrida, com uma locução equilibrada e sensata dos dois narradores (não existe a hierarquia de narrador e comentarista), ambos entristecidos, logo de cara, com o azar interminável de Pastor Maldonado.

Difícil acreditar no acaso quanto ao acidente de Rosberg, no momento justo de atrapalhar a volta de Hamilton. Já vimos essa tática antes quando Michael Schumacher tentou prejudicar Fernando Alonso e foi demovido para a última posição na largada, de onde, mais uma vez, mostrou sua combatividade para ao final conquistar um quase impossível quinto lugar.

Mônaco é assim: largar na ponta é fundamental, e para isso os que disputam o título não costumam medir esforços. Os comissários, entre os quais despontava o inglês Derek Warwick,  entenderam que o alemão de agora não mereceu punição, talvez com um olho na preservação da competitividade da temporada e seus índices de audiência. Ali, graças à declaração de Hamilton, findou oficialmente a antiga amizade dos dois rapazes.

Enquanto isso… 

…em seis corridas, até aqui, Felipe Massa já foi duas vezes abalroado pelos carros da Caterham…

…dá para imaginar a aflição do brasileiro ao ver um carro verde em seu retrovisor…

…Jules Bianchi fez bonito, e a Marussia praticamente consolidou a décima posição entre os construtores antes mesmo da metade das corridas do ano…

…endividado, Tony Fernandes já havia colocado a Caterham à venda às vésperas do GP de Mônaco, negócio bem menos atraente agora.

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