Coluna Becketts, por Hugo Becker: As estrelas de Melbourne

Kevin Magnussen, Valtteri Bottas, o renascimento da Williams... Esta foi uma corrida feita de pequenos heróis que provavelmente se perdem como coadjuvantes diante do gigantismo da vitória em si. Foram eles que tornaram a primeira etapa da F1 em 2014 uma etapa marcante e digna de ficar guardada com carinho na memória

 
O GP da Austrália foi menos impactante do que a maioria imaginava. Para quem esperava uma prova caótica, repleta de acidentes, panes secas e zebras passeando pelas ruas do Albert Park, uma vitória da favorita Mercedes não chega a  ser uma grande surpresa. Nem mesmo o abandono de Sebastian Vettel surpreendeu, tão previsível que era.
 
Mas esta foi uma corrida feita de pequenos heróis que provavelmente se perdem como coadjuvantes diante do gigantismo da vitória em si. Foram eles que tornaram a primeira etapa da F1 em 2014 marcante e digna de ficar guardada com carinho na memória.
 

Kevin Magnussen é o principal deles. Corpo franzino, aparência de adolescente tímido que mal largou a escola, semblante oscilando entre o medo da grandeza do novo universo que o cerca e a confiança silenciosa em seu próprio potencial, o garoto foi lá, absorveu a pressão de estrear na maior categoria do planeta por uma gigante como a McLaren, e não só bateu seu fortíssimo companheiro de equipe Jenson Button na classificação e na corrida como tratou de ser o terceiro na história a estrear com pódio. Os dois anteriores – Jacques Villeneuve e Lewis Hamilton – foram campeões mundiais. O dinamarquês também será, seguramente.
 
Nico Hülkenberg também teve seu heroísmo, embora não tenha brilhado tanto para as câmeras. Guiando uma Force India que se mostrou muito mais problemática e lenta do que se esperava, o alemão viveu uma verdadeira prova de resistência, conseguiu ultrapassagens fundamentais – todas tirando mais do que o VJM07 podia oferecer –, resistiu bravamente à pressão de um pouco combativo Fernando Alonso e conseguiu um ótimo sexto lugar. Para efeito de comparação, Sergio Pérez, companheiro de ‘Hülk’ na equipe indiana, tomou tempo de Kamui Kobayashi (sim, de uma Caterham) na classificação e só conseguiu pontuar porque Daniel Ricciardo foi excluído do resultado final. O alemão tratou de facilitar um duelo interno que poderia ser muito mais tenso e encardido do que se pensava.
 
Mas craque, mesmo, foi Valtteri Bottas. É incrível como a Finlândia não se cansa de fabricar talentos para a F1. O camarada me escalou o grid duas vezes e conseguiu terminar em um impressionante quinto lugar. Culpa dele, claro, que bateu sozinho quando perseguia Alonso na luta pela quarta colocação, logo na primeira metade da prova.
 
Sejamos complacentes com o escandinavo: o cara viveu uma temporada de estreia em um carro horroroso, teve pouca chance de mostrar serviço, precisou reaprender tudo de novo com os carros novos de 2014 e, de repente, se viu com um foguete nas mãos, lutando pau a pau lá na frente, enfileirando passões em caras como Button, Räikkönen e Alonso. Era a corrida de sua vida. Quem não se empolgaria? Além disso, metade do grid namorou com aquele muro ao longo do fim de semana, e Bottas ali bateu quando estava no vácuo do espanhol da Ferrari, com o carro rabeando para tudo quanto é lado. Diante de todo este contexto, é algo plenamente aceitável. Vai longe, o Válter nórdico. O melhor da corrida.
 
Mas o grande toque de heroísmo pessoal ficou por conta da família Williams. Porque se sobraram imagens de uma Claire desesperada a cada maluquice de Bottas, faltaram imagens do sorriso certamente emocionado do velho Frank ao ver seu pupilo andar o tempo todo na frente e cruzar a linha de chegada em quinto. Depois de sei lá quantos anos – muitos anos –, a equipe de Grove deixou de ser a ex-grande coitadinha, voltou a mostrar as garras e vai passar o ano como protagonista, com grandes chances de, em dois ou três anos – até menos – voltar a ser aquela Williams odiada por ser dominante nos anos 1990.
 
São bravos, Frank e Claire. Conseguiram refazer uma equipe que caminhava para a morte. Ainda que a história mostre que 2014 foi só um último sopro de grandeza, não importa: para quem é fã desse negócio, a satisfação de vê-los de novo na frente não tem preço.
 
Cadê benzedeira?
 
Felipe Massa e Melbourne não foram feitos um para o outro, é impressionante. Até quando o cara faz tudo certo, dá tudo errado. Na primeira curva do Albert Park, o brasileiro estava completamente isolado na esquerda, com todo o cuidado do mundo para evitar um acidente. Aí vem o ex-Mito e bate com Gonzo e tudo no carro do brasileiro…
 
Round 2… Fight!
 
Em compensação, a Malásia é uma das melhores pistas para Felipe, que já conquistou duas poles por lá. Se é o caso de imaginar uma Williams peleadora y copera lutando pelo título de 2014 – pouco provável, diante da superioridade aparentemente absurda da Mercedona –, Massa tem de reagir logo, e não há palco melhor para espantar a zica. 

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