Coluna Becketts, por Hugo Becker: Interlagos e a lenda de Vettel

O próximo GP do Brasil parece não ter nenhuma grande atração, mas ela existe: é Sebastian Vettel. Para quem o viu ainda novato no histórico asfalto de Interlagos, em 2008, enchendo o saco de Felipe Massa e, depois, ultrapassando sem dó o futuro campeão Lewis Hamilton, vê-lo cinco anos depois como tetracampeão mundial é algo histórico

 
Sebastian Vettel, selo #fera de qualidade (Foto: Getty Images)

O GP do Brasil, 19ª e última etapa da temporada 2013 da F1, carece de atrativos significativos. Não há, como em anos anteriores, uma decisão de título por vir, tampouco um brasileiro com chances claras de vencer em seu próprio território. As últimas corridas foram monótonas e não há, em que pese a instabilidade climática, nada que possa sugerir que a etapa de Interlagos seja empolgante, disputada e emocionante. Pilotos e equipes estão, em sua maioria, mais preocupados com a festa de encerramento do campeonato no melhor país possível para tal do que com a prova em si. O público, por sua vez, tenta encontrar uma motivação à altura dos preços abusivos e da complicada locomoção para a zona uterina da cidade de São Paulo para ver um evento aparentemente murcho.

 
Mas a beleza está nos detalhes, diria algum gênio pouco alardeado. E por falar em gênio, temos aí a grande atração da prova paulistana: o contestado Sebastian Vettel.
 
Desistam de atribuir o sucesso do garoto às máquinas desenhadas pelo igualmente genial Adrian Newey, em um time liderado pelo precoce Christian Horner e financiado pela bufunfa torrencial do bilionário Dietrich Mateschitz, dono da Red Bull. Não se trata disso, apenas. Definitivamente. Vettel é um fenômeno cercado por fenômenos. Evidentemente, isso cria um cenário chato e aborrecido em uma primeira análise, mas há beleza nisso, como não? Até em um domínio tão amplo quanto o atual há muito a ser admirado.
 
Michael Schumacher, antecessor deste Sebastian enrabador de recordes, também era o chatão daquela F1 do começo da década de 2000. Os anos, no entanto, fizeram justiça: embora o enorme equilíbrio das temporadas pós-2006 tenha sido histórico, é inegável que o tempo ampliou e reverberou a grandeza do tedesco, bem como fez jus ao seu enorme talento – algo que, para muitos, o coloca na condição de melhor da história.
 
(Aproveitando o gancho e a repetição do termo 'chatão' partindo deste pouco criativo colunista, gostaria de acrescentar um parêntese: chata é essa discussão pífia para definir quem foi o melhor de todos os tempos. É simplesmente impossível isso. Recordes são recordes, performance depende das circunstâncias ao redor. Podemos listar os melhores de todos os tempos através da eleição dos melhores de cada época, mas é impossível comparar Ayrton Senna a Vettel, ou Juan Manuel Fangio a Schumacher. Impossível. É uma questão de lógica e praticidade. Evitem a fadiga, portanto. Isto posto, voltemos ao texto.)
 
O mesmo acontecerá com o piloto da Red Bull quando sua hegemonia chegar ao fim – creio que não sem antes dois ou três títulos e duas dezenas de poles e vitórias mais. Seus feitos só serão relativizados no futuro, ante uma geração que pode e deve ser considerada a melhor desde o Quarteto Fantástico dos anos 1980, com Senna, Alain Prost, Nigel Mansell e Nelson Piquet. Fernando Alonso, Lewis Hamilton, Kimi Räikkönen e Jenson Button são craques, cada um à sua maneira. E Vettel pode, em Interlagos, se tornar o cara com mais vitórias em uma única temporada – 13, igualando o recorde de Schumacher em 2004 –, o maior pontuador da história da F1 e, de quebra, ampliar o recorde de vitórias consecutivas de oito para nove. Marcas impressionantes para um moleque-galhofa de 26 anos que, embora absolutamente focado, parece não ter ainda a noção exata do que está sendo para a história. É ele o resultado que aparece do trabalho de um supertime, como foram todas as outras grandes lendas da história. Todas, absolutamente, sem exceção.
 
Para quem viu aquele imberbe Vettel no histórico asfalto de Interlagos, em 2008, enchendo o saco de Felipe Massa em uma improvável disputa pela liderança, com Toro Rosso, enquanto o brasileiro tentava o título mundial, e para quem viu o mesmo Vettel ultrapassando sem dó um Hamilton todo afobado restando quatro voltas para o fim e quase tirando a taça do inglês, vê-lo cinco anos depois como tetracampeão mundial, já sob a aura de lenda da F1, ao vivo e em cores – provavelmente no alto do pódio – e impondo um domínio esmagador sobre caras absolutamente talentosos como Alonso, Hamilton e Räikkönen, se apresenta como uma oportunidade exemplar e histórica de contar aos filhos, netos e, dependendo da sua sorte e do seu plano de saúde, bisnetos, que certamente herdarão a paixão familiar por este esporte apaixonante que é o automobilismo: 
 
"Meninos, eu vi."

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