Diários de Viagem: Dos trens perdidos ao carma pelos saxofonistas da estação

Um dia antes do início oficial da cobertura ‘in loco’ do GRANDE PRÊMIO em Barcelona, precisava cruzar 31 km na missão de coletar credenciais no autódromo. Só consegui perder dois trens por pouco, ficar atrasado e perder o horário. Acho que foi carma depois de não dar dinheiro para dois saxofonistas na estação

Fórmula 1. Glamour. Camarotes. Taças de Martini. Ricos de meia idade apresentando os excelentes resultados do bronzeamento artificial mais recente enquanto acenam para as câmeras na companhia de esposas ao menos uns 15 anos mais jovens. Isso tudo faz parte do mesmo imaginário, o de uma F1 que gosta de esbanjar, não de esconder. Isso, entretanto, parece restrito a um grupo seleto de pessoas que frequenta o paddock. Para a classe jornalística, o buraco é mais fundo. Ou ao menos para mim, Vitor Fazio, que toco a cobertura ‘in loco’ do GRANDE PRÊMIO na pré-temporada em Barcelona.
 
Para começo de conversa, a cobertura cansa antes mesmo da largada propriamente dita. A terça-feira deste que vos escreve teve um despertar às 8h, mas com chegada ao destino final apenas umas dez horas depois. Comecei precisando cruzar Berlim, onde vivo, somente para chegar ao aeroporto. É um pouco reclamar de barriga cheia, mas já não estava exatamente em êxtase. Pessoas ansiosas vão se relacionar facilmente com a necessidade de chegar ao aeroporto ao menos duas horas antes da decolagem, sob risco de acreditar que o mundo desabará e que tudo ficará fadado ao fracasso. Não me atrasei pro voo. Nem perto. Mas se perguntar para o meu eu de hoje cedo, juraria de pé junto que 10 minutos a mais antes de sair de casa colocariam tudo a perder.
 
Minutos e segundos de fato fariam alguma diferença, mas isso estava reservado para as horas seguintes.
O objetivo final era conseguir minhas credenciais, aqui vistas em foto de 2019 (Foto: Vitor Fazio)

Aterrisei no Barcelona-El Prat por volta das 15h50. Não tive tempo para vadiar: meu destino estava 31 km distante e queria chegar ao glorioso, um Airbnb, antes das 18h. Esse era o horário em que a área de credenciamento para imprensa fecharia, só abrindo novamente amanhã cedo. Seria apertado, mas o desenrolar dos acontecimentos deixou claro que não tinha motivos para dúvidas. Não pelo bem, mas porque não chegaria de jeito nenhum ao vilarejo de Montmeló a tempo.

 
Na saída do aeroporto, precisava pegar a linha de trem R2 Nord para chegar à região central de Barcelona, na estação Sants. Pelos meus cálculos, perdi o trem por uns cinco minutos. O próximo, só 30 minutos depois. Mantive a compostura. Afinal, ainda era muito legal pensar que estava de volta a Barcelona para uma nova cobertura ‘in loco’. Mantive meu ânimo quando, no trem seguinte, dois caras começaram a cantar 'Fernando' do ABBA com auxílio valoroso de seus saxofones enquanto pediam dinheiro. Though we never thought that we could lose, there’s no regret. Não dei esmola porque começaram a tocar U2 depois, e aí ninguém merece.
 
Enfim, cheguei à estação de Sants. É uma das maiores da cidade, com diversas plataformas aliadas ao vuco-vuco digno de hora do rush. Precisava achar a área da linha R3, que me levaria até a singela Parets del Vallès. Trata-se de uma cidade ao lado de Montmeló, que viria a servir como meu QG ao longo dos próximos 11 dias.
Nada mais agradável do que esperar 30 minutos numa estação de trem (Foto: Vitor Fazio)

Na confusão, sabia que tinha tempo apertado para pegar o R3 na direção certa. Desci em Sants às 17h e precisava embarcar no próximo às 17h02. Talvez em uma espécie de carma por não ter dado esmola aos saxofonistas, cheguei na estação por volta de 17h02min15s. Foi suficiente para ver a porta fechada em definitivo e o trem partindo. Não olhei ao redor, mas tenho certeza de que todo mundo achou engraçadíssimo ver aquele latino estranho com uma mala de 10 kg fazendo cara de bunda. A cereja no bolo é que o próximo R3 só viria às 17h32, daqui 30 minutos. Vou manter a civilidade e evitar dizer o que queria fazer com meus dedos naquela hora.

 
Partindo às 17h32 para um trajeto de quase 50 minutos, não havia chance alguma de fazer o credenciamento. Precisaria ainda deixar as bagagens em Parets e pegar um táxi até Montmeló. Nem fodendo. A consequência existe, mas não é das piores. Vou precisar ir ao autódromo por volta de uma hora antes do previsto amanhã, e é isso.
 
No momento, escrevo esse texto usando uma tábua de passar roupa como mesa. Ainda não tomei banho e preciso urgentemente. Nem abrir bagagem fiz ainda. Mas tudo bem. A expectativa para ver os primeiros passos na temporada 2020 da F1 faz até a gente aceitar um despertar pouco antes das 6h da matina.
 

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