Dilema da Red Bull na escolha do substituto de Webber gera dúvidas sobre investimento em jovens pilotos

A Red Bull investe pesado em seu programa de desenvolvimento de jovens pilotos, mas, até hoje, apenas um garoto deu o retorno que a marca esperava ter: Sebastian Vettel. Daniel Ricciardo é o próximo da lista para correr pelo time na F1, mas ele não foi escolhido de bate-pronto para a vaga de Mark Webber

A dúvida da Red Bull na hora de escolher o substituto de Mark Webber na próxima temporada levantou o questionamento: o imenso investimento realizado no programa de jovens pilotos se justifica?

51 pilotos já passaram pelo Red Bull Junior Team desde sua criação, em 2001. Destes, um reduzido número conseguiu alcançar a F1 junto da marca das bebidas energéticas – oito – e apenas um se destacou: Sebastian Vettel.

Com o anúncio da aposentadoria de Mark Webber ao término da atual temporada, surgiram, de imediato três candidatos à vaga ocupada pelo australiano nas últimas sete temporadas: a dupla da Toro Rosso, Daniel Ricciardo e Jean-Éric Vergne, e o finlandês Kimi Räikkönen.

Basicamente, a escolha seria entre dois jovens que ainda tem muito que provar na F1 ou um campeão mundial que representaria a certeza de bons resultados. O nome de Vergne foi deixado de lado, e o de Fernando Alonso surgiu nas conversas.

icone_warmup Lado a lado: o substituto de Webber
Os números de Alonso, Räikkönen e Ricciardo

Diz-se que essa escolha também envolve uma batalha de interesses na cúpula do time: Christian Horner, chefe da equipe, contra Helmut Marko, chefe do programa.

Horner sempre minimizou qualquer pressão para efetivar os pilotos da Toro Rosso. “Nunca existiu nenhuma pressão de que devemos pegar nossos pilotos do time júnior”, disse quando perguntado pelo GRANDE PRÊMIO. “É claro que eles são considerados, mas não há um pré-requisito de que tem que ser um piloto júnior no próximo ano.”

“Se acabarem escolhendo alguém como Kimi, então tudo bem, porque ele é experiente, já foi campeão do mundo e eles [a Red Bull] são os atuais campeões”, analisou Ricciardo. “Não dá para discutir quanto a isso. Por isso, preciso me certificar de que vou fazer as próximas corridas da maneira que eu quero para ao menos poder dizer que eu tentei”, continuou o australiano.

Daniel Ricciardo recebeu a chance de testar o RB9 em Silverstone para mostrar seu potencial – e agradou (Foto: Getty Images)

Procurando agulhas no palheiro

A ponderação que se faz é que a Red Bull gasta muito dinheiro investindo em jovens de uma forma em que parece tentar ‘achar uma agulha no palheiro’. Isto é, investir em diversos competidores para tentar achar um futuro campeão, mesmo que seja necessário descartar todos os outros.

A agulha já foi encontrada. Em 2007, a escuderia resolveu apostar em um jovem alemão chamado Sebastian Vettel. Agora, seis anos mais tarde, o germânico já conquistou os últimos três títulos da F1 e caminha a passos largos rumo ao quarto.

Caso os boatos envolvendo Daniel Ricciardo se confirmem, então será a segunda vez que a escuderia promoverá um piloto do programa à vaga de titular. Mas para que isso acontecesse, a empresa de energéticos precisou apostar em 51 pilotos, dispensando-os, muitas vezes, após apenas uma única temporada – Christian Klien e Vitantonio Liuzzi chegaram à Red Bull quando o time ainda engatinhava e a Toro Rosso não existia.

Arte: Rodrigo Berton

Essa procura pela qualidade em meio a uma enorme quantidade resulta, também, em um processo de ‘fritura’. Muitos pilotos acabaram passando pelo Red Bull Junior Team e, mesmo que não tenham tido as melhores oportunidades, acabaram limados diante da pressão por resultados.

Um exemplo é o brasileiro Pedro Bianchini, que contou sua história à REVISTA WARM UP em maio do ano passado. O paranaense chegou a assinar um contrato nos mesmos moldes de Vettel, mas se lesionou em um acidente na pré-temporada. Sem uma preparação adequada, não conseguiu corresponder às altas expectativas de Marko. Depois de um ano, estava fora do programa.

A pressão continua até o momento em que se chega à F1 via Toro Rosso. “Eu não tenho uma pista do que os pilotos da Toro Rosso [Vergne e Ricciardo] tem que fazer porque eu não sei o que pediram a eles. Eles pediram que eu vencesse uma corrida, e me pressionaram para isso”, revelou Jaime Alguersuari em entrevista ao GRANDE PRÊMIO.

“Sabendo disso e analisando minha meta pessoal e realista, eu sei perfeitamente qual limite poderíamos atingir, posso lhe dizer que, agora, estou mais do que feliz e muito orgulhoso com o meu trabalho como um piloto de F1”, completou.

O papel da Toro Rosso

Criada em 2006 a partir do espólio da Minardi, a Toro Rosso se tornou a porta de saída do Red Bull Junior Team. O estágio para quem quer se ‘graduar’ e chegar à Red Bull. Até hoje, apenas Vettel passou com êxito por essa tarefa. Liuzzi, Scott Speed, Sébastien Bourdais, Jaime Alguersuari e Sébastien Buemi foram descartados.

“O único propósito daquela equipe é dar aos jovens pilotos do Red Bull Junior Team a oportunidade. [Mas] eles têm que ganhar [a vaga na Red Bull] por mérito”, afirmou Horner.

No caso de Alguersuari e Buemi, os dois pareceram atrapalhados pelo ‘timing’. Ambos estiveram juntos na filial de Faenza entre 2009 e 2011, período em que a matriz de Milton Keynes se consolidou como a equipe mais forte do Mundial de F1 e, embora tenha discutido a renovação de contrato de Webber, manteve seu conjunto inalterado.

Alguersuari acha que merecia continuar na F1 (Foto: Toro Rosso/ Getty Images/ Peter Fox)

Ao mesmo tempo, a Toro Rosso passou a enfrentar mais dificuldades técnicas. Até 2008, era possível construir um carro espelhado no que Adrian Newey desenhava. Claro que Vettel obteria bons resultados de um jeito ou de outro, piloto fora de série que é, mas talvez não fosse capaz de conquistar uma vitória. O fato é que ele conseguiu a proeza de deixar o time B à frente do time A no Mundial de Construtores.

O fechamento dessa brecha no regulamento tornou mais árdua a vida da Toro Rosso, bem como o desenvolvimento de novos talentos. Para complicar ainda mais a vida dos jovens, os testes foram limitados, dando a eles muito pouco tempo de pista.

“A F1 não é uma escola”, falou Alguersuari ao GP. O espanhol estreou na categoria aos 19 anos, quatro meses e três dias, um recorde de precocidade. “Quando eu entrei na F1, eu era muito jovem e inexperiente. Além do mais, tive que fazer a minha primeira corrida sem ter feito um teste antes. Tive que me adaptar à F1 e, felizmente, terminamos com uma grande temporada dois anos depois, quando o time começou a melhorar sua estrutura.”

Em 2011, Jaime somou 26 pontos, nove a mais que Sébastien Buemi e cinco pontos a mais do que os 21 que Ricciardo marcou na carreira de 41 GPs até aqui – essa comparação vale até a página 2, já que é preciso ponderar que o bólido de 2012 rendeu menos que o de 2011. “Dois mais dois nem sempre são quatro na F1”, acrescentou Alguersuari. Esportivamente, ele não vê razão para estar fora do grid.

icon_foto As imagens do Red Bull Junior Team

Ricciardo está pronto?

Os últimos indícios dão conta de que Ricciardo deve correr pela Red Bull em 2014. O ‘Sport Bild’, da Alemanha’, cravou que o australiano será anunciado como substituto de Webber no GP da Bélgica deste fim de semana. E o empresário de Räikkönen disse que as negociações de seu piloto com os rubrotaurinos não deram certo.

“Pessoalmente, prefiro vê-lo por mais um ano no processo de amadurecimento na Toro Rosso”, opinou Franz Tost, chefe do time de Faenza, falando à ‘Speedweek’. “A maior diferença entre Vettel e Ricciardo é que Vettel foi para a Red Bull quando a equipe não era vencedora. Eles cresceram juntos. Ricciardo deve estar imediatamente no pódio e lutando por vitórias. Talvez a chance tenha aparecido com um ano de antecedência.”

É levando isso em consideração que Horner diz com veemência que quer contar com a melhor dupla no próximo ano – daí cogitar assinar com Kimi ou Alonso. “Obviamente, você quer colocar o piloto mais forte possível no carro – e Mark será difícil de substituir."

Daniel Ricciardo está de olho na vaga de Mark Webber (Foto: Getty Images)

Mas após o GP da Hungria, o inglês ressaltou que Ricciardo conseguiu passar bem pelos testes aos quais foi submetido. “Daniel, considerando o equipamento que tem à disposição, tem feito um trabalho muito bom. É por isso que decidimos olhá-lo de perto [no teste de novatos] em Silverstone, e ele foi muito bem. Não poderia ter feito nada mais do que fez, para ser honesto”, respondeu Horner ao GP.

Não deve demorar muito para sair uma resposta com relação ao futuro do segundo cockpit do time. Se a opção for mesmo por Ricciardo, o desempenho do sempre sorridente australiano no próximo servirá para mostrar se os métodos adotados pelo Red Bull Junior Team estão corretos ou se Vettel acabou sendo um ‘golpe de sorte’ – o mais feliz da história da F1.

Até porque o que surgiu como uma das grandes novidades da categoria – com modelos parecidos, como o programa da McLaren, que levou Lewis Hamilton à F1 no mesmo ano que Vettel – já não revela um piloto que chegou ao alto do pódio há quase sete anos.

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