Empresa responsável por autódromo no Rio desiste de construir projeto imobiliário

Rio Motorpark entregou carta de compromisso sugerindo que área prévia para fins imobiliários seja destinada para projetos ambientais. Inea confirmou documento ao GRANDE PRÊMIO

A Rio Motorpark, empresa responsável pelo projeto do autódromo de Deodoro, anunciou nesta sexta-feira (21) que entregou uma carta de compromisso à Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade do Rio de Janeiro informando que abriu mão do desenvolvimento de qualquer empreendimento imobiliário na área.

Consultada, a Secretaria confirmou ao GRANDE PRÊMIO a informação da Rio Motorpark. “O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) informa que a empresa protocolou, nesta sexta-feira, o referido documento que será analisado pelo órgão ambiental estadual”, disse.

Instado a se manifestar a respeito da audiência pública para ouvir a sociedade civil acerca do plano — em que apenas duas pessoas se posicionaram a favor da construção do autódromo —, o órgão disse que “o Inea reitera que só se manifestará acerca do projeto após o parecer técnico final”.

A Rio Motorpark sugeriu, na carta, que o espaço previamente planejado para empreendimento imobiliário seja reservado para desenvolvimento de projetos ambientais, como área de soltura e centro de recuperação para animais silvestres.

“A possibilidade de declinar do desenvolvimento imobiliário na área de contrapartida já vinha sendo discutida há bastante tempo com a SEAS e com o INEA. Estarmos conectados com as diretrizes mundiais de sustentabilidade sempre foi premissa básica da nossa conduta. A recuperação da vegetação degradada da área é mais uma comprovação de que, além de contribuir para a retomada econômica da cidade do Rio, o projeto do novo autódromo internacional representará um significativo ganho ambiental para a cidade”, afirmou JR Pereira, diretor-executivo da Rio Motorpark, em nota.

De acordo com o edital, a área destinada à construção imobiliária, que ocupava 42% do terreno destinado ao projeto, era uma contrapartida da prefeitura do Rio de Janeiro à Rio Motorpark pelo custo do projeto. Assim, a desistência da construção da parte imobiliária levaria, na teoria, ao corte dos lucros do consórcio no projeto.

A decisão da responsável pela obra em Deodoro acontece poucos dias depois da audiência pública virtual. Tanto o Ministério Público Federal quanto o Estadual do RJ afirmaram que o projeto é ilegal. A razão é o impacto ambiental em uma área de mata atlântica, além de processo de licitação irregular. Ambos os MP e ativistas prometeram “longa batalha” contra o projeto.

JR Pereira, representante do consórcio Rio Motorsports, saiu em defesa do projeto ao mostrar vídeo com supostos moradores da região defendendo a construção. O empresário, porém, se recusou a comentar questões financeiras relacionadas à construção do circuito. Além disso, Pereira se limitou a chamar de ‘fake news’ reportagem da revista piauí que diz que seu plano é também construir um condomínio no local.

O empresário também não comentou sobre a origem do dinheiro para a obra e alegou que será privada, acrescentando que só vai mostrar as garantias quando da assinatura do contrato.

Projeto de circuito em Deodoro para receber a F1 (Foto: Reprodução)

Entenda o caso:

O processo de construção do autódromo na região militar é alvo de suspeitas pelo envolvimento da Rio Motorsports, de José Antonio Soares Pereira Júnior, que virou JR Pereira para evitar expor os problemas judiciais que enfrenta desde que uma de suas empresas, a Crown Processamento de Dados, acumulou dívidas superiores a R$ 25 milhões à União.

A Rio Motorsports, através do próprio JR Pereira e de uma das companhias vertentes da Crown, acabou participando da regulação do processo de licitação da obra, algo que qualquer ente público proíbe. Ainda, nunca houve comprovação, por parte da Rio Motorsports, da origem do dinheiro previsto para a construção.

A promessa da Rio Motorsports era tirar o GP do Brasil de Interlagos já a partir de 2021. A proposta ganhou apoio do presidente Jair Bolsonaro, que, em 24 de junho de 2019, disse que era “99% certo” que a corrida passaria a ser realizada no RJ. O projeto do novo autódromo de Deodoro segue parado.

Os últimos meses foram marcados por intensa batalha judicial envolvendo o licenciamento do autódromo. É que ainda em maio a juíza Neusa Regina Larsen de Alvarenga Leite, da 14ª Vara da Fazenda Pública, suspendeu a audiência pública para apresentação do EIA/RIMA [Relatório de Impacto do Meio Ambiente] referente à tentativa de construção da pista na região do Camboatá.

Meses e liminares depois, em meio a uma pandemia de coronavírus, a audiência pública aconteceu de forma virtual na semana passada, durando quase 10 horas, avançando pela madrugada e tiveram tanto o Ministério Público Federal quanto o do RJ afirmando que o projeto é “ilegal” e prometendo longa batalha contra a obra.

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