Força, desempenho e equilíbrio: por que a Mercedes depende tanto de Hamilton

É chover no molhado falar sobre o grande talento de Lewis Hamilton na F1. Os resultados, as conquistas, o modo como o inglês conduz a carreira falam por si. Até o mesmo a maneira como já se aproxima do sexto título mundial é um bom sinal. Mas, nesta temporada ainda, fica mais claro o quanto a Mercedes tem nele seu principal trunfo. E o quanto depende dele para se manter no topo, e isso passa, também, pela renovação do contrato de Bottas

63 pontos à frente do companheiro de equipe e responsável por mais da metade da pontuação total da Mercedes em 2019, Lewis Hamilton caminha a passos largos para o sexto mundial na Fórmula 1. O inglês vive talvez o campeonato mais forte de sua carreira e não parece querer parar tão cedo. São 8 vitórias em 14 corridas até aqui, 12 pódios e 4 poles. O #44 ainda é o único piloto do grid a pontuar em todas as etapas. Apenas dois erros marcam a trajetória neste ano: uma escapada em Spa-Francorchamps, durante o TL3, e a derrapada, com pneus slicks, no encharcado traçado do GP da Alemanha. Quer dizer, o maior vencedor do grid atual se coloca como um adversário difícil de bater, e a performance apresentada nas duas últimas corridas ajudam a entender um pouco mais sobre a razão de estar tão à frente no campeonato e o motivo de a Mercedes depender tanto dele ao ponto de renovar com o apenas mediano Valtteri Bottas para 2020.
 
A verdade é que Hamilton é forte o tempo inteiro e ninguém mais é. Mesmo em corridas em que não parece favorito, por conta de pistas que não atendem bem às necessidades do carro da Mercedes, o britânico de 34 anos surge sólido na disputa pela vitória. Alguém pode dizer que isso só é possível por conta da bela e afinada estrutura dos prateados. E é verdade, mas em partes. O desempenho de Bottas serve como uma boa referência para dizer que, sim, os caras têm um grande carro e um baita pit-wall. Mas só isso não é suficiente para vencer da maneira como Lewis vem fazendo. É preciso ser quase perfeito. 
Lewis Hamilton (Foto: Mercedes)

Lewis vive o auge de sua forma técnica e física, portanto, mas atingiu também uma maturidade ímpar em termos de leitura de corrida, desempenho puro e como tirar o melhor de situações complexas. Raramente se mete em problemas, entende rápido os adversários e sabe como lidar com as fraquezas e com a juventude de seus impetuosos rivais.

 
Era claro que a Ferrari, que apostou em um carro veloz de reta e empurrado por um motor igualmente forte, teria nos GPs da Bélgica e da Itália uma enorme vantagem. Mais que isso, a chance de se recuperar de um ano extremamente difícil, em que se perdeu em erros de tática, ordens de equipe e questões técnicas. A Mercedes, por outro lado, encarava as duas provas como etapas em que precisaria controlar as perdas, uma vez que o W10 foi projetado para se dar melhor em traçados com curvas de baixa e média velocidade. Só que a equipe prata se apresentou veementemente competitiva, sobretudo com Hamilton.
 
Em Spa, é bem real dizer que a diferença na classificação assustou. Charles Leclerc cravou a pole impondo uma vantagem de 0s744 em cima de Hamilton, que foi centésimos mais lento que Sebastian Vettel – o alemão enfrentou problemas e cometeu erros demais naquele dia. Só que, na corrida, a história contada foi bem diferente. Hamilton surpreendeu os ferraristas ao acompanhar o ritmo de prova, cuidou e usou os pneus na hora certa. Foi tão impressionante a reação do inglês que a Ferrari precisou trabalhar na tática de Vettel para impedir o crescimento adversário. Ainda assim, o pentacampeão cruzou a linha de chegada colado em Leclerc. Para efeito de comparação, Bottas só apareceu 12s depois dos dois líderes, obedecendo ao mesmo estratagema.
 
Ou seja, em uma prova em que a Ferrari deveria mandar, Hamilton se colocou como força e até venceria. O mesmo aconteceu em Monza, no último domingo, com a diferença de que os vermelhos não foram tão contundentes na definição do grid. De novo, Leclerc ficou com a pole, mas por uma margem minúscula de 0s039. E se não fosse a confusão dos instantes finais, o inglês poderia até ter tomado a ponta. No domingo, a Ferrari, novamente, se viu sendo perseguida pelo #44. Enquanto teve pneu, Lewis jamais deixou a distância para o monegasco crescer acima de 2s. Foi uma prova tensa, marcada por uma dividida de curva e um motor que falou mais alto.
"Eu acho que sabíamos que não tínhamos o melhor pacote para Spa e Monza. Eu penso que segundo e terceiro foi um resultado ótimo. Falei antes que se terminássemos nestas posições, aceitariamos. É claro que no final, tem um sentimento incompleto de felicidade. Você tenta seguir o carro, asa aberta, longa reta e não consegue se aproximar. Tem um sentimento óbvio de que não estávamos lutando com as armas certas", avaliou Toto Wolff após o GP da Itália.
Charles Leclerc e Lewis Hamilton (Foto: AFP)

Ainda assim, a corrida foi concluída com a impressão de que Hamilton, mais do que a Mercedes, poderia ter endurecido mais a briga se tivesse optado por uma estratégia um pouco diferente. Uma prova foi o fato de que Bottas, mais uma vez, não foi capaz de tirar vantagem dos melhores pneus para caçar o jovem ferrarista

 
"Parece que ele tem dificuldades quando chega em um ponto que precisa tirar o máximo do carro. Lewis, naquela posição, consegue ficar próximo e se colocar em uma posição para ultrapassar. É algo que ele [Bottas] precisa trabalhar em cima, mas pensando positivo, ele foi bem hoje. Foi muito rápido. Provavelmente teve o carro mais rápido", falou o chefão da Mercedes.

Ao longo do ano, Hamilton venceu onde deveria, controlou as situações quando se viu em desvantagem e pôs no bolso seu companheiro de equipe. Quando não deu para ganhar, ainda foi ao pódio. Simples assim. 

 
Daí se entende a razão pela qual a Mercedes tem em Hamilton seu maior bem e o quanto vai fazer para preservá-lo. E isso passa, inclusive, pela escolha de Valtteri para seguir na equipe. Mesmo que não reproduza performances como as de Lewis, o finlandês cumpre seu papel de somar pontos, mas, principalmente, é responsável pela tranquilidade que existe nas garagens prateadas, que, no fundo, é mais do que a equipe alemã deseja para que nada altere o equilíbrio lá dentro.

"Se eu não estivesse lutando pelo título, não teria mexido para evitar o toque e provavelmente bateríamos", disse Lewis sobre a briga com Leclerc na Itália. “A gente vai aprendendo aos poucos como esses pilotos novos se comportam, como lidam com essas situações. Da próxima vez talvez eu possa fazer um trabalho melhor."

Por fim, ass duas declarações também são emblemáticas e servem para compreender por que Hamilton faz o que faz.

 

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