Fórmula 1 entra com pé na porta em nova fase no Brasil com Band e F1TV

Com GP do Bahrein da briga entre Max Verstappen e Lewis Hamilton, Fórmula 1 entrou em nova fase na televisão brasileira com Band e F1TV

Hamilton vence na estratégia e pega Verstappen: assista como foi o GP do Bahrein (Vídeo: GRANDE PRÊMIO com Reuters)

A temporada 2021 do Mundial de Fórmula 1 começou no último fim de semana, no Bahrein, abrindo um campeonato surpreendentemente animador no que diz respeito à briga pelas primeiras posições. É uma absoluta surpresa, com tão poucas mudanças nas regras, que a Mercedes tenha visto alguma rival emparelhar. Além disso, o pelotão intermediário ganhou ares de trocação numa luta de rua: muita gente com capacidade de duelar. Mas teve mais que isso. O GP disputado em Sakhir abriu um novo momento histórico da Fórmula 1 na TV brasileira.

Após quatro décadas na Globo, o Mundial apareceu na tela de outra emissora de televisão, a Band, que passou os últimos meses montando uma equipe especial para estar à altura do desafio. Fora a Band, com TV aberta e fechada, chegou ao Brasil e F1TV, serviço de streaming oficial da categoria que já fazia transmissões mundo afora nos últimos tempos.

Desafios, público e alcance são bastante distintos para estas duas exigências. O GRANDE PRÊMIO destrincha como foram suas estreias.

BAND; BAND TV; TRANSMISSÃO BAND F1; FÓRMULA 1;
A Band alcançou grandes números de audiência com a F1 neste domingo (Foto: Reprodução)

Fórmula 1 na Band

Passado o calor do fim de semana a respeito de uma reestreia ‘com o pé na porta’, é possível analisar a primeira transmissão da nova era da Fórmula 1 na TV brasileira com a certeza de que há, infinitamente, muito mais pontos positivos do que negativos a mencionar. É preciso dizer que a Band (ou Bandeirantes, como dizem os puristas) começou muito bem sua segunda passagem como a emissora responsável por transmitir o Mundial para o país.

Antes de fazer o recorte para o que foi a cobertura da Fórmula 1 em si na tela da emissora do Morumbi, cabe aqui o destaque para o que fez o Grupo Band, no seu canal por assinatura BandSports, ao tratar bem também a Fórmula 2. No ano passado, a principal categoria de acesso à F1 teve as suas transmissões no YouTube, gratuitas, mas apenas das corridas.

O BandSports foi além e transmitiu todas as atividades do fim de semana da F2: desde o treino livre, único, passando pela classificação e as três corridas do fim de semana. Se o novo formato foi puxado para os pilotos lá na pista, também dá para afirmar que tenha sido o mesmo para quem trabalhou na cobertura da categoria, mas a equipe de transmissão do BandSports, liderada pelo ótimo Celso Miranda, deu conta do recado.

Quanto à Fórmula 1, a primeira impressão neste retorno ao grupo Bandeirantes é que a principal categoria do esporte a motor é encarada mesmo como o mais importante produto da emissora.

O fim de semana de cobertura na TV aberta refletiu essa importância: houve, desde o começo, muito carinho, respeito e dedicação à categoria, com direito a inserções em praticamente todos os programas da casa: desde a presença do piloto e comentarista Max Wilson como convidado do apresentador Edu Guedes no programa ‘The Chef’ e a participação de Reginaldo Leme no ‘Jogo Aberto’, apresentado por Renata Fan. Até no ‘Melhor da Tarde’, da carismática Cátia Fonseca, a Fórmula 1 foi assunto.

No BandSports, houve ampla cobertura desde 7h de sexta-feira, com o início do treino livre da Fórmula 2, e os trabalhos seguiram por horas a fio até depois do fim do TL2 da Fórmula 2, o que aconteceu pra lá de 13h. O mesmo se viu no canal fechado também no sábado, um dia muito intenso com o treino livre 3 e a classificação da Fórmula 1, além das duas corridas da Fórmula 2.

A grande cereja do bolo foi mesmo o domingo. A transmissão pré-corrida do GP do Bahrein começou às 9h, sendo apresentada por Glenda Koslowski e Elia Jr. e teve a presença da nova e parruda equipe de automobilismo da Band: o narrador Sérgio Maurício, o jornalista Reginaldo Leme e os pilotos comentaristas Felipe Giaffone e Max Wilson, além de Mariana Becker ao vivo lá no Bahrein.

Entretanto, a atração ficou disponível apenas para algumas praças, como São Paulo, ou para quem recebe o sinal por operadoras como a Sky, que vem da capital paulista. Ocorre que muitas afiliadas têm suas respectivas programações dedicadas a conteúdos locais e horários vendidos a produtoras independentes ou igrejas.

Nesta primeira parte do pré-corrida, a Band levou ao ar entrevistas com Emerson Fittipaldi e Nelson Piquet, ícones brasileiros do esporte a motor e campeões mundiais de Fórmula 1. A presença de ambos trouxe um natural peso à transmissão. Emerson foi um dos grandes nomes que brilharam na emissora nos anos 1980 e 1990, graças também ao saudoso Luciano do Valle, o grande idealizador do Show do Esporte, que tinha na Indy uma das suas atrações.

O programa teve o mérito de chamar a reportagem em que Nelson Piquet pilotou o novo Stock Car do filho, Nelsinho, que apresentou o layout para 2021. Foi bem interessante e importante porque trouxe à baila outra atração da Band — a Stock Car vai ser transmitida pela emissora pelos próximos cinco anos. Tudo correu muito bem até então.

Foi logo depois que veio o tal ‘Globolixo’ dito por Piquet. Uma grosseria desnecessária e que manchou a ótima cobertura da Band. Uma falta de respeito tremenda à história da Globo, emissora que levou às televisões do Brasil a Fórmula 1 por 40 anos e que foi fundamental para a construção não apenas das carreiras de praticamente todos os presentes àquele estúdio, Inclusive Piquet, mas também crucial para o desenvolvimento até mesmo da cultura do esporte a motor no país. Pegou mal demais.

A transmissão pré-corrida, que em rede nacional começou às 11h30, teve como ponto alto as entradas de Mariana Becker no link ao vivo direto de Sakhir. Desde as primeiras horas da cobertura, a experiente e ótima jornalista gaúcha trouxe os bastidores do paddock e brilhou, com seu natural carisma, com grande talento na tela da TV. Com inserções certeiras e leves, Mariana foi a grande estrela da cobertura.

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O fã mais desavisado, ao assistir a corrida, poderia nem sequer ter percebido que a corrida estava sendo transmitida na Band e não na Globo. Não apenas pelos profissionais envolvidos, uma equipe tarimbada e toda conhecida dos espectadores e fãs do esporte, mas também há o fato de que não houve grandes diferenças em relação ao propalado ‘padrão Globo de qualidade’ na dinâmica da Band ao longo da prova.

Para completar o espetáculo, o GP do Bahrein foi excelente e emocionante do início ao fim, sendo coroado por uma grandiosa vitória de Lewis Hamilton no embate contra Max Verstappen.

A Band mostrou as entrevistas com os três primeiros colocados, algo que a Globo já fazia, é preciso salientar, e cumpriu com a promessa de transmitir todo o pódio. Diga-se de passagem, a emissora carioca mostrou a cerimônia de premiação por 37 anos seguidos, deixando de lado a entrega dos troféus e a festa do champanhe somente nos últimos três. Mas foi bom ver novamente as comemorações em TV aberta. Outro ponto positivo para a Band.

Fica também importante destaque para o pós-corrida, quando, aí sim uma novidade em absoluto, foi exibida ao vivo uma entrevista de Mariana Becker com o vencedor, Hamilton, no chamado ‘cercadinho’, onde os pilotos dão as entrevistas para as emissoras de TV nos paddocks da F1. Foi uma fala bastante rápida, mas o suficiente para que Mariana e Hamilton falassem da preocupação com o Brasil — epicentro mundial da pandemia — e o desejo do heptacampeão conhecer um dos pontos turísticos mais conhecidos do país, os Lençóis Maranhenses.

Foram mais de 5 horas ininterruptas de transmissão dedicadas à Fórmula 1, que ainda foi abordada no ‘Terceiro Tempo’, de Milton Neves, com a presença de Reginaldo Leme.

Os pontos desfavoráveis à Band foram, na sua maior parte, operacionais, como a ausência do sinal para os telespectadores que dispõem de antena parabólica. A transmissão da Band SAT não liberou as imagens da F1, o que já havia acontecido no sábado. O levantamento mais recente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), feito em 2018, informa que 22 milhões de residências no Brasil contam apenas com antena parabólica para ver TV. Ou seja, é um público muito expressivo. A emissora entregou a transmissão no seu site oficial e no aplicativo de streaming BandPlay, mas houve muitas reclamações sobre dificuldades para assistir à corrida por tais meios.

A seu favor, a emissora confirmou o comprometimento com o seu maior produto e mergulhou de cabeça para entregar uma cobertura incansável e de muito fôlego. Definitivamente, foi um grande começo. Não à toa, o trabalho teve amplo retorno em termos de audiência: crescimento de 400% horário, picos de 6,4 pontos e média de 5,2 pontos em dados consolidados do Kantar Ibope Media na Grande São Paulo, com share (porcentagem das televisões ligadas) de 11,2%. Pode parecer pouco para quem está acostumado aos números imbatíveis da Globo, mas são marcas expressivas demais para a Band e que mostram, novamente, a força da F1 no Brasil.

Fica a expectativa para o que a Band e o BandSports vão entregar para o GP da Emília-Romanha, em Ímola, entre 16 e 18 de abril. E aí inevitavelmente tais perguntas vêm à tona: esse [ótimo] padrão de cobertura vai ser sempre assim? Ou foi algo circunstancial em função da estreia e da necessidade de apresentar um forte cartão de visitas para o público, para o patrocinador e para as marcas se interessarem em adquirir as cotas?

É de se imaginar que, com a próxima corrida tendo largada às 10h, o pré-corrida não tenha mais as três horas de duração, mas o nível de cobertura foi tão elevado para o GP do Bahrein que o exigente fã do esporte a motor espera algo que seja do mesmo patamar. Também se espera uma solução no que diz respeito às transmissões para as parabólicas e também para o aplicativo.

Em termos de qualidade de cobertura, foi um trabalho digno da melhor nota. Uma pena a fala infeliz de Piquet, mas tudo isso não apaga o grande trabalho feito pela Band, no Bahrein e em São Paulo, na cobertura da F1.

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Fórmula 1 na F1TV

É necessário que se diga que a F1TV já existia no Brasil com seu plano mais barato e com menos serviços, mas a transmissão de TV chegou apenas em 2021 com o Plano Pro. Imediatamente abre caminhos diferentes para o público nacional. É verdade que – e não sejamos puritanos aqui – alguns dos mais aficionados e com paciência e conhecimento da internet podem ter vasculhado a rede para assistir a uma transmissão internacional por meios escusos, mas a grande maioria do público, mesmo do público apaixonado, foi apresentado a outro estilo.

A transmissão em português – ainda não está claro como funcionará – chega ao Brasil no GP de Portugal, mas por enquanto a transmissão disponível é aquela em língua inglesa. Da Sky Sports da Inglaterra, especificamente. Trata-se da transmissão de maior repercussão internacional pelo conjunto de alcance, idioma e seriedade com que é tratada.

É evidente que, para o público brasileiro, há uma barreira da língua. Mas há um grande público do nicho do esporte a motor bem versado no idioma, ao menos para compreender o que se passa. O preço do pacote é bastante acessível: está no mesmo patamar do que o torcedor do futebol do Rio de Janeiro paga para acompanhar o Cariocão 2021 em pay per view ao longo de três meses. Então é uma situação interessante para o fã de mais afinco que deseja saltar na quantidade de informações que tem a mão.

Necessário dizer que, ao tratar a transmissão da F1TV como fornecedora de mais informação, não é uma comparação direta entre as equipes de transmissão. Quem assinar o serviço de streaming, pode muito bem acompanhar as duas transmissões ao mesmo tempo ou em momentos distintos, mas as informações que estão no painel do livetiming da Fórmula 1 são bastante específicos, coisa que transmissões de TV podem apenas salpicar, mas jamais falar a fundo.

Por meio das informações do serviço prestado pela Fórmula 1, quem acompanha pode seguir as posições e as voltas, claro, mas também tem às mãos o histórico de pneus traçados por cada piloto, o que ajuda a entender estratégias; há um gráfico que mostra variações no desempenho de cada piloto ao longo da corrida; as variações climáticas e de desempenho em cada um dos setores da pista também acessado a todo momento; bem como comparações constantes nos ritmos das voltas. Tudo isso é on demand: quem paga pelo sistema pode selecionar o que quer ver, sobre quais pilotos e em quais momentos.

Há ainda o serviço de decisões sobre as câmeras que você pode acessar, quais os rádios quer ouvir, coisas que, conforme a temporada for passando, serão melhor manuseadas por aqueles que pagaram o streaming.

Já na TV, o estilo é mais analítico. Não que falte informação na transmissão brasileira, mas é uma questão editorial de como embalar esse tempo passado ao vivo durante as transmissões. A equipe, sempre presente às pistas, é de altíssimo nível.

A F1TV chegou de vez ao Brasil (Arte: F1TV)

O narrador titular, David Croft, deu lugar à apresentadora e repórter Natalie Pinkham para a transmissão do primeiro treino livre, e Pinkham foi muito bem, dominando a sessão ao lado do campeão mundial Jenson Button e do também ex-F1 Karun Chandhok.

O interessante que aponta também para a Band é que a Sky Sports fez algo muito parecido quando comprou os direitos de transmissão da F1 na Inglaterra, para a temporada 2012, e levou consigo a equipe praticamente inteira que fazia as transmissões na Rádio BBC: Croft, Pinkham, além do repórter Ted Kravitz e do piloto e comentarista Anthony Davidson, todos estes ainda estão na cobertura da emissora.

Além destes, fazem parte das transmissões Martin Brundle, que se transformou num dos comentaristas mais animados do mundo, Johnny Herbert e Paul di Resta, além dos jornalistas Rachel Brookes, Craig Slater e Simon Lazenby. Damon Hill e Nico Rosberg fazem parte das transmissões, mas não estiveram no Bahrein.

O que mais encanta das transmissões da F1TV é a forma natural como este imenso e intenso grupo de jornalistas, pilotos e ex-pilotos soltam informações importantes. Pela proximidade com os personagens da F1 atual, a óbvia conexão com o paddock de quem já anda por ele há muitos anos e a presença frequente, corrida após corrida, teste após teste, o grupo da Sky/F1TV se informa e informa ao público a todo momento, fruto das muitas conversas ao longo do fim de semana. Conhecimento esse que só pode ser amealhado como presença fixa do mundo particular que é o paddock da Fórmula 1.

Quando dá espaço cada vez maior para Mariana Becker, a Band oferece abertura para algo semelhante, mas aqui entra uma limitação humana: Mariana, por melhor repórter que seja – e é -, é uma pessoa só. A equipe que se consegue manter vivendo no paddock é muito menor do que a verdadeira tropa da Sky. Natural que esses muitos braços se espalhem por diversos locais ao mesmo tempo. É o que torna essas transmissões, a cada treino livre, bastante importantes para entender o que se passa num dado fim de semana.

O certo é que são dois estilos diferentes e que abrem o horizonte do fã de esporte a motor. Se até o ano passado a F1 só passava a existir na TV dez minutos antes da largada, nesse 2021 o inveterado pode escolher entre o vitaminado pré-corrida de três horas da Band e o programa de pouco menos de uma hora, mas com bastante informação com Rosanna Tennant e Sam Collins, dos estúdios na Inglaterra, mas com informações interativas e participações diretas do paddock.

Quem ganha é o público. E ganha bastante.

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