Fórmula 1 reage à saída da Honda e discute mudanças para reduzir custos de motor

Seja com o congelamento no desenvolvimento, seja com um projeto de unidade motriz mais simples, a Fórmula 1 está em alerta com o anúncio da saída da Honda ao fim de 2021 e planeja se reunir depois do fim de semana do GP de Portugal para buscar soluções e tornar o motor mais barato e menos complexo

A decisão da Honda de bater em retirada e deixar o Mundial de Fórmula 1 depois do desfecho da temporada 2021 definitivamente acendeu o sinal de alerta na categoria e, ao mesmo tempo, expôs sua fragilidade. A saída da fábrica japonesa vai deixar o grid com apenas três fornecedores de motor — Ferrari, Mercedes e Renault — e sem nenhuma perspectiva de atrair uma nova marca, sobretudo porque o atual padrão vai continuar em vigor pelo menos até o fim de 2025.

O grande assunto da Fórmula 1 nos últimos dias foi o tema central da entrevista coletiva dos chefes de equipes nesta sexta-feira (9) chuvosa sem atividades de pista em Nürburgring, palco do GP de Eifel. No fim das contas, há um consenso que a categoria precisa estabelecer mudanças para ser sustentável e, principalmente, mais barata. Por isso, há a perspectiva de uma reunião entre os chefes de equipe para depois do GP de Portugal, prova que vai ser disputada no próximo dia 25 de outubro.

Um dos pontos debatidos diz respeito à nova geração de motores, que só vai entrar em vigor, de acordo com o cronograma atual, em 2026. A mudança outrora estava prevista para 2025, mas foi atrasada em um ano por conta da pandemia. Christian Horner, chefe da Red Bull — a equipe mais impactada por conta da saída da Honda, sua parceira desde o ano passado —, levantou a questão.

As unidades motrizes que equipam a F1 são vistas como caras e extremamente complexas (Foto: Renault Sport)

“2026 não é muito longe para um novo motor? Se entrarmos em acordo sobre um novo conceito e preferirmos isso, então essa pergunta deve ser respondida rapidamente”, salientou.

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Já o chefe da Ferrari, Mattia Binotto, lembrou que a tecnologia bastante complexa das unidades motrizes híbridas, em vigor na Fórmula 1 desde 2014, é muito cara. O contraste com o baixo retorno esportivo, com exceção da Mercedes, acaba por desestimular as demais fornecedoras.

“Temos de pensar no próximo passo melhor que o anterior. O resultado foi uma tecnologia impressionante, mas perdemos completamente a mão dos custos”, explicou o dirigente ítalo-suíço.

Na década de 2000, a Fórmula 1, ainda na era dos motores aspirados, contou com um número muito maior de montadoras envolvidas com o esporte, como a Cosworth, a própria Honda, mas também BMW e Toyota. A grave crise econômica que eclodiu no fim da década foi usada como justificativa para a grande debandada naquela época. A adoção da era híbrida tornou os custos ainda mais altos e impeditivos.

Portanto, o grande desafio que a Fórmula 1 tem pela frente é controlar os custos e, ao mesmo tempo, definir as bases de um novo motor que seja mais simples e atraente às novas fábricas.

É por isso que os dirigentes responsáveis pelas equipes já discutem uma mudança que tornaria a unidade motriz menos complexa, baseada ainda no conceito híbrido, V6 turbo, mas com uma unidade geradora de energia cinética padronizada a partir de 2023, assim como a adoção de combustíveis sintéticos.

Anúncio da saída da Honda expôs a fragilidade da Fórmula 1 (Foto: Getty Images/Red Bull Content Pool)

Segundo a revista alemã Auto Motor und Sport, há a previsão de economia de cerca de R$ 137 milhões na esteira de restrições de desenvolvimento que já vão entrar em vigor a partir de 2021. Mas não parece ser o suficiente. Nos bastidores, há um clamor para o congelamento por completo dos motores. Só que isso não agrada a Ferrari, principalmente, em razão da clara falta de performance ao longo desta temporada.

A respeito da saída da Honda, Toto Wolff, chefe da Mercedes, lembrou um ponto fundamental. “Às vezes, os investimentos só compensam a longo prazo”. O fato é que a marca de Sakura, embora tenha iniciado os trabalhos de pesquisa e desenvolvimento muito antes, entrou no grid na era híbrida a partir de 2015, um ano depois das concorrentes, e o atraso comprometeu os primeiros anos de trabalho. O que, consequentemente, contribuiu muito com o fracasso da parceria com a McLaren. A Honda só reencontrou o caminho das vitórias com a Red Bull, em 2019.

“A Mercedes teve de ficar na fila por três anos antes que o sucesso chegasse. Desde então, nosso retorno sobre o investimento tem sido o correto. Se isso não for garantido, então, este é um motivo aceitável para sair”, disse o dirigente austríaco, chefe da equipe que domina a F1 desde o início da era híbrida.

Binotto, por sua vez, deu uma leve cutucada na Honda. “Ir e vir faz parte. Vemos isso com outros fabricantes também. Só a Ferrari sempre foi fiel à Fórmula 1”, disse.

A Renault, assim como a Honda, enfrentou muitos problemas, tanto de performance quanto de confiabilidade, nos primeiros anos dos motores híbridos, o que azedou e causou a ruptura do casamento com a Red Bull em definitivo ao fim de 2018. Na visão de Cyril Abiteboul, chefe e diretor da marca francesa, não fazia sentido para a montadora atuar somente como fornecedora na Fórmula 1. “Para nós, a Fórmula 1 como parceira de motor não valeu a pena. Por isso que voltamos como equipe de fábrica”.

Foi do dirigente francês, aliás, o apelo para que a F1 voltasse as suas atenções para garantir um futuro que seja um pouco mais sustentável.

“Quero deixar bem claro que não estamos satisfeitos com a situação da Honda. Não é positivo para a Fórmula 1. Queremos uma Fórmula 1 com montadoras de automóveis, com fornecedores de motores, e ter somente três fábricas de motores não é positivo”, disse o engenheiro francês em entrevista à revista britânica Autosport.

“Precisamos tirar algumas conclusões claras desta situação, e isso é algo que venho pedindo à gestão [da F1] para avaliar com mais cuidado. A situação do motor é simplesmente insustentável. Particularmente no sentido econômico, mas também diante de uma perspectiva de tecnologia”, alertou.

“Ou conseguimos mudar essa percepção da arquitetura do motor atual ou provavelmente vamos precisar acelerar a adoção de uma nova arquitetura para que todos possamos chegar a um lugar melhor. Espero que este desenvolvimento desencadeie uma ideia sobre a programação da nova geração de unidades de potência”, complementou Abiteboul.

O terceiro treino livre está marcado para 7h (horário de Brasília), enquanto a sessão que vai definir o grid de largada em Nürburgring está marcada para 10h. O GRANDE PRÊMIO acompanha todas as atividades do GP de Eifel de Fórmula 1 AO VIVO e em TEMPO REAL.

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