Frio e baixa aderência: Las Vegas desafia e ensaia briga tripla. Red Bull volta a sofrer

O primeiro dia de treinos livres em Las Vegas viu uma surpreendente Mercedes à frente, lidando muito com a baixa aderência do circuito urbano, mas também confusa e sem saber de onde veio tanta performance. Se seguir assim, a equipe alemã tem chance de se colocar na luta que parece mais provável na Cidade do Pecado: McLaren x Ferrari. Enquanto isso, a Red Bull se atrapalha e reprisa velhos problemas

Obedecendo à deliciosa imprevisibilidade de 2024, a Fórmula 1 se deparou com um primeiro dia de treinos livres tão excêntrico quanto a própria Las Vegas, que recebe o campeonato para a antepenúltima etapa da temporada. No iluminado e pouco aderente traçado do centro da Cidade do Pecado, a Mercedes brilhou nesta sexta-feira (22). Lewis Hamilton foi o mais rápido nas duas sessões do dia, mas saiu do carro sem saber a razão para tamanha performance. E isso resume bem o cenário deste início de fim de semana, porque ainda houve uma McLaren buscando o limite e uma Ferrari tentando driblar os efeitos do frio intenso do deserto. Sem contar a Red Bull, que reviveu velhos perrengues. De toda a forma, há um desafio muito particular pela frente e uma boa notícia: a terceira visita do Mundial aos Estados Unidos parece a menos óbvia de todas.

Parte dessa sensação se deve à natureza do circuito que envolve uma das mais famosas cidades do mundo. São pouco mais de 6 quilômetros compostos por três retas e 17 curvas, uma grande parte de baixa velocidade. Portanto, a configuração aerodinâmica aqui precisa atender não só os trechos de alta, mas também proporcionar tração e equilíbrio. E há duas ressalvas importantes: o frio e a aderência. A queda da temperatura à noite é um fator sensível aos pneus. A Mercedes foi capaz de lidar bem e sentiu pouco, mas a Ferrari teve mais problemas. Naturalmente, pistas de rua são mais sujas e menos aderentes, mas Las Vegas vai além. Isso se confirmou nesta sexta: muita gente enfrentou extrema dificuldade não só em aquecer os pneus, mas também em parar no asfalto. Max Verstappen, apenas 17º na tabela, foi no ponto: “É como guiar no gelo”.

Mas de alguma forma a esquadra alemã conseguiu arrancar desempenho nesse contexto. O W15 mostrou uma enorme velocidade de reta e sofreu pouco nos trechos de baixa. Ainda, também não encarou maiores problemas para entrar em uma janela de temperatura mais adequada. Então, é possível dizer que a octacampeã leva vantagem na volta única e, se permanecer nesse ritmo, entra na luta pela primeira fila. “É difícil saber exatamente onde estamos ou por que estamos onde estamos, mas estou realmente gostando de guiar nesta pista e acho que veremos se o carro será o mesmo amanhã”, disse um perplexo Hamilton.

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“O ritmo da corrida não é tão bom, então o trabalho que temos de fazer durante a noite é descobrir como ter um ritmo de corrida melhor sem perder o ritmo real ao longo da volta. Mas foi bom ter setores consecutivos, e o carro não me tirou do sério, o que foi bom”, completou.

George Russell acompanhou o desempenho do colega de garagem. Foi segundo colocado no TL1 e terceiro no TL2, quase 0s2 atrás de Lewis. O inglês também saiu confuso, mas ainda tentou entender o cenário. “Adoraria dizer por que [desse desempenho], para ser honesto, estamos coçando a cabeça um pouco sobre o motivo de ter sido tão positivo. O carro está funcionando bem. Mas estamos em uma pista de rua, é muito suja, vai ficar mais e mais rápido a cada volta. Porque fomos rápidos hoje, não significa necessariamente que vamos repetir isso amanhã, a pista provavelmente será 3s mais rápida”, alertou.

“Você sabe, com certeza há uma possibilidade de que isso aconteça novamente amanhã, mas a diferença que mostramos esta tarde e esta noite foi bem substancial. Só que tenho certeza que os rivais vão trabalhar muito para tirar isso. Só espero que possamos continuar com a mesma forma”, completou o piloto #63.

É nisso que aposta a McLaren. A equipe papaia tenta capitalizar em cima das mazelas da Red Bull com a meta de prolongar a disputa. Lando Norris terminou o dia com o segundo melhor tempo, apenas 0s011 atrás de Hamilton. É um candidato à pole, não há o que questionar. Embora também tenha enfrentado problema para aquecer os pneus e não tenha exibido a velocidade de reta costumeira, o carro laranja impressionou nas curvas de baixa — o ponto forte do modelo inglês. O sábado deve mostrar um passo à frente e algumas correções, até mesmo para melhorar a performance em reta, calculando um poderoso Q3, para tirar proveito no domingo.

Lewis Hamilton liderou o dia, mas nem sabe como (Foto: AFP)

Isso porque os britânicos têm o que celebrar: o forte ritmo de corrida. Ainda que Norris não tenha feito a simulação propriamente, o desempenho de Oscar Piastri — oitavo no TL2 — foi significativo. O melhor entre as quatro ponteiras do campeonato — menos de 0s1 para a Ferrari, porém quase 0s4 melhor que Red Bull e Mercedes. Todos nos pneus médios. “Como no ano passado, com as condições frias, esperávamos baixa aderência e um comportamento único dos pneus, e foi o que aconteceu”, afirmou Andrea Stella, chefe do time laranja-papaia.

“Encontrar a configuração certa não é fácil, mas ainda parecemos ser relativamente competitivos. No entanto, a Mercedes parece estar muito rápida, assim como a Ferrari e tenho certeza de que a Red Bull também será forte”, completou.

De fato, a Ferrari deve desempenhar um papel interessante na disputa como um todo. A SF-24 teve dificuldades para encontrar temperatura, e isso demandou trabalho da garagem de Maranello. O frio realmente é uma questão delicada para os italianos. Por isso, o ritmo de classificação é tão comprometido. A volta única precisa de todo o calor que puder e nem sempre é tão fácil. Mas há um ponto forte: a performance em corrida. Tanto Carlos Sainz (4º no dia) quanto Charles Leclerc (5º) foram capazes de impor um ritmo consistente e praticamente igual ao da McLaren.

“Estamos lutando um pouco com os pneus devido à temperatura muito baixa”, contou o monegasco. “A Mercedes parece muito forte, mas vimos ao longo da temporada como eles são mais agressivos com os pneus, aspecto que nessas condições representam uma vantagem. Temos de tentar encontrar algo para mudar a situação, mas não estamos tão longe. Vimos que o ritmo de corrida é bom e é um pouco a história desta temporada. Sofremos mais na classificação, mas nos saímos melhor na corrida. Melhor assim do que o contrário.”

Lando Norris tenta prolongar a disputa com Verstappen (Foto: McLaren)

Por fim, há a Red Bull. Certamente, entre as ponteiras, foi a equipe que mais sofreu com a falta de aderência do circuito de Las Vegas. E isso comprometeu o equilíbrio e a confiança no RB20. Como se não bastasse, o time ainda errou a mão na asa traseira — terá de tentar trazer outra da fábrica — e registrou perda de 0s6 em reta na comparação com as adversárias, então o fim da tabela acaba não surpreendendo. O problema é que os taurinos retomam, assim, dificuldades que pareciam sanadas. Nem o ritmo de corrida convenceu. Está em apuros.

“Acho que tivemos muita dificuldade em fazer os pneus funcionarem em uma volta. Na simulação de corrida, ainda temos algumas coisas para mudar”, afirmou Verstappen, que tem a chance de fechar o campeonato neste fim de semana, mas precisa chegar à frente de Norris. “Para mim, a sensação é de que o problema está muito relacionado aos pneus. É como pilotar no gelo”, completou.

Portanto, a etapa em Las Vegas já oferece um desafio bem particular às equipes, mas ensaia também uma briga múltipla, o que é sempre uma boa aposta.

GRANDE PRÊMIO acompanha AO VIVO e EM TEMPO REAL todas as atividades do GP de Las Vegas, na Las Vegas Strip, e transmite classificação e corrida em segunda tela, em parceria com a Voz do Esporte, na GPTV, o canal do GP no Youtube. Depois das atividades de cada dia, debate tudo o que aconteceu no Briefing. Ainda na noite de sexta-feira (22), os piloto realizam o terceiro treino livre, às 23h30 (de Brasília, GMT-3). Em seguida, na madrugada de sábado (23), disputam a classificação às 3h. Por fim, a largada da corrida em Las Vegas será no domingo (24), às 3h.

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