Bortoleto encara batismo de fogo na Austrália, mas saldo da estreia ainda é positivo

Gabriel Bortoleto fez grande classificação e levou a Sauber ao Q2, mas sofreu com a pista traiçoeira do GP da Austrália na chuva. O brasileiro se queixou boa parte da corrida de problemas nos freios e acabou no muro em prova que foi marcada por um batismo de fogo de quase todos os novatos. Ainda assim, Bortoleto deixa Melbourne com motivos para ficar mais confiante

Gabriel Bortoleto experimentou a dor e a delícia de ser um piloto de F1 no primeiro fim de semana oficial na categoria. No último domingo (16), o brasileiro fechou a estreia no GP da Austrália no muro depois de ter impressionado especialmente pelo que fez na classificação, levando o ainda instável carro suíço ao Q2.

A primeira etapa disputada por Bortoleto na F1, no fim das contas, foi de altos e baixos. E era mais do que natural que fosse assim, são coisas inerentes ao noviciado, afinal. Gabriel fez treinos livres consistentes como já havia sido na pré-temporada e, quando o negócio estava valendo, foi além: o 15º lugar no grid da Austrália, de Sauber, teve cara de pole. Mesmo que ele discordasse disso em partes.

“Fui para o Q2, mas acho que fui muito ambicioso, de alguma maneira pensei ‘se eu fizer uma volta daquelas que surgem uma vez a cada cinco anos talvez eu consiga ir para o Q3 aqui’, o que acho bem difícil, porque realmente as distâncias estão grandes”, explicou o jovem piloto em entrevista à emissora brasileira Band, falando do erro cometido na segunda parte da definição do grid.

O fato é que, do alto de seus apenas 20 anos, Gabriel mostrou ainda no sábado o que faz na F1. E até o erro no Q2 diz muito sobre sua personalidade, de um cara que arrisca, que vai para cima. Foi assim que foi campeão de F3 e F2 em anos seguidos e também desta forma que deixou pelo caminho na classificação o experiente e talentosíssimo companheiro Nico Hülkenberg e os jovens Liam Lawson e Andrea Kimi Antonelli, ambos guiando carros da chamada ‘F1 A’.

Gabriel Bortoleto foi um dos nomes da classificação na Austrália (Foto: AFP)

Veio o domingo e uma montanha-russa de emoções para lidar logo de cara. Aquela pista molhada, em um traçado tão traiçoeiro como o do Albert Park, dava total impressão de que o caos imperaria. E assim o foi praticamente o tempo inteiro.

Bortoleto viu, ainda cedo, o antigo rival de F2 Isack Hadjar bater ainda na volta de formação. Depois, outro novato, Jack Doohan, perdeu o carro e estampou o muro no primeiro giro para valer. Gabriel, enquanto isso, tinha largada complicada, em volta marcada por disputa com Antonelli e com Hülkenberg.

Quando o experiente Carlos Sainz perdeu o controle e bateu atrás do safety-car, ficou claro que não era meramente questão de horas de voo na categoria. Fernando Alonso, aliás, foi outro que se perdeu no aguaceiro. E poucos têm mais quilometragem na bagagem que o espanhol no mundo.

Bortoleto sobreviveu, mesmo encarando muita dificuldade com os freios, até a volta 47 da corrida, quando a chuvarada chamada de ‘classe 3’ pela F1 tomou Melbourne de assalto. No giro seguinte ao de troca de pneus, quando recolocou os intermediários, o brasileiro perdeu o controle e bateu entre as curvas 12 e 13. Ao mesmo tempo em que Lawson se acidentava na curva 2.

Acidente de Bortoleto no GP da Austrália (Vídeo: Reprodução/F1 TV)

A teoria da Sauber é que a rodada foi tão firme que forçou a suspensão e a estourou, antes que Gabriel batesse no muro. Um final decepcionante para quem fatalmente podia pontuar em uma corrida acidentada, mas que não deve ser motivo de desespero. Muito longe disso.

“Infelizmente, tentando tirar a distância do carro da frente, sabia que alguns estavam de slick, começava a chover mais, quis recuperar o tempo perdido para tentar chegar um pouco mais perto e forcei um pouquinho demais, peguei a zebra, o carro rodou para dentro e acabei tocando na parede. Não danificou muito, mas não dava para continuar na corrida, destruiu a asa da frente”, descreveu o brasileiro.

Depois da prova, o rapaz mostrou maturidade também na hora de analisar a situação. Bortoleto assumiu o erro, sim, mas fez questão de lembrar que pilotos veteranos também erraram na corrida. E foi além: garantiu que não vai tirar o pé em eventuais situações similares no futuro e que não vai ficar remoendo a batida. Fundamental.

“Não foram apenas os novatos que bateram, obviamente. Já vi Ferrari rodando, vi McLaren rodando. Todos. Infelizmente, terminei no muro”, começou. “Se eu tivesse mais um metro de espaço, teria dado um 360° e voltado para a corrida e para os dias felizes. Mas isso não aconteceu. Claro que não me orgulho disso. Não tenho orgulho de cometer erros. Mas não significa que vou ficar aqui chorando por isso. Prefiro bater do que andar na pista como um passageiro e terminar em último. Prefiro levar o carro ao limite e dar o meu melhor”, completou.

Gabriel Bortoleto mostrou maturidade dentro e fora da pista em Melbourne (Foto: Sauber)

A mentalidade de Gabriel na situação está corretíssima. É claro que não é para ficar batendo toda hora, mas um piloto precisa simplesmente esquecer uma situação como a que aconteceu no último domingo. A F1 tem uma temporada enorme e oferece 24 chances durante um ano. Agarrar-se a um erro pode significar, muitas vezes, entrar em uma espiral sem saída. Temer o erro pode, muitas vezes, significar errar de novo. Cautela em excesso também faz mal numa categoria desse porte.

É claro que ver Hülkenberg brilhando e pontuando não é a melhor coisa do mundo, mas também não é a pior. Isso significa que a Sauber tem alguma competitividade, ainda a ser melhor avaliada em condições mais padrão nas próximas corridas. Mas tem.

A Bortoleto resta seguir em frente e deixar o GP da Austrália como estatística. Há talento de sobra por ali e a mentalidade demonstrada foi excelente, além da performance muito firme na classificação. Ainda existe margem para melhora, a questão dos freios a ser analisada pela equipe, mas dá tranquilamente para dizer que o saldo foi positivo. Sem esquecer que Gabriel tem apenas 20 anos.

Fórmula 1 retorna já neste fim de semana, entre os dias 21 e 23 de março, direto de Xangai, com o GP da China.

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