Há 15 anos, Barrichello vencia pela primeira vez na F1 em corrida marcada por protesto, chuva e lágrimas

Rubens Barrichello conquistou sua primeira vitória na F1 no dia 30 de julho de 2000, há exatos 15 anos, no circuito de Hockenheim, na Alemanha. A corrida, um tanto maluca, foi marcada ainda pela chuva e pelo o protesto de um homem que invadiu a pista. No pódio, Barrichello não conteve as lágrimas e até ‘sambou’

Depois de quatro temporadas na Jordan e mais três na Stewart, Rubens Barrichello finalmente deu o passo definitivo para entrar na história da F1 ao assinar, ainda em 1999, com a mais tradicional das equipes do grid do Mundial. E foi logo na temporada de estreia com a Ferrari, em 2000, que Barrichello obteve a primeira de suas 11 vitórias na mais importante categoria de monopostos do mundo. E talvez a mais emblemática de todas elas. 

Disputando o primeiro ano do que se tornaria uma polêmica parceria com Michael Schumacher, a grande chance de bater o rápido e implacável companheiro surgiu na Alemanha, no histórico autódromo de Hockenheim, que ainda recebia a F1 no velocíssimo traçado na Floresta Negra.

No campeonato, o brasileiro era apenas o quarto e acompanhava uma dura batalha entre o alemão e as McLaren de Mika Häkkinen e David Coulthard, que ocupavam a segunda e a terceira colocações na tabela de classificação. Antes da prova germânica, a folha de pontos mostrava Schumacher com 56 tentos, 20 a mais que Rubens.

Rubens Barrichello chora no pódio em Hockenheim (Foto: Red Bull)

Mas a história de Rubens naquele fim de semana de julho começou sem grandes tempos e piorou na classificação. Barrichello havia sido apenas o quarto colocado na primeira sessão de treinos – ficou a quase seis décimos do tempo de Schumacher, o líder. Na segunda atividade, o atual campeão da Stock Car repetiu a posição.

Por outro lado, o treino classificatório foi tumultuado para o brasileiro, que enfrentou problemas elétricos com a Ferrari e acabou ficando apenas em 18º no grid, à frente apenas de Pedro Paulo Diniz, com a Sauber, Jean Alesi, Gastón Mazzacane e Marc Gené. Enquanto isso, a pole-position foi conquistada por Coulthard, com o tempo de 1min45s697, 1s3 mais rápido que Schumacher, que completou a primeira fila.

Quer dizer, apesar da previsão de chuva para o domingo, a expectativa de uma vitória de Rubens era quase nula. Mas o piloto, na época com 28 anos, acreditou na pista molhada e adotou uma estratégia mais ousada para tentar escalar o pelotão e, ao menos, terminar na zona de pontos – em 2000, apenas os seis primeiros pontuavam na F1. Por isso, Rubens decidiu largar com menos combustível e, usando todo o potencial da Ferrari #4, também apostou nos pit-stops para crescer na prova.

A tática deu certo. Barrichello saiu bem do fundo do grid, abriu a primeira volta da corrida na décima colocação e continuou galgando posições, alcançando o quinto posto nas cinco primeiras passagens. Quando a corrida alemã chegou ao 15º giro, Rubens já era o terceiro colocado, enquanto a dupla da McLaren liderava, com Häkkinen à frente de Coulthard. E foi nessa fase que a prova começou a mudar para o brasileiro. Isso porque ele decidira ir aos boxes na 17ª passagem. Retornou em sexto, subiu para quinto e aí contou uma pequena dose de sorte.

De repente, um homem, protestando contra a Mercedes, invadiu a pista na volta 19 e forçou a entrada do safety-car. O episódio colocou o único ferrarista na prova – Schumacher já havia abandonado devido a um acidente ainda no início da corrida – mais próximo dos ingleses carros prateados. Quando o carro de segurança deixou o circuito, um novo acidente provocou a paralisação das ações. Diniz e Alesi bateram, e isso fez com que a direção de prova acionasse novamente o safety-car.

Na relargada, Barrichello ainda era terceiro. E foi aí que a chuva fez a sua parte, encharcando principalmente o setor mais lento do circuito, o Estádio. Isso tudo com 30 voltas. Enquanto os rivais foram buscar os pneus de chuva — o líder Häkkinen foi primeiro e, mais tarde, Coulthard —, Rubens ficou na pista com os slicks, apostando na pista seca em grande parte do traçado. E assumiu a liderança.

Mas a chuva não dava trégua. Ainda assim, Barrichello conseguiu se manter à frente, usando as longas retas de Hockenheim a seu favor e andando com extremo cuidado e maestria no setor mais sinuoso antes da linha de chegada, a famoso Estádio. Foram quase dez voltas de tensão e preocupação.

Nos giros finais, Rubens ostentava dez segundos de vantagem para o finlandês da McLaren, que vinha tirando gradativamente a diferença. Na volta final, o ferrarista tinha pouco mais de sete segundos. E foi assim, se adaptando às condições adversas e com extremo cuidado, que Barrichello conduziu a Ferrari até a cruzou a linha de chegada à frente de Häkkinen e Coulthard.

Rubens Barrichello recebe bandeirada da vitória em Hockenheim (Foto: Ferrari)

A Ferrari recebeu o piloto com festa, e o primeiro abraço foi de Schumacher.

O triunfo de Barrichello aconteceu sete anos depois da última vitória brasileira na F1, protagonizada por Ayrton Senna, na Austrália, em 1993. O tricampeão morreu no ano seguinte, e Rubens não conteve as lágrimas com a nova conquista e a dedicou ao compatriota. “Ainda nem acredito”, disse um emocionado Barrichello ao fim da prova.

“Para já, dedico esta vitória ao Ayrton Senna, que tanto me ajudou a partir de 1984, e à minha família. Na última volta ouvi a equipe me dizer no rádio que eu ia vencer, mas quando se está no comando a última volta é a mais longa, e posso agora confirmar que isso é verdade”, emendou.

“É extraordinário sair da 18ª posição e ganhar desta maneira. O meu carro não estava muito bom no warm-up, mas mudamos algumas coisas e ficou perfeito para a corrida. Por conta da minha posição no grid, eu iniciei a corrida com pouca gasolina, o que me ajudou a fazer tantas ultrapassagens e devo acrescentar que os outros pilotos foram muito corretos também. E eu estava tão concentrado na minha corrida, que só quando cheguei a quinto percebi que o Michael já tinha desistido”, contou Barrichello.

“As últimas voltas foram difíceis, pois a chuva foi aparecendo em diversas partes do circuito, mas quando decidi não mudar de pneus, tinha visto que a pista só estava molhada no Estádio, e o Ross Brawn também me disse que poderia ganhar se mantivesse o ritmo, por isso decidi arriscar”, completou.

E foi arriscando que deu início à fase mais importante de sua longa carreira na F1.

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