Mercedes diz que retirada de cobertores térmicos pode tornar F1 “um esporte pior”

Diretor de engenharia da Mercedes, Andrew Shovlin não acha que retirar os cobertores térmicos por completo seja uma boa ideia dentro da Fórmula 1, com o risco de piorar o espetáculo

A Fórmula 1 tem usado seus últimos finais de semana para testar os pneus de 2023 da Pirelli, que vai colocar em prática os planos da categoria de banir os cobertores térmicos a partir de 2024. Tanto em Austin como na Cidade do México, o treino livre 2 serviu para que a fornecedora oficial de compostos estudasse os dados fornecidos pelos pilotos, já que uma nova mudança entrará em vigor no ano que vem.

Até 2021, as equipes podiam aquecer seus pneus com cobertores térmicos até 100ºC. No entanto, preocupada com a sustentabilidade e a redução do uso de energia — aspectos que inclusive nortearam o novo regulamento de motores, pronto para estrear em 2026 —, a F1 decidiu que o máximo permitido em 2022 seria de 70ºC, com nova redução para 50ºC em 2023 e o banimento completo dos cobertores em 2024.

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Apesar de o banimento já existir em outras categorias, o diretor de engenharia da Mercedes, Andrew Shovlin, não acredita que as características se apliquem à Fórmula 1. Além disso, o britânico destacou a dificuldade que os pilotos teriam para alcançar a janela de temperatura ideal, o que certamente teria um impacto no entretenimento proporcionado pela corrida.

“É bem difícil comparar em termos de pneus, porque nós usamos os duros de Austin em uma temperatura mais baixa”, afirmou Shovlin. “O que temos agora, nesse fim de semana, é muito similar ao que já usamos antes. Acho que o desafio de levar o carro a esse nível de velocidade, essa potência, essa quantidade de downforce, ficaria incrivelmente difícil sem os cobertores”, admitiu.

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A Pirelli pretendia testar os compostos de 2023 em Suzuka, mas a chuva adiou os planos para Austin e México (Foto: Philip Fong/AFP)

“É muito fácil olhar para a Fórmula 2 e dizer: ‘eles conseguem’, mas as energias envolvidas não enormemente altas — somos 20s mais rápidos em alguns circuitos”, apontou. “E esse desafio da Pirelli é muito, muito difícil. Requer muitos passos de desenvolvimento técnico”, avaliou.

Na opinião do engenheiro, criar pneus que sejam capazes de atingir o nível ideal de temperatura sem os cobertores é uma tarefa complexa, e testes com compostos desse tipo podem afetar diretamente a qualidade das corridas. Além disso, Shovlin destacou o fato de que as equipes estão constantemente buscando melhorar seu desempenho — o que aumenta a velocidade na pista e exige cada vez mais da boracha.

“O esporte precisa ter cuidado, para que a legislação sobre os cobertores não passe à frente da velocidade com a qual desenvolvemos os pneus”, observou. “O problema da Pirelli não é algo estático. Esses carros têm mais downforce do que os que costumávamos usar. As cargas em alta velocidade são muito altas, e as equipes estão trabalhando constantemente para conseguir performance”, ressaltou.

“E para a Pirelli, continuar com esse desenvolvimento constante é diferente. Então, você diria: ‘sim, é claro que você poderia usar um pneu sem os cobertores’ — a Pirelli poderia nos dar um —, mas esse pneu não vai levar a uma boa corrida. Não vai permitir aos pilotos forçarem tanto [o ritmo]”, argumentou Shovlin.

No TL2 do México, George Russell liderou a sessão — e se manteve no topo do TL3 (Foto: Mercedes)

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Por fim, o diretor de engenharia da Mercedes destacou a importância da preocupação da Fórmula 1 com o meio-ambiente. No entanto, analisou o impacto que a retirada dos cobertores teria na categoria e avaliou que é preciso encontrar um equilíbrio entre a sustentabilidade e as “necessidades do esporte”.

“Você terminaria usando pneus com muita pressão e uma perda de aderência significativa”, lamentou. “É o caso de equilibrar as necessidades do esporte, junto com as preocupações ambientais que estão sendo destacadas. O principal é garantir que não terminemos com o esporte pior”, finalizou.

Diretor-esportivo da Alpine, Alan Permane concordou que os pneus de baixas temperaturas podem impactar diretamente no andamento das corridas e lembrou comentário de Fernando Alonso em Austin, quando o espanhol disse que era “perigoso” pilotar em temperaturas tão baixas. No Texas, o máximo de aquecimento permitido nos compostos foi de 50ºC, o previsto para o ano que vem; na Cidade do México, as equipes puderam chegar a 70ºC.

“A diferença do México para Austin foi que utilizamos os pneus a 70ºC aqui, mas aquecemos eles por duas horas”, afirmou. “Normalmente, nosso tempo de aquecimento é de três horas. Mario [Isola], da Pirelli, nos disse que 70ºC a duas horas [de aquecimento] são a mesma coisa — ou até um pouco menos [de uso de energia] — do que 50ºC com três horas”, revelou.

“Então, parece que eles já encontraram um meio-termo após Austin, quando Fernando [Alonso] disse que estava perigoso”, destacou. “Ele teve uma perda real de aderência. Acho que você vai ver os carros deslizando, além de coisas que raramente vemos com esse tipo de coisa. Então, acho que eles encontraram uma direção, algo que espero que possamos levar adiante no ano que vem”, encerrou.

GRANDE PRÊMIO acompanha AO VIVO e EM TEMPO REAL todas as atividades do GP da Cidade do México de Fórmula 1. No domingo, a largada está marcada para as 17h (de Brasília, GMT-3).

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