Na Garagem: Scheckter ganha único título sul-africano antes do longo jejum ferrarista

Jody Scheckter disputou apenas sete temporadas completas na F1 e tem um excelente retrospecto: dois terceiros lugares com a Tyrrell nos anos de 1974 e 1976, um vice-campeonato em 1977 com a equipe Wolf e a consagração em 1979, com a Ferrari #11

Por razões econômicas, Ásia e África são os continentes com menos sucesso na F1. A F1 é um esporte caro e, por isso, dos 65 Mundiais já disputados, 43 ficaram na Europa, 13 foram para a América do Sul, cinco para a Oceania, três para a América do Norte. Apenas um deles foi para o continente africano: foi para a África do Sul. O detentor dessa façanha atende pelo nome de Jody Scheckter.
 
Scheckter disputou apenas sete temporadas completas na F1 e tem um excelente retrospecto: dois terceiros lugares com a Tyrrell nos anos de 1974 e 1976, um vice-campeonato em 1977 com a equipe Wolf e a consagração em 1979, com a Ferrari #11.
 
A conquista de Scheckter é marcante por dois motivos: é o último título presenciado pelo comendador Enzo Ferrari, morto em 1988, e porque o título foi conquistado em cima de um dos maiores nomes da mitologia da equipe de Maranello: o canadense Gilles Villeneuve, piloto carismático, veloz e completamente insano dentro das pistas.
 
No ano anterior, a Lotus destruiu a concorrência com o carro-asa, pilotado por Mario Andretti e Ronnie Peterson. Depois de 1978, a F1 não poderia mais abstrair da aerodinâmica na concepção dos carros. Passado o impacto dessa revolução, a confiabilidade das Ferrari fez a diferença numa temporada muito competitiva.
 
O campeonato começou com predomínio das Ligier: pole, volta mais rápida e vitória de Jacques Laffite na perna sul-americana do Mundial: Brasil e Argentina. Com a estreia do novo carro da Ferrari na África do Sul, Villeneuve venceu em Kyalami e no GP dos EUA-Oeste, com dobradinha dos carros de Maranello em ambas as provas.
Jody Scheckter venceu o campeonato de 1979 (Foto: Reprodução/Twitter)
Da corrida de casa em diante, o sul-africano emendou cinco corridas na zona de pontuação, incluindo vitórias na Bélgica e em Mônaco. Assim, se deu ao luxo de jogar fora o sexto lugar obtido em Interlagos. Naquele ano, cada piloto só poderia contar os quatro melhores resultados em cada metade do certame. Depois da etapa monegasca, no meio da temporada, Jody tinha 30 pontos; Laffite, 24; Gilles, 20. Com as Ligier sem bom rendimento, a briga seria entre as duas Ferrari.
 
Mesmo sem vencer nenhuma das cinco provas da segunda metade da temporada, até então, Scheckter segurava a ponta do campeonato. Villeneuve conseguiu apenas dois segundos lugares nesse período e não chegava no sul-africano. As Williams, com ótimo desempenho na parte final do campeonato (três vitórias de Alan Jones e uma de Clay Regazzoni), tiravam pontos preciosos do canadense da Ferrari – Scheckter agradecia.
 
Quando a F1 chegou à Itália, para a 13a das 15 etapas daquele ano, a tabela apontava Scheckter com 44 pontos, Laffite com 36, Jones com 34 e Villeneuve com apenas 32 tentos. O francês da Tyrrell só poderia chegar a 55 pontos e o australiano da Williams só alcançaria 40, pelos descartes. Somente Villeneuve poderia tirar o título de Scheckter e, para isso, ele precisava vencer em Monza para adiar a conquista do companheiro de equipe.
 
Jean-Pierre Jabouille e René Arnoux, da Renault, monopolizaram a primeira fila. O motor turbo dos carros franceses fez a diferença no rapidíssimo traçado de Monza. Em um treino disputado, com os oito primeiros separados por apenas um segundo, Scheckter pôs a Ferrari em terceiro, com Jones em quarto, com a Williams. Gilles largou em quinto e Regazzoni foi o sexto. Apesar de correr em casa, a equipe de Maranello treinou mal por conta de problemas aerodinâmicos.
Gilles Villeneuve e Jody Scheckter foram os nomes de 1979 (Foto: Terceiro Tempo)
Enzo Ferrari, antes da largada, pediu a Villeneuve: “Não ataque Jody e deixe-o ser campeão do mundo. Logo chegará a sua vez”. As Renault largaram mal e Scheckter pulou na ponta. Villeneuve era terceiro, atrás do sul-africano e de Arnoux. O piloto da Renault retomou a liderança na volta 3, mas uma falha no turbo obrigou Arnoux a desistir somente dez voltas mais tarde.
 
Com Jones caindo para o fim do pelotão e as quebras de Arnoux e da Brabham de Nelson Piquet, a ordem era: Scheckter, Villeneuve, Laffite, Jabouille e Regazzoni. Numa pista onde os pilotos ficam 70% do tempo com o pé no fundo, as quebras eram inevitaveis: o Renault de Jabouille abriu o bico na volta 41. Quatro giros mais tarde, foi Laffite quem deixou a prova.
 
Faltavam apenas cinco voltas para o final e Villeneuve estava somente 0s5 atrás de Scheckter. Só havia uma pergunta nas arquibancadas em Monza: o canadense atacaria o parceiro e manteria o campeonato aberto? Gilles obedeceu ao pedido de Enzo Ferrari e foi leal a Scheckter. O sul-africano venceu a prova e levou o caneco por antecipação. Se Gilles vencesse nos EUA e no Canadá, chegaria a 50 pontos. O triunfo em Monza deixou Scheckter com 51.
 
Foi a décima e última vitória de Jody na F1. A Ferrari não cumpriria a promessa feita a Villeneuve: ele morreria em 8 de maio de 1982 em Zolder, Bélgica, num grave acidente. Depois desse título, o terceiro em cinco anos, a Ferrari amargou um jejum de longos 21 anos. Enzo Ferrari, morto em 1988, não viu correr o homem que levou a Ferrari novamente ao topo, um alemão chamado Michael Schumacher.
Chamada Chefão GP Chamada Chefão GP 🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias da Fórmula 1 direto no seu celular! Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.