Na Garagem: Schumacher vence no Japão e leva Ferrari ao título mundial após 21 anos

21 anos depois da conquista de Jody Scheckter, Michael Schumacher devolveu o caneco à Ferrari ao superar Mika Häkkinen e ganhar o GP do Japão de 2000

A madrugada de 8 de outubro de 2000 fez os tifosi pelo mundo acordarem enamorados com a possibilidade mais real que nunca e que finalmente se aproximava. Já fazia, afinal, 21 anos que a Ferrari não comemorava um Mundial de Pilotos, desde 1979, com Jody Scheckter. Michael Schumacher chegaram em 1996, mas as mãos ainda abanavam. Mas só por mais algumas horas. No Japão, a seca acabava. Michael Schumacher era campeão mundial de Fórmula 1 pela terceira vez, a primeira com a Ferrari.

A Ferrari estava estabilizada no fim dos anos 1990. Jean Todt já coordenava um projeto de longo prazo quando Schumacher ancorou no cais de Maranello em 1996. Em seguida, chegaria Ross Brawn e Rory Byrne, sugado de volta da aposentadoria que anunciara no fim de 1995. A Williams teve vantagem naqueles primeiros anos, mas a McLaren surgiria com força em 1998. A história já mudava em 1999, mas a lesão de Michael na Inglaterra afastou as chances de título do alemão e que sobreviveram até o fim com Eddie Irvine. Mas foi Mika Häkkinen quem copou e confirmou o bicampeonato mundial. E era o finlandês que se via como grande rival de Schumacher em 2000.

O ano começou diferente, contudo. A Ferrari tinha a vantagem, o melhor carro e Schumacher guiava com maestria. Assim, venceu as primeiras três provas do ano. Só que uma sequência de abandonos – quatro em cinco provas – permitiu Häkkinen a se reaproximar e, ao superar o alemão na Hungria, assumir a dianteira do campeonato. Michael voltaria a liderar nos Estados Unidos, 15ª das 17 etapas do Mundial. O Japão vinha na sequência.

Como Häkkinen abandonou em Indianápolis, caiu para oito pontos atrás. Com as vitórias valendo dez pontos e três P1 a mais que o finlandês, Schumacher precisava fazer dois pontos a mais que no Japão para ser campeão com uma etapa de antecedência. Na contagem geral, seria campeão com dois segundos lugares, ainda que Mika vencesse ambas as provas. E o finlandês estava confiante, já que vinha levando vantagem e o abandono nos EUA, forçado por uma quebra de válvula, “podia acontecer com qualquer um”, segundo ele.

Michael Schumacher e Mika Häkkinen se cumprimentam após a corrida (Foto: Reddit)

Ainda na sexta-feira, o então diretor-técnico da FIA, Charlie Whiting, avisou que bloqueios propositais de pilotos que disputassem o título seria advertidos com bandeira preta e branca e, caso houvesse reincidência, era caso de bandeira preta e desclassificação. Medida pensada pela quantidade de incidentes com essa cara nos anos anteriores – Schumacher-Hill em 1994, Schumacher-Villeneuve em 1997 ou Coulthard-Irvine em 1999. Nem todo mundo gostou: Ron Dennis, o chefão da McLaren, era contra o que chamou de “interferência nas estratégias internas das equipes”.

Schumacher liderou os dois treinos livres da sexta para a Ferrari, sempre com Häkkinen em segundo. No sábado de manhã, Schumacher voltou a liderar o TL3, mas com a Williams assumindo as posições seguintes. Com toda a vantagem nos treinos, o favoritismo ditava que Schumacher sobraria na disputa pela pole. Mas não foi bem assim.

Michael cravou 1min35s825, a quinta pole dele em Suzuka, mas apenas 0s009 mais rápido que Häkkinen, em segundo. David Coulthard e Rubens Barrichello invertiam a ordem de McLaren e Ferrari na segunda fila, enquanto Jenson Button e Ralf Schumacher davam a terceira para a Williams. Eddie Irvine [Jaguar], Heinz-Harald Frentzen [Jordan], Jacques Villeneuve [BAR] e Johnny Herbert [Jaguar] encerravam o top-10.

“Só dei nove voltas [na classificação], porque achei que a pista não estava nas melhores condições no começo do treino”, disse o alemão logo após levar a melhor. “A equipe fez um ótimo trabalho me colocando na pista na hora certa. Hoje, tivemos uma disputa pela pole de altíssima qualidade. Sabia que seria apertado e, no fim, qualquer um de nós poderia ter feito a pole”, afirmou.

A corrida quase começou desastrosa para o rival do alemão: um vazamento no sistema hidráulico fez a McLaren #1 de Häkkinen soltar fumaça minutos antes da largada, mas a rápida resolução permitiu que Mika alinhasse normalmente. Não só isso: largou espetacularmente bem e tomou a dianteira antes da primeira curva. Com o resultado assim, Häkkinen recuperava quatro tentos e seguia vivo para a Malásia.

Enquanto o pelotão seguia se movendo e mudando, os líderes da corrida e do campeonato disparavam. Häkkinen abriu 2s para Schumacher, que já colocava 10s para Coulthard no começo da primeira janela de pit-stops. Häkkinen só pararia na volta 22, com Schumacher indo um giro depois. Até aí, colocações mantidas. Coulthard e Barrichello seguiam em terceiro e quarto, enquanto Ralf, Button, Irvine, Johnny Herbert, Frentzen e Trulli ocupavam o top-10. Pedro Paulo Diniz e Ricardo Zonta eram 11º e 12º.

Häkkinen continuava rendendo bem e estendia a diferença para 2s9 no giro 26. Daí em diante, a vantagem apenas cairia. Primeiro, o finlandês encontrou tráfego de retardatários e, quase junto, uma chuva leve começou a deixar a pista escorregadia. Na chegada da volta 30, o alemão estava mais perto e já encostava a menos de 1s do rival. Com 19 voltas para o fim, os dois alcançaram Zonta, que abriu a porta. Häkkinen passou, mas Schumacher demorou demais para entrar na curva e chegou a tocar roda a roda com o brasileiro, que colocou a BAR na grama para evitar a colisão.

O momento definitivo da corrida seria o da escolha pelo momento de parar pela segunda e última vez. Häkkinen entrou primeiro, na volta 37, e retornou pouco menos de 26s atrás de Schumacher. Como fez tantas vezes durante a trajetória na F1, o alemão aproveitou os giros exatamente anteriores a entrar nos boxes para, mesmo com pneus gastos, voar na pista. O resultado foi que, quando parou, na volta 40, conseguiu retornar à pista na frente do rival. Com vantagem de 4s1, passava a ter a corrida nas mãos. Mesmo com a chuva que caíra antes, os pilotos seguiram com os pneus de pista seca.

Antes do fim das 52 voltas, os abandonos: Jos Verstappen, Jean Alesi, Frentzen, Alexander Wurz, Ralf Schumacher e Marc Gené foram os que não conseguiram chegar ao fim.

Michael Schumacher e Jean Todt no pódio em Suzuka (Foto: Reprodução/YouTube)

Na frente, não havia alternativa: Schumacher controlava as últimas voltas. Sem ritmo o suficiente para alcançar o alemão, Häkkinen se contentou com o segundo lugar. Michael Schumacher venceu a corrida por 1s8 e se tornou tricampeão mundial de Fórmula 1.

“É difícil encontrar palavras para expressar tudo o que sinto agora. Senti uma explosão de emoções quando cumpri o objetivo numa corrida de condições complicadas, encerrando uma temporada de altos e baixos”, falou após confirmar o título.

“Foi lindo confirmar o título com vitória e uma corrida disputada até a última curva contra Mika. É um título extraordinário e especial, porque é com a Ferrari e significa muito mais do que os conquistados com a Benetton. Sinto muito dizer isso, mas a história das duas não se comparam. Mika largou melhor que eu, não tinha muito a fazer, mas fizemos alguns ajustes na primeira ida aos boxes. E me ajudaram”, contou.

“Quando vimos o Mika entrar para a segunda parada, eu ainda podia fazer mais algumas voltas. Peguei tráfego nesse primeiro momento, ainda tinha um Benetton atravessado na minha frente [Wurz] e, apesar de sentir que não tinha sido tão rápido como devia, decidi entrar nos boxes antes do planejado. Foi o momento crucial. Não achei que tinha ganhado tempo suficiente, mas Ross Brawn foi dizendo ‘parece que vai dar'”, falou.

“Esperei o aviso de que não tinha dado quando ele falou que eu estava na frente. Foi um momento maravilhoso e, a partir de então, só esperava que nada quebrasse no carro. Ainda tinha a chuva, que ia e vinha, e não ajudava. Mas o que importa é que conseguimos nosso objetivo depois de termos falhado três vezes”, finalizou.

O momento esperado desde 1996, enfim, chegou. Schumacher conseguia o que gente como Gilles Villeneuve, Didier Pironi, Alain Prost e Nigel Mansell tentaram e fracassaram nos 20 anos anteriores: devolver o cinturão aos vermelhos. Abria o caminho para se tornar o maior campeão da história, com sete títulos, dos quais cinco pela Ferrari.

Aquela madrugada de Suzuka foi a confirmação dos acertos dos anos anteriores e abria o domínio retumbante da Era Ferrari que engoliria a F1 até 2004.

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