Responsável pela criação de alguns dos melhores carros das F1 nos últimos anos, Adrian Newey revelou que até hoje não consegue aceitar a morte de Ayrton Senna. Ocupando o cargo de projetista-chefe da Williams em 1994, o britânico disse que não conseguiu entender o que aconteceu naquele fatídico GP de San Marino, se houve de fato algum problema mecânico no carro ou se foi erro do piloto.
“O que aconteceu naquele dia, o que causou o acidente, ainda me assombra até hoje”, disse o projetista à emissora inglesa BBC. “A causa foi a quebra da coluna de direção ou foi um acidente?”, acrescentou.
O brasileiro morreu no dia 1º de maio de 1994, quando bateu forte na curva Tamburello, no circuito de Ímola. Na batida, uma barra da suspensão direita acabou perfurando o capacete do piloto, na altura da viseira, atingindo sua cabeça e causando ferimentos fatais. Todos os estudos sobre as causas do acidente apontam para uma quebra da coluna de direção, que teria feito o carro apontar repentinamente para a direita, atingindo o muro da Tamburello. Senna ainda freou e reduziu marchas antes do impacto, de acordo com as perícias realizadas pela polícia italiana.
Apesar desses estudos, Newey ainda se questiona se a quebra do equipamento só aconteceu após o impacto do carro com o murro, em um acidente causado por um erro no início da tangência da curva.
Para defender o ponto de vista, o agora projetista da Red Bull afirmou que toda a investigação feita a partir dos dados coletados na pista aponta que o carro saiu de traseira no início da curva e partiu em linha reta em direção ao muro após ser corrigido por Ayrton.
"Não há duvidas de que a coluna quebrou. Da mesma forma, todos os dados, todas as câmeras do circuito, a câmera on-board de Michael Schumacher, nada parece ser consistente com uma quebra na coluna de direção. O carro saiu de traseira inicialmente, e Ayrton corrigiu isso, mas só foi reto", afirmou.
"Mas a primeira coisa que aconteceu foi sair de traseira, a mesma coisa você vai ver algumas vezes nos ovais nos Estados Unidos. O carro perde a traseira, o piloto corrige e vai direto ao muro, o que não parece uma quebra da coluna de direção", acrescentou Newey, comparando a batida de Senna com um acidente em circuito oval.
O projetista também disse que o maior arrependimento de sua carreira está relacionado a Senna. Newey contou que ficou chateado por não ter conseguido projetar um carro bom para o começo de 1994, já que Ayrton tinha trocado a McLaren pela Williams por acreditar que só teria condições de vencer o quarto título mundial pela equipe de Grove. A Williams dominara as temporadas de 1992 e 1993, mas a proibição de recursos eletrônicos para 1994, como controle de tração e suspensão ativa, acabou prejudicando bastante o time.
"Havia uma aura sobre ele, algo difícil de descrever. Ele com certeza tinha presença. Acho que uma coisa que sempre vai me assombrar é que ele veio para a Williams porque tínhamos feitos carros bons nos últimos três anos e ele queria estar no time que pensava ter construído o melhor carro. E, infelizmente, o carro de 1994 não era bom", disse.
"Ayrton tinha talento puro e determinação. Ele tentava levar aquele carro adiante e fazer coisas que não era capaz. É uma pena, e tão injusto, que ele estivesse nessa posição. E, claro, no momento em que corrigimos o carro, ele não estava mais conosco", completou o projetista.