Opinião GP: Balbúrdia no Bahrein e vitória de Piastri salvam início da Fórmula 1 2025

Enfim, a Fórmula 1 foi capaz de entregar uma boa corrida na temporada 2025. E mais do que isso, deixou claro que a disputa pelo título caminha para uma interessante rivalidade interna na McLaren. Mas o pandemônio que tomou conta do GP do Bahrein também revelou histórias das mais intrigantes para o decorrer do ano, sendo a principal delas: uma estranha crise que se forma dentro da Red Bull

É INCRÍVEL PENSAR QUE a Fórmula 1 precisou de quatro etapas para enfim entregar um bom espetáculo. Ainda que a vitória de Oscar Piastri tenha sido previsível, diante do poder de fogo da McLaren, o GP do Bahrein soube contar uma história diferente, porque dividiu o domingo em vários pequenos episódios, que foram do drama ao riso (muitas vezes de nervoso!). E a culpa disso está na diferença gritante entre os postulantes ao título, em uma pista que não só promove ultrapassagens, mas é afeita ao caos — seja por estratégia, seja por sensível mudança no clima —, e em uma FIA (Federação Internacional de Automobilismo) que teima querer aparecer mais que o necessário.

Importante colocar aqui que, apesar de possuir um carro altamente competitivo, a McLaren também é parte dessa sensação de insanidade que tomou conta da F1 no Bahrein. Isso porque o MCL39 tem lá seus traços mortais. Temperaturas mais baixas e tráfego ainda representaram uma questão para os engenheiros em Woking. No entanto, há um outro fator: a garagem laranja vai ter de se acostumar com algo que teimam em aceitar: a temida rivalidade interna.

Pela segunda vez neste começo de temporada, Piastri dominou o companheiro de equipe e, neste domingo (13), se tornou o primeiro piloto a vencer mais de uma vez no atual campeonato. Oscar usou tudo que tinha nas mãos — foi melhor nos treinos, impressionou na classificação e comandou a corrida barenita como quis. Em nenhum momento foi ameaçado, talvez apenas naquela hora em que George Russell se aproximou com pneus macios após a saída do safety-car. Mesmo assim, o dono do carro #81 não se abalou, deixando evidente uma postura mais fria e cerebral, o oposto de seu companheiro de equipe, Lando Norris.

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A verdade é que o australiano vive um início de campeonato muito forte, tentando acertadamente virar o jogo para cima do colega. Até agora, Piastri tem mais vitórias e mais poles. Só não se aproximou mais no Mundial de Pilotos porque ainda sente os efeitos daquela rodada na pista molhada de Melbourne, na primeira etapa. Não fosse isso, já estaria na ponta. A diferença, no entanto, caiu de 10 para 3 pontos apenas.

“Não há ruído na cabeça de Oscar, o que é uma característica muito útil na Fórmula 1, e acho que isso permite que ele progrida, processe informações, processe o que está disponível nas situações como uma forma de melhorar a si mesmo em um ritmo muito rápido”, reconheceu o chefe da McLaren, Andrea Stella, quase como um alerta.

E é um aviso, porque Norris passou longe da briga pela vitória na noite do deserto. Além de uma classificação desastrosa no sábado, Lando completou o domingo de maneira ainda mais bisonha. Queimou a largada, foi punido, abusou dos erros em disputas por posição e não foi capaz de fazer valer o carro que pilota — um modelo tão veloz que o fez, apesar de tudo, chegar ao pódio. Há muitas camadas neste começo de campeonato, e uma das mais assombrosas é: Norris parece ainda temer uma briga por título.

Dentro da equipe laranja, há uma natural condescendência com Lando. Para Stella, o piloto ainda não se sente tão confortável no carro quanto o colega, e isso tem feito diferença. Mas há um ponto: mesmo com tudo, o carro papaia completou o top-3.

Lando Norris largou fora de posição em Sakhir (Foto: Reprodução/F1)

Portanto, o GP do Bahrein tornou mais clara a posição da dupla da McLaren, para o bem e para mal. Há outros detalhes ainda, em uma corrida cheia de alternativas estratégicas e gente disposta a ganhar posições em pista. Aqui é preciso falar de George Russell e da Mercedes. A ideia foi seguir a McLaren, mas o safety-car na volta 32 mudou um pouco o cenário. E a equipe resolveu arriscar com pneus macios. A tática, audaciosa, como o próprio inglês descreveu, poderia ter cobrado um preço alto, mas acabou valendo pela disputa com Norris nos giros finais. Porque também é preciso criar certo suspense.

E nisso a Ferrari se destacou no Bahrein. A escuderia italiana tinha Charles Leclerc na primeira fila e Lewis Hamilton em nono. Foi o único time entre os ponteiros a adotar uma estratégia diferente, largando com pneus médios, diferente dos macios da concorrência. A ideia era aproveitar o melhor ritmo dos compostos amarelos. O plano estava dando certo, com Leclerc e Hamilton muito fortes na fase intermediária da prova, mas o safety-car mudou tudo e impediu um desfecho mais interessante para os italianos, que, de toda a forma, exibiram uma primeira grande performance em 2025.

O Bahrein ainda reservou mais algumas doses de balbúrdia nas escolhas diferentes de pneus — afinal, os três compostos foram vistos ao longo das 57 voltas. A Haas, por exemplo, lançou mão dos três tipos de pneus para pontuar com os dois carros. A Alpine também ajudou Pierre Gasly ao optar por uma tática semelhante. No fim das contas, é disso que a F1 precisa, provas em que a estratégia seja menos óbvia — um dos grandes problemas, por exemplo, do GP do Japão, na semana passada.

Mas é preciso dizer: a direção de prova e os comissários desempenharam papel decisivo também na impressão geral de confusão em Sakhir. A chamada do carro de segurança é um caso para ser analisado, uma vez que uma bandeira amarela localizada, por causa de detritos, seria suficiente. O SC mudou a prova. Além disso, houve uma infinidade de punições — muitas após a corrida. E até uma revogação de sanção. Ou seja, um festival de inexplicáveis bizarrices.

Max Verstappen sofreu com a sinaleira do pit-stop da Red Bull (Foto: Reprodução)

Como bônus do caos, também há espaço para a Red Bull, onde tudo deu errado, segundo Max Verstappen. De fato, os taurinos enfrentaram em Sakhir o pior fim de semana do ano, mesmo terminando no top-10 com os dois carros. Acontece que o RB21 se mostrou indomável e com problemas crônicos de freios. O neerlandês se queixou ao longo de toda a etapa. E como desgraça pouca é bobagem, nem mesmo o pit-stop, antes uma excelência entre os energéticos, cismou de não funcionar. Ao fim da corrida, falou-se em crise e gritaria por lá. Será uma longa semana.

De toda a forma, o Bahrein salva a F1 neste início porque trouxe histórias que ainda vão reverberar ao longo dos próximos dias e até mesmo determinar os rumos do Mundial. E não só naquilo que alimenta as manchetes, mas na sensação de que ainda há muito o que fazer em pista. A disputa está mais equilibrada do que parece.

Fórmula 1 volta de 18 a 20 de abril em Jedá, palco do GP da Arábia Saudita, quinta etapa da temporada 2025.

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