Opinião GP: F1 perde talento de Bianchi e põe na berlinda não só segurança, mas também falta de postura dos pilotos

A morte de Jules Bianchi colocou a F1 uma vez mais na berlinda, e as questões relacionadas à segurança são novamente sobre a mesa. A maior das categorias terá de rever seus padrões mais uma vez. E nisso, também é necessário que os pilotos se imponham mais. Porque o acidente fatal mostrou a total inércia e falta de postura dos colegas

JULES BIANCHI SE FOI na última sexta-feira (17), depois de lutar por nove meses sabe se lá como contra uma lesão severa no cérebro, que o deixou em inconsciente e inerte em decorrência do grave acidente sofrido naquele tumultuado e chuvoso GP do Japão, em outubro passado. A morte com um titular da F1 não acontecia desde o trágico fim de semana de San Marino em 1994. Uma vez mais, o caso serviu para reavivar nos envolvidos com a categoria o perigo que o esporte ainda oferece. E que nunca é demais revisar velhos hábitos, estudar e buscar soluções para a segurança. 

O acidente por si só já foi assustador o bastante para colocar em xeque os procedimentos de segurança que são tomados pela direção de prova da F1 em casos extremos como os vistos em Suzuka, além da própria condição dos carros na proteção aos pilotos. Outra questão que também foi levantada disse respeito à própria reação dos competidores em situações de risco.
Os médicos trabalham no resgate de Jules Bianchi depois do acidente em Suzuka (Foto: Getty Images)
Durante o tempo em que Bianchi esteve internado, primeiro no Japão e depois na França, é bem verdade que os responsáveis pelas provas do Mundial não se acomodaram. A FIA, a Federação Internacional de Automobilismo, formou uma comissão de notáveis para investigar as causas do acidente. A conclusão foi polêmica. Isentou a decisão dos comissários e praticamente concluiu que o francês foi o principal responsável pela batida em Suzuka. O relatório, divulgado no fim do ano passado, disse que o piloto de 25 anos falhou ao não reduzir o suficiente a velocidade ao contornar a curva 7 e minimizou a presença de um trator na área de escape sem que o carro de segurança fosse acionado.

A partir daí foram criadas novas regras para períodos de bandeira amarela, adotaram ainda o sistema do safety-car virtual e até alteraram os horários alguns GPs, para evitar a perda de luminosidade ou a potencial interferência severa da chuva. Ainda assim, tudo isso pareceu pouco.

E pouco se ouviu dos pilotos a respeito das mudanças. Aliás, essa é uma crítica pertinente sobre eles — os principais agentes do show. Pouco se sabe de suas opiniões reais. Quase ninguém se manifestou de forma mais contundente sobre o relatório da FIA ou o próprio acidente de Jules, preferindo usar as redes sociais para se apoiarem em hashtags. Neste momento o que há no horizonte de mais forte é a declaração da GPDA (Associação dos Pilotos), afirmando que deve ao francês uma postura mais aguerrida na busca por segurança. Falaram em “nunca ceder”. Se realmente se concretizar, já será um ganho enorme. 

O fato é que de novo todas as questões envolvendo a morte serão recolocadas à mesa quando a F1 voltar às pistas neste próximo fim de semana, na Hungria, curiosamente mesmo palco de um dos piores acidentes do Mundial nos últimos anos.

De novo, o acidente com Bianchi, as decisões tomadas por todos em meio ao avanço daquele tufão, a chuva torrencial do começo da corrida. Tudo isso será novamente questionado. E deve ser. Uma reavaliação se faz necessária. E até urgente. Afinal, não dá para colocar somente na conta da fatalidade o que aconteceu em Suzuka no dia 5 de outubro de 2014.

Um grande talento. E um grande cara

O desaparecimento prematuro de Jules Bianchi também serve para lembrar que a F1 perdeu um grande talento e um dos melhores da nova geração, certamente feito do mesmo material de outros jovens nomes expressivos do grid, como Daniel Ricciardo, Valtteri Bottas, Nico Hülkenberg, Max Verstappen e Carlos Sainz.

Rapaz amável e de sorriso fácil, Jules havia já conquistado a Ferrari, pelos esforços feitos nas categorias de base. Impressionou com vitórias e títulos. Tinha potencial, sem dúvida. E velocidade. Errava pouco e sabia onde queria chegar. Soube usar bem a experiência das categorias de acesso, os equívocos enquanto piloto de teste da Ferrari e da Force India e não se indispôs com ninguém quando se viu preterido na equipe indiana, em 2013, quando acabou vendo Adrian Sutil tomar seu lugar.

Jules Bianchi morreu na última sexta-feira (Foto: Getty Images)
É difícil dizer agora que Bianchi seria um futuro campeão. Há muitos caminhos até lá. Mas certamente não iria demorar a sentar em cockpit competitivo como tanto queria. No fim de semana do GP japonês, o jovem francês estava perto do acerto com a Sauber, via compromisso com a Ferrari – uma jogada que quase lembra o que a própria equipe italiana fez com Felipe Massa anos atrás. Era apenas o passo intermediário. A prova final de que poderia, sim, um dia sentar para valer no tradicional carro vermelho.

Bianchi era o escolhido do time de Maranello e, possivelmente, seria ele o companheiro de Sebastian Vettel em 2016. E a prova maior foi seu desempenho ao longo dos quase dois anos na pequena Marussia. Quase sempre mais rápido que os companheiros de equipe, a consagração veio em Mônaco.

Jules brilhou nas ruas do Principado – que parecem ser agradáveis apenas com os grandes. Foi lá que o gaulês conquistou seus dois únicos pontos na F1. E até agora, os únicos da problemática equipe que conhecemos como Manor atualmente. Fez história.

E provou que a Ferrari não tinha errado.

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