Opinião GP: Hamilton recebe bastão do filho de Schumacher para tocar F1 a seu modo

Lewis Hamilton conquistou em Nürburgring mais do que um número em seu vitorioso currículo. O inglês se torna agora o espelho e a referência

FOI ABSOLUTAMENTE SIMBÓLICO o que aconteceu em Nürburgring. E por isso a Fórmula 1 não poderia estar em outro lugar neste domingo (11). A cena em que Mick Schumacher entrega a Lewis Hamilton o capacete do pai, o homem que até então detinha o maior número de vitórias da história, foi como se o próprio Michael estivesse ali colocando nas mãos do inglês o bastão, a tarefa honrosa de agora carregar o peso de todos os números, de todas as corridas, de todos os recordes. É Hamilton quem assume o papel do espelho, da referência, da comparação, enfim. Aos 35 anos e com 14 temporadas no Mundial, o britânico alcança aquilo que parecia impossível, inimaginável, mas que também não vai parar por aí. Ainda bem.

O recorde está nas melhores mãos. Nas mãos que vão também mudar o esporte.

É curioso perceber como as carreiras de Hamilton e Schumacher, embora diametralmente diferentes, têm algo tão decisivo em comum. Ainda lá no início dos 1990, o alemão ganhou a chance na F1 por conta do apoio da Mercedes, equipe que veio a defender mais tarde, quase como um agradecimento. Foi ele também que ajudou a fomentar esse time que hoje empilha vitórias. Lewis, por sua vez, conquistou Ron Dennis, a McLaren e a montadora da estrela quando tinha apenas 13 anos e engatinhava nesse esporte. O inglês também devolveu a confiança em forma de sucesso. Portanto, não é à toa que a marca histórica tenha sido alcançada no lendário circuito alemão, com um envolvimento tão singular da fábrica de Stuttgart.

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São dessas coisas da vida que passam a fazer sentido quando se recua um pouco para ver o todo. Outro cenário que fica cada vez mais nítido agora é que a Fórmula 1 é tomada por um homem que vai muito além dela. É bem verdade que Schumacher instituiu uma nova forma de trabalho e se impôs. Michael foi capaz de unir um grupo fantástico dentro da Ferrari para tirar a escuderia de uma fila de títulos.

Ao lado de Rory Byrne, Ross Brawn e Jean Todt, a equipe italiana foi remodelada, organizada e se tornou uma máquina de vencer. Pensavam em tudo: desde um teste numa pista molhada artificialmente até estratégias malucas. Tudo valia a pena. E o resultado foi um dos períodos mais avassaladores de um time na F1, com o alemão comandando a categoria. Por isso, os números conquistados por ele se tornaram quase que imortais. Ninguém seria capaz, ao menos não em pouco tempo, de repetir uma combinação tão perfeita. Chegou um momento em que Ferrari e Schumacher pareciam um só. E isso virou um exemplo que não se restringiu ao esporte.  

Aí, o imaterial se tornou material. Quando Hamilton estreou na F1, em 2007, Schumacher não estava mais. Sendo o primeiro piloto preto do grid, um jovem a estrear direto em uma equipe de ponta e tendo como companheiro o melhor competidor da época, o inglês experimentou algo que o marcaria para sempre: estar sob os holofotes desde o dia 1.

Lewis Hamilton venceu em sua primeira temporada na F1 (Foto: AFP)

Hamilton nunca esteve longe da ação e nunca foi tratado como coadjuvante. Sua história com a McLaren o permitiu vencer o primeiro título e também querer ganhar o mundo. Lewis deixou a equipe inglesa porque queria decidir sobre sua própria existência. A mesma Mercedes foi a equipe lhe deu essa chance. Foi uma aposta, tal qual a de Schumacher com a Ferrari. E foi acertada.

Nas garagens alemãs, o rapaz se tornou homem e descobriu a si mesmo. Percebeu, enfim, que tinha mais a fazer e a dizer. Como talento nunca lhe faltou, soube aproveitar todas as oportunidades. Aprendeu com os erros e com talvez a maior derrota de sua carreira – quando perdeu o título de 2016. A partir dali se tornou implacável. Venceu, venceu e venceu.

Já estava perto de Schumacher. Mas precisava se impor como ele para ter direito a esse bastão. E o fez. Não só nas pistas, com atuações exuberantes e sem equívocos, mas na vida. Lewis elevou esse sarrafo ao se posicionar, ao defender as causas importantes. Ao não temer as consequências. Lewis não é só uma frase escrita numa camiseta, é uma atitude.

A conquista que celebra representa mais do que um número, é o certificado oficial de que agora pode tocar também a F1 a seu modo.

A próxima etapa da temporada 2020 do Mundial de Fórmula 1 é o GP de Portugal, marcado para o Autódromo Internacional do Algarve, em Portimão, em duas semanas. O GRANDE PRÊMIO acompanha tudo AO VIVO e em TEMPO REAL.

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