Retorno iminente da Globo expõe como faltou à Band saber lidar com produto Fórmula 1

A Fórmula 1 é um produto caro, mas que também exige capricho com as informações destinadas ao seletivo público — algo que não acontecia mais nas transmissões no Brasil

No final de 2020, uma das parcerias mais emblemáticas na televisão brasileira chegava ao fim após 40 anos de uma história rica: a da Fórmula 1 com a Rede Globo, embalada por uma Era de Ouro notável entre os anos de 1980 e 1990, mas que se tornou cada vez mais fadada ao declínio com o avanço do tempo. É, inclusive, o que muitos casais outrora bem-sucedidos vivem nos anos derradeiros, quando o desgaste os afasta cada vez mais e não há saída diferente do rompimento definitivo. O lado bom é que o fim do dia sempre é seguido de um novo amanhecer, e este veio através da Band, só que tal ciclo está novamente prestes a encerrar, e, possivelmente, de forma ainda mais melancólica.

É claro que não podemos ser ingênuos de acreditar que o rompimento precoce da Rede Bandeirantes com a F1 não tem relação com a parte financeira, pelo contrário. Há, evidentemente, muito dinheiro envolvido, e dinheiro este, diga-se, que a Globo recusou-se a pagar quando a relação já havia desandado. Na ocasião, o Liberty Media temeu ver a categoria deixar a TV aberta no Brasil, meio de transmissão ainda muito popular e rentável por cobrir a generosa fatia das classes C e D. Ou seja, ainda que falte um ídolo nas pistas, o mercado audiovisual brasileiro é muito ligado ao modo tradicional dos meios de comunicação de massa.

E sendo o Brasil um país de muita importância para a F1 por todo o legado dos títulos de Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna, o grupo norte-americano jamais correria o risco de perder de vez o público daqui por impasses com uma emissora. Foi assim que a oportunidade sorriu para Band e proporcionou a ela a chance de resgatar um slogan que foi se perdendo com o tempo, o de ser o ‘Canal do Esporte’.

Para ter a F1, a Band contou com muitas concessões do lado da categoria e chegou a um acordo que, hoje, representa um investimento anual de US$ 15 milhões (R$ 83 milhões, na cotação mais recente), valor bem abaixo do que era pago pela emissora de Jacarepaguá. Para chegar em grande estilo, investiu pesado na equipe e na proposta de cobertura, não apenas trazendo de volta classificação e cerimônia de pódio, já cortadas da Globo, mas ampliando a oferta a um público que costuma ser rigoroso — algo natural dos nichos —, com treinos livres na plataforma Bandplay (além do canal fechado BandSports) e debates pós-corrida.

Yuki Tsunoda em ação: Fórmula 1 é um produto que também exige esmero (Foto: Red Bull Content Pool)

E é aqui que reside um ponto de suma importância, ainda que não seja o determinante para o iminente fim: a Band não soube explorar o produto que tinha em mãos. A antológica temporada 2021, a primeira da emissora do Morumbi como detentora dos direitos de transmissão da Fórmula 1, acabou mascarando algo que começou a se tornar mais nítido nos anos seguintes: a falta de preparo da parte dos envolvidos para preencher uma grade maior dedicada a um esporte que exige muito, muito conhecimento.

Pior: em muitos momentos, o time de frente na exibição — aqui, leia-se narrador e comentaristas — cometeu erros primários que seriam evitados por uma simples apuração prévia, como, por exemplo, informações sobre jogos de pneus das equipes disponíveis para as corridas, algo que a Pirelli, fornecedora oficial, sempre emite antes da largada. Isso sem falar em episódios com colocações, digamos, infelizes e que não passaram batidos aos olhos do público.

Havia ali, sem dúvida, a oportunidade de mergulhar o telespectador naquele universo, que ganha gradativamente mais adeptos e traz um público novo impulsionado pelo sucesso da série Drive to Survive, da Netflix. A cobertura da F1 não é simplesmente sobre quem lidera o campeonato e quantas corridas faltam até o fim. Trazer o lado técnico para a pauta de forma correta é peça fundamental para fazer a engrenagem funcionar — e, aqui, mérito para a repórter Mariana Becker, sem dúvida a exceção à regra e que chegou a um patamar diferente, sendo hoje uma das profissionais mais respeitadas pelo fechado circo da categoria.

Sem dúvida, a ausência de um piloto brasileiro competindo na F1 — algo que se mantém desde a saída de Felipe Massa ao fim de 2017 — é significativa. Somos um país acostumado a abraçar apenas os esportes que oferecem glórias, o que não é o caso da dita elite do automobilismo mundial desde a famigerada temporada 2008, a do vice-campeonato de Massa por apenas um ponto contra o vencedor, Lewis Hamilton. É, portanto, cultural o desinteresse do brasileiro por corridas, mas a baixa audiência da F1 na Band nos últimos anos, com média de 2,4 pontos em 2024, também tem parcela de culpa no produto final que chega ao fã.

Agora, lógico que voltar para a Globo não significa ter uma qualidade de transmissão infinitamente melhor. Longe disso, até, considerando o jeito como terminou. Mas se a tendência se confirmar e a F1 também for disponibilizada no streaming da emissora, o Globoplay, a mesma chance que se abriu para a Band também será dada do lado de lá, de estudar o público atual e consolidá-lo de vez.

Do lado da Band, inevitavelmente restará o estigma de uma dolorida perda, que ainda que não pudesse ser evitada pela parte financeira, poderia ser mais sentida por todos os apaixonados por velocidade.

Fórmula 1 volta de 13 a 15 de setembro em Baku, no GP do Azerbaijão, 17º da temporada 2024.

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