Retrospectiva 2024: Alpine busca futuro no passado e termina salva por Gasly e Ocon
A temporada da Alpine foi marcada pelo desgaste com Esteban Ocon, a sacudida provocada por Flavio Briatore e a confirmação do fim da produção dos motores Renault na F1 a partir de 2026. Para 2025? Uma incógnita
A TEMPORADA DA ALPINE NA F1 2024 FOI UMA VERDADEIRA NOVELA MEXICANA do começo ao fim. A bagunça generalizada do time francês começou da pior maneira possível, com Pierre Gasly e Esteban Ocon fora da zona de pontuação nas primeiras cinco corridas do calendário e com aquele que era, provavelmente, o pior carro do grid no Bahrein, Arábia Saudita, Austrália, Japão e China.
Foi só no GP de Miami que Gasly conseguiu um único ponto, evidenciando os problemas vividos dentro da equipe de Enstone e potencializando uma crise interna que desgastou a relação da direção com a insatisfação de Ocon.
A verdade é que a Alpine vem piorando ao longo dos anos, sobretudo após a saída de Fernando Alonso para a Aston Martin. O último ano competitivo da equipe francesa foi 2022, quando tinha um bólido razoável. Em 2021, mesmo que de forma quase acidental, a Alpine chegou a vencer o GP da Hungria com Ocon. Mais do que o tão criticado motor Renault, a equipe mostrou-se incapaz de ser equilibrada na F1.
Tudo piorou no GP de Mônaco, quando Ocon forçou para ultrapassar o companheiro de equipe, danificou o carro de Gasly e precisou abandonar a prova após ser catapultado e destruir o próprio assoalho. Em uma relação já desgastada, a Alpine decidiu anunciar a saída do piloto no fim da temporada.
Ainda que na etapa seguinte, em Montreal, a dupla tenha pontuado com o nono e décimo lugares, um novo capítulo começou após Luca De Meo, presidente do Grupo Renault, definir a controversa volta de Flavio Briatore como conselheiro executivo da marca na F1.
O polêmico italiano começou uma verdadeira revolução dentro do time de Enstone e as primeiras vítimas foram Bruno Famin, então chefe da equipe e que deixou o posto poucas semanas depois, e a fábrica de Viry-Châtillon, na França. Os motores da Renault estrearam na F1 em 1977, e entre idas e vindas, estavam de volta ao grid em sequência desde 2002. Só que, para Briatore, estava claro que a unidade de potência francesa não era mais capaz de competir com as unidades de potência de Mercedes, Honda e Ferrari e o programa deveria ser descontinuado.
Funcionários da fábrica já trabalhavam no desenvolvimento do motor para 2026 e ficaram indignados com a decisão, mas já era tarde. Ainda houve tempo de protestarem no GP da Itália, em Monza, antes da oficialização do fim da produção e o início do processo de transformar a Alpine em equipe cliente na F1.
Primeiro, rolaram conversas com Maranello. Depois, o negócio foi formalizado com a Mercedes a partir de 2026. Oliver Oakes, então, foi alçado da Hitech para o time francês como chefe de equipe e as demissões começaram a acontecer. Na pista mesmo, a Alpine continuava sobrevivendo de migalhas, sempre brigando pela nona ou décima colocação — isso quando conseguia pontuar.

A virada de chave na temporada se deu a partir do GP de São Paulo, ainda que um pouco antes a performance em classificação já estivesse melhorando com Gasly e as atualizações do time. Em São Paulo, chuva e caos entregaram a Gasly e Ocon a chance de um improvável pódio em Interlagos. E ele veio duplamente, com o #31 em segundo e o #10 em terceiro após um acerto na estratégia e muita habilidade dos dois pilotos no piso molhado.
O resiliente Gasly e o desprezado Ocon somaram 33 pontos em uma única etapa e elevaram a Alpine do fundo da lista de pontos no Mundial de Construtores para a sexta posição, atrás apenas de McLaren, Ferrari, Red Bull, Mercedes e Aston Martin.
Nas etapas seguintes, os pontos também vieram, sobretudo com as performances de Gasly. O piloto emendou um quinto lugar no GP do Catar e um sétimo no GP de Abu Dhabi, encerrando a temporada em décimo no Mundial de Pilotos e confirmando a Alpine em sexto no campeonato mundial. Foram 65 pontos somados na F1 2024, sendo 49 tentos conquistados nas últimas quatro corridas do calendário.
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Jack Doohan — o menos badalado entre os novatos que estarão no grid da F1 na próxima temporada — foi promovido para o lugar de Ocon. Gasly, assim, assume de vez a liderança do projeto francês na F1 na despedida dos motores Renault na categoria.
O que será da Alpine em 2025? Isso é uma verdadeira incógnita. Mas que as novelas vão continuar nos próximos anos, isso é praticamente certo, ainda mais porque Doohan já chega ao grid pressionado para entregar bons resultados. E Franco Colapinto observa.
A Fórmula 1 está oficialmente de férias e dá adeus a 2024. A próxima atividade é a sessão de testes coletivos de pré-temporada, marcada para os dias 26, 27 e 28 de fevereiro, no Bahrein. A temporada 2025 começa com o GP da Austrália, entre os dias 14 e 16 de março.

