Ricciardo entrega futuro a antes perdida Renault e faz McLaren salivar por 2021

Antes de ir embora de vez, australiano embala e entrega futuro que parecia improvável para a Renault, incluindo pódio. McLaren espera ansiosa, porque Ricciardo é muito bom

Mesmo no ano em que a Renault conseguiu terminar o Mundial de Fórmula 1 como terceira força do pelotão, 2018, não havia o otimismo quanto à realidade dita pelas pistas com relação ao time francês. Após começo mais lento em 2020, a fábrica francês deu claro salto e, hoje, dá ares de ter terceiro melhor carro do grid. Panorama desenhado, sim, por melhor carro e motor, mas, especialmente, por ter Daniel Ricciardo em estado de graça. O pódio do GP de Eifel é um prêmio, mas é só uma parte do todo: agora, entrega futuro à Renault e faz a McLaren esfregar as mãos.

Não é hiperbólico, mas apenas justo, dizer que o campeonato de Ricciardo é de demonstração primorosa de habilidade de guiar um carro de corrida. É exatamente pelo que a Renault pagou quando investiu pesado em meados de 2018 e furou as conversas entre piloto e Red Bull sobre uma renovação de contrato.

O primeiro ano do australiano com a Renault foi difícil. O carro era pior que o do ano anterior – quando teve certa sorte ao conferir o quarto lugar, por conta do cancelamento dos pontos da Force India na primeira metade do ano – e conseguiu conquistar o posto de melhor do resto meio que bancada pela fraqueza geral do restante. Pudera, a Haas foi a desafiante da posição.

Ricciardo tomou chamada pública logo após a primeira corrida de 2019, quando errou na largada do GP da Austrália, mas aquilo chamou a atenção. Abordagem no mínimo pitoresca do chefe Cyril Abiteboul. Que se provou um tanto quanto grotesca conforme os meses passaram e ficou claro que o carro deixava a desejar. O quinto lugar no Mundial é injusto com a fraqueza da Renault, até. A McLaren melhorou um pouco e bateu os franceses por quase 60 pontos. Novamente, ficou na posição que teve por conta da falta de qualidade geral no restante o pelotão – a Toro Rosso ficou somente seis pontos atrás.

Entre os pilotos, Ricciardo fez temporada bem morna: nas 21 provas do campeonato, marcou 54 pontos e terminou somente em nono no Mundial de Pilotos. Mas nem foi essa a questão. Ricciardo parecia longe do piloto dos grandes momentos na Red Bull – não exatamente desmotivado ou desconectado, mas um tom abaixo do que se imaginaria de um nome de ponta entrando num desafio da magnitude que era a Renault.

Daniel Ricciardo comemora o primeiro pódio da Renault desde retorno ao grid (Foto: Renault)

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Tão fadada ao estranhamento estava a situação que Ricciardo, antes mesmo de iniciar a temporada 2020, segunda de um contrato de dois anos, acertou o futuro para 2021 longe da fábrica francesa. Nem mesmo ver o carro num fim de semana de GP era necessário antes que aceitasse um corte salarial e a proposta para ir à McLaren.

Então, em 2021, a Ricciardo substituirá Carlos Sainz e terá Fernando Alonso como suplente na Renault. Mas tinha um campeonato a correr antes disso.

Com todas as situações especiais que marcam o ano da pandemia, a Fórmula 1 demorou a começar. O panorama estava desenhado para o top-3 de sempre, Mercedes, Red Bull e Ferrari, receber a companhia próxima de uma McLaren em crescimento e da Racing Point no esquema ‘Mercedes rosa’. Havia ainda a expectativa quanto à AlphaTauri, antiga Toro Rosso, com contribuições muito mais fraternais da Red Bull que em anos anteriores. Não desse salto representativo, a Renault estava claramente em maus lençóis.

Embora o carro fosse razoável, as duas etapas da Áustria e a da Hungria não deram qualquer sensação de promessa. Os dois abandonaram na Áustria com problemas de freio – Ricciardo primeiro, Esteban Ocon no GP da Estíria – e sofreram em Hungaroring. Ricciardo precisou ousar na estratégia para conseguir tirar um oitavo lugar e quatro pontos.

Foi em Silverstone que começou a ‘Renaultssaince‘: quando o calendário começou a cobrar que os motores roncassem a valer, a Renault mostrou que podia rugir com qualquer outra rival. A realidade é que, desde então, marcou mais pontos que McLaren e Racing Point, além da Ferrari em sofrida jornada. Na prática, a Renault é terceira força da Fórmula 1 em 2020.

O primeiro pódio desde a retomada da equipe de F1 da fábrica francesa, em 2016, significa muito. É uma busca que valeu aposta de tatuagem e, se bobear, até pulinho para São Longuinho. Chegou. Mas é mais que isso. Ricciardo foi ao top-6 nas cinco últimas corridas e esteve lá em seis das oito provas desde o GP da Inglaterra. Se muito esperavam dos nomes da McLaren e da Mercedes rosa da Racing Point, agora Daniel ocupa o quarto lugar do Mundial de Pilotos. Está atrás somente de Lewis Hamilton, Valtteri Bottas e Max Verstappen, inalcançáveis na realidade atual.

Em 11 corridas, chegou a 78 pontos – recordem, como destacado há alguns parágrafos, foram 54 em 21 em 2019. E sobra para o companheiro Ocon, do qual muito se esperava em 2020 após passar um ano fora do grid. Ocon é rival para Leclerc e Verstappen no futuro? É futuro na Mercedes? O que dá para saber é que não é rival para Daniel agora. Esteban não tem metade dos pontos do companheiro.

O Ricciardo de risadas e brincadeiras fáceis de 2020 não parece estar tentando usar os divertidos traços de personalidade para esconder a situação aterradora de que não acredita no que está fazendo. Tudo tem fluido fácil. A verdade, porém, é que o trabalho que faz hoje para puxar a Renault será desfrutado por Fernando Alonso em 2021. Na Renault que parecia rumar ao vazio há dez meses, agora existe um norte apontado muito claramente na bússola de 2021.

Enquanto isso, Ricciardo fará outra mudança. A McLaren tem equipe de trabalho séria e cresceu demais em 2019 na relação com o ano anterior, mas, neste momento, viu a Renault saltar. Terá o australiano a possibilidade de pegar o elevador com o time inglês em 2021? É improvável, mesmo com motor Mercedes, mas, de repente, trata-se de opção mais prudente com o trabalho a ser feito pela revolução de 2022.

Nenhuma das duas fábricas está nadando no dinheiro, claro, mas a McLaren já garantiu os fundos e tem seu futuro na F1 garantido. A Renault precisa cumprir tópicos turvos de um acordo duro com o governo francês, feito há alguns meses a fim de não entrar em concordata. E o esporte tende a ser afetado por isso, mesmo que o momento individual da equipe da F1 seja positivo. Como será o orçamento do futuro? De que maneira a Renault entrará na nova fase da F1? Como honrar as promessas feitas ao governo francês e manter o nível de exigência financeira que a F1 sempre tem? A Renault é opção de mais risco.

No fim das contas, fica o lamento de que Ricciardo nunca tenha podido, de fato, guiar um carro campeão. Na Red Bull pela qual tinha dado resultados e vencido corridas, ficou cada vez mais insatisfeito ao ver que a equipe trabalhava mais e mais por Max Verstappen. Há quem acha que os austríacos maltrataram Daniel. Talvez nem seja o caso. Talvez tenha sido um mero azar de pegar de frente um dos pilotos mais talentosos a chegar na F1 em sabe-se lá quanto tempo. Mesmo assim, Ricciardo foi capaz de duelar sempre.

É difícil imaginar se Ricciardo terá nas mãos um carro para vencer corridas novamente, que dirá títulos, mas o vencedor de sete GPs, aos 31 anos, mostra que é um dos melhores do mundo. Onde quer que esteja, a equipe encontrará um caminho, ainda que leve um tempo. Por mais que Sainz e Lando Norris sejam bons pilotos, não são Ricciardo. Mesmo que o australiano jamais termine campeão, é o tipo de talento que as equipes querem encontrar e perder consigo por bons anos. A McLaren, é claro, já está ansiosa por tê-lo. Ricciardo é bom à beça.

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