Stop & Go — Pat Symonds: "Vou ganhar outro campeonato antes de me aposentar"

“Ainda não fiz milagres. Tinha ótimas pessoas trabalhando quando eu cheguei e só comecei a usá-los propriamente. Isso que fez a diferença”

Quando o escândalo do GP de Cingapura de 2008 foi publicamente conhecido, em julho de 2009, e ele demitido pela Renault e subsequentemente suspenso da F1 por cinco anos, parecia que a carreira de Pat Symonds havia sofrido danos irreparáveis. Hoje, pouco menos de seis anos depois, é difícil imaginar alguém mais em alta na categoria do que o antigo engenheiro de corridas de Michael Schumacher e atual diretor-técnico da Williams.

Ainda suspenso da F1, Symonds havia sido consultor da Virgin em 2011, no seu primeiro trabalho de volta à categoria, ainda banido de ter um cargo oficial dentro de qualquer equipe. Mas o fracasso do projeto da companhia de Richard Branson e em seguida as aspirações pequenas da Marussia não eram suficientes para ele. Então a Williams veio chamando, em julho de 2013.

A situação em Grove não era amigável. Mike Coughlan havia sido demitido e Symonds chegou como o substituto em meio a um período turbulento. Longe das brigas no alto da tabela há muito tempo, o tradicional time terminou o ano com míseros cinco pontos e o nono lugar do Mundial de Costrutores, à frente apenas de Marussia e Caterham.

Só que 2014 veio, a F1 mudou, os motores Renault se foram, chegaram os Mercedes. De repente, a equipe que virara uma ex-grande, agora comandada pelo sangue novo de Claire Williams e pela cabeça pensante de Symonds, rejuvenesceu, renasceu. Com Valtteri Bottas e Felipe Massa, a Williams voltou a assustar e ficou com o terceiro lugar entre os Construtores em 2014.

Agora, em vias de chegar como talvez a principal ameaça ao domínio da Mercedes, a Williams tem estabilidade e prosperidade com Claire e Symonds. O veterano falou ao site da F1 — 'Formula1.com' — sobre como encontrou a Williams em 2013, o que pensa do futuro da equipe, da categoria e de si mesmo e analisou seus pilotos. 

Pat Symonds crê em mais um título mundial na carreira (Foto: Getty Images)

Você foi do nada a um herói na F1. Agora você é uma das figuras mais procuradas no paddock.
Espero nunca ter sido um nada… (risos)

Vamos colocar dessa forma: você não teve impacto por um tempo porque não estava na F1.
Verdade. E agora eu estou aproveitando estar com a Williams. É um grande time. Sim, claro, é legal quando você é desejado por outras equipes, mas para ser honesto, faço o que quero. E gosto de trabalhar aqui, das pessoas e do que estamos tentando atingir. Estou feliz aqui.

Qual o seu segredo por trás da ressurreição da Williams? Claire Williams disse frequentemente que grande parte do sucesso de 2014 foi por causa de você.

Bem, quando eu cheguei na Williams vi que estavam lá boas pessoas, mas que a equipe não era muito organizada. Então muitos dos esforços estavam indo na direção errada. Creio que o que fiz não foi dizer as pessoas como projetar um carro, mas demonstrar um caminho de como trabalhar. Quando vi as pessoas trabalhando juntas, comecei a pensar sobre desempenho. Agora talvez haja um pouco mais de disciplina em como a Williams trabalha e o pessoal está bem mais produtivo agora. Ainda não fiz milagres. Tinha ótimas pessoas trabalhando quando eu cheguei e só comecei a usá-los propriamente. Isso que fez a diferença.

A Williams estava batalhando contra o declínio por quase uma década, mas agora, em um ano, a equipe é possivelmente a maior desafiadora da Mercedes pelo título de 2015. Quais suas três mudanças mais cruciais?

Comunicação é uma. Enfatizo no desempenho do carro e do time mais que no do túnel de vento e esse tipo de coisa. E a terceira coisa é dar poder a gente que toma decisões sem medo. São os três aspectos mais importantes para colocar a Williams de volta em seus pés.

Quando você chegou, ficou surpreso pelo estado ruim em que a Williams estava? Tendo sido os favoritos por tanto tempo, terminaram o Mundial de Construtores em 2013 com o nono lugar.

Sim. Em meados da década de 1990, quando eu estava na Benetton, minha maior rival era a Williams. Então, sim, eu fiquei surpreso quando cheguei a Grove de encontrar certos aspectos que não estavam muito diferentes dessa época. Nem tanto tecnicamente, o principal era atitude. A atitude não mudou. Isso me surpreendeu. Tinha mais a se fazer quando eu cheguei do que esperava.

Nesse momento o túnel de vento e o projeto virtual do carro são fundamentais. Você está tentando levar o projeto do carro dentro da pista, ao mundo real, outra vez?

Sim, é exatamente o que eu significo. Há alguns momentos em que as pessoas estão bem presas em simulação e túnel de vento sem pensar muito no que significa para o carro na pista. Acho que eu trouxe um pouco mais de integridade ao que fazemos, focar no desempenho do carro real. Por exemplo: é melhor ter um número menor no túnel de vento se for um número consistente. Vamos do mundo virtual de volta para o mundo real, com o mundo virtual sendo parte da engenharia. Mas o foco é também no desempenho de pista real.

O mais novo projeto de Symonds e da Williams: o FW37 (Foto: Xavi Bonilla/Grande Prêmio)

Ainda que você nunca realmente tenha perdido o contato com a F1, o desenvolvimento mudou muito rápido no período que você estava fora. Como você acompanhou?

É difícil acompanhar. Passei um ano e meio fazendo nada, ou muito pouco, no que diz respeito ao trabalho de F1. Nesse tempo, grandes mudanças de regra aconteceram. Mas quando você se afasta um pouco e analisa tudo você provavelmente percebe coisas que não tinha visto antes e agora são claras. Então, assim, você ganha um pouco e perde um pouco. Claro que se você parar por muito tempo é difícil de voltar e tentar acompanhar, então o retorno não foi realmente um problema.
 
Os carros do ano passado não eram lá os melhores candidatos para um concurso de beleza; os deste ano parecem melhores…
 
Sim, são. Concordo que os carros do ano passado, no geral, não pareciam bonitos – a Williams era um dos melhores, para ser sincero. Os carros de 2015 definitivamente são mais bonitos – mas o carro que vence sempre parece mais bonito (risos)
 
Os pilotos estão sonhando com carros de 1000 cv. Você sonha com isso também?
 
E possível ter estes tipos de carros, e isso não é difícil. Eu não diria que estou sonhando com um caro destes porque eu sou realista, não um sonhador. No momento, o que precisamos é ter uma solução decente de negócio e não perder equipes porque tudo está muito caro. Estas são preocupações muito mais importantes. 1000 cv, OK, divertido, mas isso é a coisa certa para a F1 no momento? Não tenho certeza. Acho que o que fizemos com a unidade de potência para 2014 foi absolutamente a coisa certa, mas provavelmente não tiramos o melhor dela ainda. Os carros de 1000 vc não são a cura instantânea. Os carros da Toyota em Le Mans também têm 1000 cv e não são mais espetaculares que um carro de F1. No ano passado, tivemos grandes corridas, então vamos nos concentrar nas corridas e não nos desejos.

Se a coisa ficar difícil, a Mercedes vai fornecer a vocês a mesma unidade de potência com que eles correm? A caridade começa em casa?
 
Sim, começa. Mas sabemos que temos a mesma unidade de potência. As regras determinaram que todas as unidades têm de ser iguais. Fisicamente, o hardware é exatamente o mesmo. O modo como usamos o motor é que é por conta nossa, por nossa engenharia e o julgamento de risco. Estou muito feliz com a unidade de potência e a relação que temos com a Mercedes.
 
Você disse que, se a Williams quiser dar um passo à frente, precisa de mais fundos. Onde é que você vê e o quanto você estima que seja a diferença entre os ‘gastões’ e a Williams?
 
O que eu disse, na verdade, é que, se a gente quiser vencer constantemente, nós vamos precisar de mais fundos. Podemos sempre dar um passo à frente porque dentro de nosso orçamento nós ainda conseguimos melhorar. Acho que é errado dizer que você não pode fazer melhor com um pequeno orçamento. Nós batemos a Ferrari no ano passado com provavelmente metade da grana dela. Então estas coisas podem ser feitas – e você só precisa ser um pouquinho mais esperto. Há coisas que você gosta de fazer que não podem ser feitas se seu orçamento é menor. Mas vou ser claro: a Williams não tem um orçamento pequeno – somos um time saudável. Mas algumas das equipes que brigam conosco tem muito maiores, e quando você está numa fórmula onde a atenção ao detalhe é tudo, é melhor usar seus fundos de forma mais inteligente. Nos últimos tempos, o dinheiro não compra resultado.

Você trabalhou com Ayrton Senna, Michael Schumacher e Fernando Alonso. Agora, está com Valtteri Bottas e Felipe Massa. O que você pensa da dupla – e onde você vê o ‘gene de campeão’?
 
É difícil precisar onde os pilotos estão. O primeiro piloto de ponta com que trabalhei foi Senna nos anos 80, depois com Schumacher nos 90 e Fernando, nos 2000 – justamente dez anos de diferença para cada um. Agora, mais dez anos se passaram do primeiro título com Fernando, e nós temos Valtteri como o jovem que muitos acham capaz de consegui-lo. Tendo em mente que dez anos são uma vida na F1, os requerimentos de agora para um piloto mudaram significativamente. Você mencionou a palavra ‘gene’, e acho que tem algo com essa palavra. É aquela paixão que queima, a crença absoluta de que eles podem conseguir. Acho que agora há pilotos aí que são muito rápidos, mas eles duvidam de si às vezes – e o minuto em que um atleta duvida de si representa sua derrota. O que eu vi em grandes pilotos com quem trabalhei eu vejo em Valtteri. Ele tem o direito de ser campeão. Tem outros itens no chamado ‘gene de campeão’, como atenção aos detalhes e ética no trabalho. Essas coisas não surgem facilmente, mas em Valtteri eu vejo estas coisas como vi nos demais nestes últimos 30 anos. Então eu tenho muita esperança de que ele vá ser campeão.
 
Com Felipe, é muito mais interessante avaliá-lo. Muita gente sabe que Felipe foi capaz de ganhar um campeonato porque ele quase conseguiu em 2008. Depois do acidente na Hungria, muitas pessoas pensaram: ‘OK, Felipe, que pena’. O que eu descobri na Williams é que nós fizemos Felipe acordar. E se a gente construir um carro muito bom, ele também pode vencer. Na segunda parte de 2014, ele foi a revelação. Foi um Felipe que não vimos em anos.
 
Você disse antes que não é um sonhador e que é realista, mas qual fantasia poderia se tornar realidade?
 
Não tem outra fantasia que não seja vencer o campeonato. O que eu realmente queria ver é a gente se mantendo e melhorando. A temporada passada foi ótima terminando em terceiro. Foi uma pena que a Williams não tivesse vencido, então seria legal ganhar neste ano. E acho que podemos terminar entre os três primeiros de novo. Minhas metas para este ano são sermos melhores do que fomos em 2014.
 
Estamos em 2015. Você espera ser campeão com a Williams um dia?
 
Claro que sim. Eu vou ganhar outro campeonato antes de me aposentar.

SENNA NA MCLAREN

Sim, é uma notícia de 2015. A marca inglesa anunciou nesta segunda-feira (9) que contratou Bruno Senna para integrar seu time oficial nas corridas de GT e também para colaborar com o desenvolvimento de modelos de rua. “É uma grande honra para mim me juntar à McLaren, um time pelo qual meu tio teve tanto sucesso e um dos nomes mais famosos no automobilismo. 2015 é um grande ano para toda a McLaren e é um momento animador para ser parte de tudo o que está acontecendo”, comentou Senna.

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SWISS LEAKS
Fernando Alonso, Flavio Briatore, Heikki Kovalainen e Valentino Rossi: estes nomes constam em uma lista de 61 perfis divulgada pelo Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo (ICIJ, na sigla em inglês) oriunda do vazamento de dados confidenciais da filial suíça do banco HSBC. A investigação, batizada de ‘Swiss Leaks’ e conduzida por jornalistas de 45 países, começou em 2008 depois que um ex-funcionário do HSBC entregou dados do banco britânico às autoridades francesas. O jornal ‘Le Monde’ conseguiu acesso às informações e as compartilhou com a ICIJ. A revelação foi feita neste domingo (8).

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LEVEL: LEGENDARY
Depois de conquistar a terceira posição no Mundial de Construtores em 2014, a Williams assegura que fez no período do inverno europeu um trabalho com a intenção de obter resultados ainda melhores neste ano. E o finlandês Valtteri Bottas já prevê que o grau de dificuldade para que estes objetivos sejam alcançados será maior. “Agora a parte mais difícil começa”, declarou Bottas, que garante: “Estamos realmente determinados a fazer melhor”.

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