Bottas se liberta da ‘síndrome do fiel escudeiro’ e assume papel de líder na Alfa Romeo
Valtteri Bottas quase desistiu da Fórmula 1 ao final de 2018 por não conseguir vencer Lewis Hamilton, mas os anos na Mercedes foram fundamentais para a fase de liderança que hoje exerce na Alfa Romeo
Quando chegou na Mercedes, em 2017, Valtteri Bottas encontrou um Lewis Hamilton já tricampeão e mordido pela derrota sofrida no ano anterior para Nico Rosberg. Mas o finlandês sabia que estar não só numa equipe de ponta, mas na melhor do grid na ocasião, era uma oportunidade que não poderia ser desperdiçada. Vencer corridas seria questão de tempo. Um título, então, não parecia ser um alvo tão distante.
O tempo foi passando, GPs sendo disputados, e a dificuldade em bater o companheiro de equipe começou a criar em Bottas um sentimento de frustração que o fez pensar em deixar a elite do automobilismo mundial no final de 2018. A revelação foi feita pelo próprio finlandês em junho deste ano, em entrevista ao podcast My Big Break, da Motor Sport Magazine. “No final de 2018, especialmente quando comecei a ter o papel de segundo piloto na equipe, eu realmente não aguentei, eu realmente lutei. Não foi divertido. As últimas quatro ou cinco corridas de 2018 foram muito dolorosas. Você deveria curtir a F1, é muito legal, mas não foi nada disso.”
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Em alguns aspectos, a trajetória de Valtteri Bottas na Fórmula 1 lembra momentos percorridos por Rubens Barrichello, principalmente o período em que dividiu os boxes da Ferrari — aquela Ferrari — com Michael Schumacher. Foi tendo o brasileiro ao seu lado que o alemão fulminou recordes na F1 e chegou ao seu sétimo título. E foi com Bottas como companheiro de equipe que Hamilton trilhou o caminho rumo aos mesmos sete triunfos.
2022, no entanto, representou o ponto de virada na carreira do #77. Diante de uma oferta para correr na Mercedes por apenas mais uma temporada, Bottas entendeu que era o momento de deixar o papel de fiel escudeiro e apostar num projeto ambicioso e que viu nele a figura de um líder em potencial. E com a Alfa Romeo, o piloto, que completa 33 anos este mês, ganhou o protagonismo que tantos buscam quando chegam a uma equipe na Fórmula 1.
“É a temporada que mais gostei até agora. Realmente, estou mais leve e curtindo a Fórmula 1 ao máximo, agora. Em termos de corrida, é bem divertido, o meio do pelotão traz táticas diferentes, você pode ganhar muitas posições com uma boa decisão, é completamente diferente”, disse Bottas à Autosport.
De fato, o trabalho na Alfa Romeo tem proporcionado a Bottas uma visão totalmente diferente da que ele estava acostumado. E a experiência dos anos de Mercedes tem sido fundamental para o desenvolvimento do atual time na temporada. Nos fins de semana, Valtteri se destaca principalmente nas classificações, e esse é um ponto forte que também era notado quando defendia as Flechas de Prata. Foram cinco idas ao Q3 nas seis primeiras corridas, e, até o momento, é responsável por 46 dos 51 pontos que a base em Hinwil tem na classificação.
Bottas, na verdade, só não foi além porque esbarrou nos problemas da própria Alfa Romeo, ainda que a C42 seja muito bem nascida sob o novo regulamento. O carro, na verdade, ganha de todos no quesito peso, e isso é algo digno de nota, uma vez que equipes como a Red Bull ainda lutam para perder os quilos a mais que acabam comprometendo a performance em determinados aspectos.
As rivais diretas, McLaren e Alpine, acabaram ganhando vantagem nas etapas seguintes graças às atualizações. Enquanto isso, a Alfa Romeo passou a depender quase que exclusivamente dos resultados de Bottas, e o finlandês não deixou por menos. Mas as marcas que o veterano tem deixado no time chefiado por Frédéric Vasseur vão além das atuais conquistas dentro da pista.
“O valor que ele trouxe à equipe é muito maior fora do carro: é nas reuniões e na fábrica. É um fato que ele sempre pensa na equipe e não nele mesmo. Está sempre pensando tirar o máximo de 500 pessoas que trabalham em nossa fábrica. Todas as vezes que ele vai ao simulador [na Suíça] passa duas horas fazendo um tour na fábrica, departamento por departamento. Está tentando motivar o pessoal, é a parte invisível do trabalho, mas para mim é ótimo”, afirmou o dirigente, que disse ainda que Bottas tem sido um grande motivador, “desde os guardas até o pessoal de produção, engenheiros, aerodinamicistas e os departamentos de marketing e finanças”.
Bottas ainda tem adicionado ao costumeiro clima sério da F1 uma descontração que ajuda a aproximá-lo ainda mais da torcida. Seja nas fotos ao estilo “naturalista”, seja nos momentos em que sabe rir de si mesmo e embarca nos memes com gosto! E isso é, sim, reflexo da mudança de ares. Muitos pilotos passam anos lutando pela chance de um dia brigarem por um título. Bottas sabe que essa não é mais a sua realidade, mas tem feito do momento atual o seu melhor na Fórmula 1. E essa é, com certeza, uma de suas maiores vitórias na categoria.
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