Bortoleto vê final da Fórmula 2 virar tudo ou nada em inesperada luta desigual no Catar
A decisão conjunta inexplicável — de Kush Maini em segurar Gabriel Bortoleto e da Invicta em chamar o indiano aos boxes em vez de usá-lo de escudo — pode, sim, custar o título da F2 ao brasileiro
Gabriel Bortoleto precisou de sangue frio para equilibrar uma balança que se mostrou surpreendentemente injusta na corrida 2 da rodada do Catar da Fórmula 2, disputada no domingo (2). Como se não bastasse o controverso safety-car virtual que o atrapalhou no pit-stop e custou 5s — e a vitória —, a atitude da Invicta em não ajudá-lo simplesmente transformou a decisão em Abu Dhabi contra Isack Hadjar e Paul Aron em um tudo ou nada, e talvez nem mesmo o brasileiro tenha imaginado que a situação chegaria a tal ponto.
O pódio ainda conquistado por Bortoleto, diga-se, é todo na conta dele. A partida segura na largada o fez pular para a liderança já na curva 1, e mesmo Aron seguindo-o de perto, a impressão era de que não seria tão difícil assegurar a terceira vitória do ano. Até mesmo o provável erro no lance do VSC — a FIA alegou que ele teve tempo para evitar a entrada do pit-lane e não o fez — foi compensado com uma pilotagem agressiva, mas ao mesmo tempo consciente.
Só que Gabriel certamente não esperava que além do duelo direto contra Aron e Hadjar, veria a Invicta, a própria equipe, se transformar em um obstáculo. É inexplicável a atitude do time de não ter ordenado Kush Maini ao dar ao menos mais uma volta antes do pit-stop para frear o ritmo dos adversários que estavam imediatamente atrás. O choque é ainda maior quando se constata que ele perdeu a segunda posição para Hadjar por míseros 0s4.
É preciso, claro, esclarecer que o piloto indiano era um dos que haviam optado pela chamada estratégia alternativa, quando se parte para o primeiro stint com os pneus mais duros da gama. Ele, então, estica ao máximo a parada para permanecer na pista e se valer de possíveis safety-cars, e são vários os exemplos de corridas que já foram decididas graças a essa tática. Por mais incerta que seja, portanto, ela faz sentido.

Kush era um desses, assim como Oliver Bearman, Joshua Dürksen, Max Esterson, Luke Browning e Josep María Martí — este último, companheiro de Hadjar na Campos. Por conta dos incidentes, a corrida terminou no limite do tempo, e faltavam cerca de 12 minutos quando a transmissão mostrou os rádios de Bortoleto pedindo à Invicta para ordenar a troca de posições na pista. Maini era o terceiro colocado, enquanto Bortoleto tinha apenas Browning, também sem parada, entre ele e Aron e Hadjar.
“Peça ao Kush para me deixar passar e segurar os outros carros”. A Invicta, então, deu a ordem, mas o indiano deu de ombros, aparentemente, pois seguiu se defendendo. “Agora!”, bradou Gabriel, até que Kush enfim saiu da frente na última curva, mas para levar o carro aos boxes e cumprir a troca obrigatória — e isso não teria acontecido se não fosse uma chamada do time. O detalhe era que Bearman (primeiro), Dürksen (segundo) e Browning (quarto) seguiram na pista, todos na mesma estratégia de Maini.
Os dois primeiros colocados ainda deram mais quatro giros antes de entrarem para os boxes, portanto é uma decisão conjunta inexplicável — de Maini, ao segurar deliberadamente o companheiro, e da equipe, por resolver chamar o indiano para o pit-stop quando poderia muito bem tê-lo usado de escudo por ao menos um giro — e que pode, sim, custar o título, já que Gabriel deixou Lusail agarrado ao 0.5 ponto suado da sprint da Itália, aquela do empate com Dennis Hauger no oitavo lugar.
Maini, aliás, já se enroscou com Bortoleto na pista algumas vezes na temporada. Na Inglaterra, por exemplo, o brasileiro reconheceu o “jogo duro” do colega, que o lançou para fora da pista na última curva da última volta. A disputa valia o pódio, e Gabriel perdeu o terceiro posto porque concluiu a ultrapassagem pelo lado de fora. Claro que foi num momento em que o campeonato estava totalmente aberto, mas são lances que já deixam claro que não será tão fácil conseguir ajuda do lado de lá — só a título de comparação, Martí fez Bortoleto ter de ir para a área de escape para não bater, o que certamente o fez perder tempo.
É sobre isso, pois há um campeonato em jogo. Agora, cabe principalmente à Invicta ser coesa nas decisões que toma. Se a ordem era para que os dois trocassem de posição, por que chamou Maini imediatamente aos boxes? Ora, a lógica de colocar Gabriel de cara para o vento para acelerar à vontade não se aplica quando os rivais que estão logo atrás também podem se valer do mesmo benefício.
Restam duas corridas, e até Aron ainda tem chances. Tudo pode acontecer, mas Bortoleto já entendeu, como ele mesmo disse, que só leva essa se colocar “a faca nos dentes”.
A Fórmula 2 retorna no próximo fim de semana, em Abu Dhabi, última rodada da temporada 2024. O GRANDE PRÊMIO acompanha todas as atividades.
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