Retrospectiva 2024: Bortoleto brilha com título em estreia na F2 e carimba ida para F1
Gabriel Bortoleto provou na prática que é um piloto que aprende rápido, e a conquista na Fórmula 2 só veio sacramentar uma certeza que começou a se desenhar em Monza: a F1 era o único destino possível
Se o novo carro trouxe uma verdadeira bagunça na ordem de forças no grid da Fórmula 2 2024 — ou ao menos do que se projetava para a temporada depois de 2023 —, foi um novato quem melhor soube aproveitar a oportunidade que se abriu para os coadjuvantes roubarem a cena. Enquanto todos viravam os holofotes para nomes como Andrea Kimi Antonelli, Oliver Bearman e companhia, Gabriel Bortoleto foi crescendo passo a passo até se tornar grande demais para a categoria — tão grande que o salto para a Fórmula 1 foi simplesmente natural.
Não havia sentido para que isso não acontecesse, e isso porque Gabriel demonstrou, além do talento, o quão rápido consegue se adaptar às diferentes situações. Foi, claro, uma jornada permeada por alguns pequenos erros no começo, mas até eles foram necessários nesse processo de crescimento que terminou com a volta do Brasil à F1 regularmente depois de sete anos.
O curioso é que um desses erros o levou ao primeiro embate contra aquele que seria o principal adversário na luta pelo título, Isack Hadjar. No Bahrein, abertura do campeonato, depois de herdar a pole-position por causa da desclassificação do companheiro de equipe, Kush Maini, tocou o carro do francês ainda na largada, foi punido em 10s por causar o incidente e teve de fazer uma corrida de recuperação dali em diante. E foi essa escalada de nada menos que seis posições em nove voltas que trouxe indícios de que havia algo especial por vir daquele piloto.
O começo, todavia, também esbarrou em problemas do carro. Foram dois abandonos por quebras em rodadas seguidas, na Arábia Saudita e na Austrália, até finalmente experimentar o gosto do primeiro pódio, na Emília-Romanha — que por pouco não foi vitória, mas Hadjar (ele novamente!) segurou bem a pressão para receber a bandeirada em primeiro.

Só que o ótimo resultado construído em Ímola o levou para o top-5 da classificação. De repente, a esperança de vê-lo brigando pelo título começou a ganhar cada vez mais corpo, e a primeira vitória passou a ser questão de tempo. Até que, na Áustria, depois de largar em terceiro, subiu ao degrau mais alto do pódio em mais uma bela performance.
Os 30 pontos somados no Red Bull Ring o ajudaram a chegar ao top-3, atrás agora somente de Hadjar e Paul Aron. Só que Bortoleto precisou de paciência e cabeça para não perder Hadjar de vista na tabela, e ainda encaixou ótima regularidade para capitalizar em cima dos erros de Aron e dos problemas de Isack com o carro da Campos.
A apoteose vivida na Itália com a vitória na corrida 2 depois de largar em último ainda trouxe nos bastidores a negociação com a Sauber. E, de fato, era mais que justo encaixá-lo no grid da F1, independentemente do resultado da F2.
Cerebral, em um circuito urbano dos mais traiçoeiros, Baku, Bortoleto jogou, como diz popular jargão, com “o regulamento debaixo do braço” e assumiu a liderança da classificação após outra etapa que deixou Hadjar à beira de um ataque de nervos com a Campos. Na classificação, um problema esquisitíssimo nos freios fez o francês passar direto no retão, bater na barreira de proteção, causar bandeira vermelha e ainda ser punido por isso! Detalhe que o companheiro de equipe, Josep María Martí, teve a mesma falha quase que imediatamente.
Sem ter nada a ver com isso, Gabriel se preocupou apenas em não se envolver em incidentes e terminar nos pontos. Conservadorismo, talvez, mas que foi essencial para assumir a liderança para de lá não sair mais. E nem mesmo a rodada do Catar abalou a confiança dele, pelo contrário. A impressão, na verdade, era que Bortoleto já estava mesmo pronto, pois soube equilibrar o mental no momento certo para bater um adversário duríssimo com autoridade.
O acordo com a Sauber só foi a cereja do bolo (e que cereja, claro!) de um ano praticamente irretocável. Bortoleto foi eleito o novato de 2024 na premiação da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), estreou oficialmente com a equipe de Hinwil nos testes coletivos de pós-temporada, em Abu Dhabi, e deixou boa impressão ao andar no grupo da frente na sessão matutina em Yas Marina. Claro que será um caminho longo de aprendizado daqui para frente, porém Gabriel já deu mais que provas de que é alguém que assimila o que é preciso muito rápido.
A Fórmula 2 volta a acelerar no próximo ano, entre os dias 15 e 16 de março de 2025, com a abertura da temporada em Melbourne, na rodada da Austrália.
▶️ Inscreva-se nos dois canais do GRANDE PRÊMIO no YouTube: GP | GP2

