GUIA FE 2019/20: ‘Estranhas no ninho’, Mercedes e Porsche estreiam sob holofotes

Após quase dois anos de preparação, chegou a hora de Mercedes e Porsche entrarem de vez na Fórmula E. A categoria dos bólidos elétricos vê, com as duas, o aumento da lista de fábricas e uma briga de foices que se avizinha

Faz muito tempo desde que a Mercedes e a Porsche anunciaram que começavam um programa de ingresso na Fórmula E. As definições foram divulgadas na mesma semana, inclusive: a Mercedes em 24 e a Porsche em 28 de julho de 2017. Naquele momento, portanto, resolveram direcionar suas divisões esportivas para a categoria dos monopostos elétricos e abrir mão de outras atividades. Mais de dois anos depois, chegou a hora das duas irem à pista para, enfim, competir.
 
Começou, então, um trabalho intenso para os preparativos. A Porsche deixou o WEC, onde vinha tendo enorme sucesso, ao passo que a Mercedes datou a saída do DTM para o fim de 2018. O primeiro problema, na sequência, foi o fim do período para homologar trens de força, que expirava e garantia que, caso as duas fábricas quisessem entrar no campeonato já junto com o Gen2, na jornada 2018/19, teria de fazer com motores produzidos por outras fabricantes. 
 
Ambas preferiram deixar para 2019/20, mas de maneira diferente. A Porsche esperaria para pular de mala e cuia, enquanto a Mercedes instituiu a entrada da HWA, sua velha parceira de DTM, para entender melhor o campeonato em 2018. A HWA engordou o grid: escolheu Gary Paffett, bicampeão do DTM e há muito tempo piloto ligado à Mercedes, e Stoffel Vandoorne, recém-saído da Fórmula 1. O trem de força escolhido foi o da humilde – e não concorrente direta no mercado – Venturi. 
Durante o ano, a HWA até chegou à pole, mas viveu mais altos do que baixos. De certa forma, não importava muito: o plano era entender melhor a categoria e a tecnologia EV enquanto a nave-mãe preparava o ingresso em suas fábricas de Stuttgart, na Alemanha, e Brackley, na Inglaterra. E assim foi: temporada findada, HWA absorvida como equipe de fábrica. 
O carro da Mercedes para a temporada 2019/2020 da Fórmula E (Foto: Reprodução)
Desde cedo, a Porsche anunciara que Neel Jani, de rápida passada pela Dragon anos atrás e veteranos da fábrica no endurance, seria um dos pilotos e trabalharia de forma pesada nos preparativos. Para a outra vaga, queria alguém experiente na categoria. Chegou a testar Brendon Hartley – campeão mundial no endurance com a Porsche, mas que disse nunca ter tido chance real de ocupar a vaga e fechou com a Dragon – e até contou com Nelsinho Piquet para andar no simulador. O alvo, entretanto, era outro velho conhecido: André Lotterer, que esteve com a fábrica na temporada 2017 do WEC.
 
Aqui, cabe uma explicação: a Porsche manejou a equipe completa que fez quatro anos de esforços no WEC para a Fórmula E: chefia, engenharia, mecânicos. Mesmo grupo de trabalho, salvo, evidentemente, gente que deixou a montadora. Foi o caso de Andreas Seidl, por exemplo, que começou a supervisão do projeto, mas no meio do caminho foi se tornar chefe da McLaren na F1. 
 
Lotterer tinha dois anos de experiência na DS Techeetah, quatro pódios e um título de Equipes. Experiência e velocidade faziam do alemão um nome ideal. Após o fim do campeonato passado, o anúncio de que seria ele a figura a ancorar o projeto, deixando a sombra do bicampeão Jean-Éric Vergne na DS Techeetah, era um segredo mal guardado.
Já a Mercedes, tinha uma decisão a tomar: diferentemente da rival alemã, já contava com uma dupla de pilotos herdada da HWA. Manter Vandoorne era o óbvio a fazer. Para a outra vaga, demorou, cozinhou, testou gente, deliberou e definiu que não iria seguir com o veterano Paffett. O nome escolhido foi o de um jovem: Nyck de Vries. O holandês foi contratado quando liderava o campeonato da F2 – que conquistou. 
 
Promessa desde o kart, De Vries parecia direcionado à F1 quando a McLaren incorporou o nome dele em sua academia. A escolha para seguir ao futuro com Lando Norris, entretanto, tirou De Vries do jogo. Sem grana, sem vaga de F1. A Fórmula E é uma alternativa para um dos jovens mais rápidos das categorias-satélite atualmente. 
Neel Jani na estreia da Porsche na Fórmula E (Foto: Porsche)
A chegada de De Vries apontou ainda outra característica que a categoria fortalece: a de alternativa aos pilotos que chegam perto da F1 e não entram, bem como aos que não contam com boas chances e acabam cuspidos pelo Mundial rapidamente. A Fórmula E tem bons salários e fornece a jovens, como De Vries, a possibilidade de ser piloto profissional ao passo que segue nos monopostos e na Europa. É uma oportunidade única para os muitos que não chegam à F1 ou que chegam sem as amarras necessárias para que permaneçam por longos anos.
Agora, as duas já têm pilotos e seus carros apresentados. É a hora da verdade. Durante os anos de WEC, a Porsche teve de lidar e manejar com expertise a tecnologia híbrida – e com ela, claro, a tecnologia EV. A Mercedes é uma novata, nunca teve de criar traquitanas voltadas a esse tipo de tecnologia, ao menos esportivamente falando. O ano de HWA provavelmente ajuda, mas ainda é um paredão a ser escalado. Além disso, entra já como provedora: a Venturi utilizará seus motores logo de cara.
 
Na pré-temporada, as duas não emocionaram. Ainda que tenha faltado velocidade, os carros não saíram se quebrando pelo caminho: os dois problemas mais sérios da Porsche foram por conta de batidas dos pilotos. Nas simulações de corrida, ambas conseguiram aparecer bem em uma tentativa. 
 
Após tempos de muito falatório sobre preparação, chegou, enfim, o momento de Mercedes e Porsche se colocarem no desconfortável lugar de novatas da Fórmula E, onde ninguém se deu bem até agora, e mostrarem que podem competir. Os holofotes estão voltados para a dupla.

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