Andretti vira coadjuvante e não dá a Dennis armas necessárias para vencer na Fórmula E

Em segunda metade de temporada melancólica após conquistar o primeiro título mundial da carreira, Jake Dennis extraiu o máximo que pôde da Andretti enquanto foi possível. No entanto, faltou à equipe americana dar as ferramentas necessárias para que o inglês pudesse manter o time fora do posto de coadjuvante do campeonato

Campeã do Mundial de Pilotos da temporada 2022/23 da Fórmula E com Jake Dennis, a Andretti mudou completamente de figura no campeonato que se encerrou no último fim de semana. Enquanto a Porsche, fornecedora de trens de força do time americano, celebrou a conquista mundial de Pascal Wehrlein, a marca vermelha e branca caiu de desempenho tanto na disputa entre pilotos quanto no Mundial de Equipes. Em 2024, a tradicional marca dos Estados Unidos não passou de coadjuvante na categoria.

Os números de um ano para o outro deixam essa queda muito clara. Dennis somou 229 pontos em 2023, com duas vitórias, 11 pódios e duas poles, contra 122 tentos em 2024: um triunfo, quatro pódios e uma largada na posição de honra. Entre as equipes, a situação foi a mesma — foram 252 pontos e o terceiro lugar no ano passado, contra um quinto lugar e 169 tentos na última edição.

A queda, que foi vista praticamente em todas as clientes — com exceção da ABT Cupra —, obviamente ficou mais acentuada na própria Andretti e na Envision, equipes que se sagraram campeãs no ano passado. Mas por que o time americano passou tão longe do desempenho de 2023?

Na verdade, alguns fatores explicam isso. O primeiro deles é que, com mais dias de testes, as fornecedoras conseguiram obter uma compreensão ainda melhor de um conjunto que foi pouquíssimo modificado de um ano para o outro, o que ajudou bastante no crescimento de praticamente todas elas. Mas a própria Andretti também tem culpa no cartório.

Dennis sofreu com a Andretti em 2024, principalmente nas classificações (Foto: Fórmula E/Sam Bagnall/LAT Images)

Ao longo de toda a temporada 2022/23, a Porsche sofreu em condições de classificação. Enquanto a fabricante lutava por recuperações ao largar quase sempre no fundo do grid, a Andretti se saía muito melhor e viu Dennis largar no top-10 em 11 de 16 corridas — destas, oito foram entre os cinco primeiros. Logo, se acostumou a entrar nas provas em uma posição de vantagem e levou o inglês ao recorde histórico de pódios em um mesmo ano na categoria (11).

Em 2024, o número de largadas no top-10 despencou para sete, com apenas três entre os cinco primeiros. Enquanto a posição média de largada em 2023 foi de 6,25, em 2024 esse número disparou para 12,2. Em uma categoria tão equilibrada, a queda acentuada de ritmo nas classificações impacta diretamente nos resultados.

Ainda há o argumento de que, com várias corridas de pelotão no calendário, há espaço para grandes recuperações depois de classificações ruins. É verdade, e o próprio Dennis precisou provar isso na prática: saiu de décimo para quinto em São Paulo; 18º para segundo em Misano 1; nono para segundo em Misano 2; 11º para quinto em Xangai 1 e 18º para décimo em Portland 2.

O inglês ganhou posições em relação às largadas em absolutamente todas as primeiras sete corridas do campeonato, sempre terminando à frente do que iniciava as provas, mas a conta chegou. Problemas em Mônaco e Berlim 1 mostraram que não haveria como disputar o campeonato largando sempre tão atrás, e o que parecia ser uma solução em Berlim 2 não passou de um devaneio.

A única vitória veio em Diriyah, segunda de 16 corridas do campeonato (Foto: Fórmula E)

Depois de largar em 20º no sábado da Alemanha, Dennis surpreendeu no dia seguinte. Contra todos os prognósticos, arrancou a pole da corrida 2 no Tempelhof, mas não fez uma grande corrida e terminou em quinto — ainda assim, somando bons pontos. A explicação, entretanto, mostra como o cenário se inverteu de um ano para o outro.

A Porsche, cheia de problemas de classificação em 2023, mostrou à Andretti o acerto utilizado no carro de Wehrlein, sexto do grid no dia anterior. Dennis, mostrando mais uma vez que esteve apto a extrair o que o carro poderia oferecer, elevou isso à máxima potência e disparou ao primeiro lugar. A partir daí, porém, a colaboração não voltou a acontecer e Jake teve um nono posto em Portland 1 como melhor ponto de partida.

No fim das contas, a Andretti não encontrou soluções para os próprios problemas e precisou sempre contar com um desempenho muito acima de média de Dennis para brigar por vitórias. Ele até veio, como na mítica apresentação do inglês em Diriyah 1 — única vitória do campeonato —, nas recuperações milagrosas de Misano e no desempenho consistente em Xangai 1. A questão é que ninguém vai ser perfeito o ano inteiro, e o time americano precisava disso por não entender as soluções das próprias questões.

Norman Nato passou longe do desempenho de Dennis e não conseguiu ajudar muito no Mundial de Equipes (Foto: Fórmula E)

Sétimo colocado um ano depois de ser campeão, Dennis não fez um campeonato ruim. Em que pese a trágica rodada dupla de Londres, onde parecia ensandecido e saiu com mais de 20s de punição, o inglês tirou o máximo que pôde do equipamento na maioria das rodadas e mostrou na primeira metade do campeonato que tem condições reais de sonhar com o bi.

O que Jake não contava, porém, é que a Andretti se tornaria uma coadjuvante nesta edição e não lhe daria as armas para sonhar com algo maior. O Gen3Evo surge como oportunidade de fazer diferente, e a equipe inglesa tem sorte de contar com um piloto tão talentoso e adaptado às necessidades da Fórmula E. Precisa urgentemente equipá-lo com as ferramentas necessárias para vencer.

Fórmula E agora entra de férias e retorna com atividades de pista somente entre os dias 4 e 7 de novembro, com os testes coletivos de pré-temporada na pista de Valência, na Espanha. A temporada 2024/25 começa aqui no Brasil, com o eP de São Paulo, marcado para o fim de semana do dia 7 de dezembro.

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