Rafael Câmara ainda é um adolescente. Aos 17 anos, porém, brilha como um experiente para alguém que acaba de estrear nos carros e fora do Brasil

FÓRMULA 1 2022: PÉREZ TRIUNFA EM BOBEIRA DA FERRARI EM MÔNACO | Paddock GP #289

É cruel destacar todos os novos pilotos brasileiros como o futuro ou a esperança brasileira na Fórmula 1, mas a verdade que todos os talentos consideráveis do automobilismo nacional serão vistos desta maneira pelo grande público – ao menos enquanto o Brasil não tiver representante no grid ou, talvez vencendo corrida. Talvez mesmo assim. Mas é importante destacar que todos os jovens pilotos têm espaço para construir suas próprias histórias e não simplesmente sair com qualquer dever de andar por uma trilha aberta e indicada por outras pessoas. É preciso respeitar cada história como algo novo, não uma saga forçada. Rafael Câmara tem seu nome tratado como esperança por ser o mais novo nome brasileiro no cenário europeu, mas também por ter chegado nas competições de monopostos do Velho Continente como um furacão.

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Até o ano passado, Câmara era piloto de kart: e dos ótimos. Em 2021, foi campeão da Champions of the Future, da WSK Champions Cup e da WSK Super Master Cup e chegou com cacife de candidato ao título mundial de kart. Acabou abandonando ainda cedo por conta de um furo de pneus após liderar algumas das primeiras voltas. Logo depois, ainda em novembro do ano passado, foi aprovado no processo seletivo e se transformou em piloto da Academia de Pilotos da Ferrari a partir de 2022. Hora de deixar o Brasil para trás de vez e, com ele, o dia a dia do kart.

A chegada aos monopostos tem alguns meses apenas, mas é meteórica. No começo do ano, foi colocado no grid da F4 dos Emirados Árabes, que corre em cinco rodadas quádruplas para abrir as temporadas de Fórmula 4 e fazer com que os pilotos das categorias nacionais abram o ano novo. Mesmo após testar positivo para Covid-19 e ficar fora de quatro corridas da curta temporada, ainda conseguiu ser vice-campeão – ficou atrás apenas de Charlie Wurz, companheiro de Prema e, sim, filho do ex-piloto de F1 Alexander Wurz.

Agora, com a poderosa Prema, disputa as duas edições nacionais mais fortes da Fórmula 4 na Europa: na Itália e na Alemanha. Nas duas, tem ao lado na equipe o jovem Wurz e o prodígio de ouro do automobilismo italiano Andrea Kimi Antonelli. Entre as duas, também estão os brasileiros Emmo Fittipaldi e Pedro Clerot. O objetivo de Câmara é, como não poderia deixar de ser, o sucesso nas pistas. Mas o 2022 do piloto de 17 anos é muito maior que apenas isso. E Câmara falou um pouco mais dos desafios da nova fase da vida em entrevista concedida ao GRANDE PREMIUM.

Rafael Câmara em ação pela Prema em Ímola (Foto: Prema)

“Sem dúvida tem sido um ano intenso, de grandes mudanças dentro e fora da pista. Logo no começo, fui pego de surpresa com um teste positivo de Covid que me fez perder a primeira das etapas da F4 UAE. Mesmo com 16 corridas das 20 realizadas, conseguimos o vice-campeonato, então logo depois posso falar que as coisas entraram nos trilhos e que consegui me desenvolver bem e aprender o que precisava. Daí voltei para a Europa e a programação tem sido intensa desde então”, afirma.

“São muitas atividades com a Ferrari Driver Academy para que a gente tenha mais conhecimento e ganhe mais experiência como pilotos jovens, reuniões com o time de engenharia da Prema, sessões de simulador e testes coletivos de F4, além das corridas. Em apenas quatro meses e meio, já corri 25 provas e fiz outros tantos km em testes, então a dinâmica é bem intensa. Fora das pistas, no aspecto da vida do dia a dia, também tem muita novidade acontecendo, agora morando sozinho em Maranello”, aponta.

Morar sozinho em outro país para tantas corridas e testes ao longo do ano e o cuidado de aprender e se provar carrega muito do tempo do jovem piloto. Mas ele indica que tudo isso vale a pena para si próprio e para família, que tanto se aplicou para que tivesse a chance de alavancar a própria história.

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“É uma grande oportunidade, o sonho de qualquer piloto, eu imagino. Estou fazendo o que mais eu amo, que é guiar. É meu primeiro ano em monopostos, é quase um novo esporte, praticamente começar do zero e aprender tudo de novo. O kart é, sim, uma grande escola, fundamental, mas no carro é um novo início, com um grande caminho para evoluir. Sei o tamanho do desafio e reconheço que tenho o privilégio de integrar a Academia da Ferrari e pilotar para a Prema”, afirma.

“Cheguei até aqui por méritos próprios e com o suporte profissional de quem sempre acreditou na minha carreira, então tenho também a preocupação em corresponder por tudo que fizeram e continuam fazendo por mim. No kart no Brasil, houve uma época que minha família se mudou do Recife para São Paulo. No ano passado foram para a Itália comigo, então logicamente tenho que destacar também o suporte que meus pais sempre deram, e isso fez a diferença para me ajudar a subir os degraus iniciais”, destaca.

“Isso tudo, sem dúvida, me deixa extremamente motivado a chegar em uma pista nova e tentar extrair o máximo, para cumprir todos os objetivos que estão desenhados para cada atividade na pista. É um ano de aprendizado. Esse tem sido meu foco desde a primeira vez que sentei em um carro de F4”, explica.

O pódio da primeira vitória da temporada na Itália (Foto: Prema)

Até agora, Câmara disputou uma etapa da F4 Italiana e duas da Alemã. Como são sempre rodadas triplas, fez nove corridas desde o princípio das temporadas. E é importante destacar as pistas onde aconteceram essas provas: as tradicionais Spa-Francorchamps, na Bélgica; Hockenheim, na Alemanha; e Ímola, na Itália.

“Iniciar o campeonato em uma pista como Spa, praticamente favorita de todos os pilotos, e já conseguir vencer é uma realização. Claro que é gratificante competir em pistas de F1 como Yas Marina [pela F4 dos Emirados Árabes], Spa, Hockenheim e Ímola, onde já andei neste ano. Mas a nossa abordagem é sempre técnica e profissional e logo o foco vai para a performance”.

O começo de campeonato é apenas isso, um princípio. Na F4 Alemã, foi Antonelli quem brilhou mais e venceu cinco de seis corridas, mas Câmara ganhou a outra e fez quatro segundos lugares. Os dois já se afastam do pelotão, inclusive de Wurz, e indicam um duelo particular. Na Italiana, Rafa venceu uma de três corridas e foi ao pódio outra vez na abertura, em Ímola. Tanto Antonelli quanto Wurz não conseguiram o mesmo: Alex Dunne, da Irlanda, é o único que aparece ligeiramente na frente dele.

Questionado pela reportagem do GP* sobre se já conversou com a Academia da Ferrari e com a Prema sobre as possibilidades para 2023, negou. Por ora, objetivo é tirar o máximo possível de coelhos da cartola. O resto virá com naturalidade.

“A temporada 2022 está no início. Nosso foco no momento é correr bem as provas de F4 deste ano. Um dos privilégios de integrar o programa da FDA [Ferrari Driver Academy ou, em bom português, a Academia de Pilotos da Ferrari] é ter a melhor estrutura possível fora da pista e assim me concentrar apenas em ser um piloto melhor e aprender. É nisso que eu penso, quero apenas chegar na próxima corrida e melhorar”.

Rafael Câmara é piloto afiliado à Ferrari por meio da Academia de Pilotos ferrarista (Foto: Prema)

“A melhor decisão para mim e para o meu futuro será tomada pela FDA e pelo meu manager Dudu Massa no tempo certo. Estou cercado de gente muito profissional e que tem minha confiança então sei que naturalmente as coisas vão acontecer se eu estiver fazendo meu papel na pista”, garante.

Aliás, o fator Academia de Pilotos da Ferrari é bastante relevante. Apesar de ser ‘apenas’ um piloto júnior, Rafa Câmara carrega o símbolo da Ferrari e a responsabilidade de defender a marca mais tradicional do automobilismo. Como é isso?

“Uma honra e ao mesmo tempo uma enorme responsabilidade. É um sonho e uma conquista, pois participei de um processo seletivo indicado pela Escuderia Telmex e acabei escolhido pela FDA. É um reconhecimento do ano de 2021 que tive com muitas vitórias no kart e, também, do desempenho que tive no camp“, conta.

“Participar desse programa é um sonho realizado, ter a oportunidade de aprender com os melhores. Mas eu quero mais, como todo atleta competitivo sempre quer, e espero cumprir os objetivos para ganhar ainda mais a confiança deles”, pontua.

Mas além de falar do futuro e projetar os próximos passos bem como imaginar quais os resultados deste ano, Câmara vive uma outra adaptação. Não apenas aos monopostos, mas ao dia a dia da vida de um piloto de carros em comparação ao cotidiano de joia do kartismo.

Rafael Câmara venceu a primeira corrida da temporada da F4 Italiana, em Ímola (Foto: Prema)

“São realidades bem diferentes”, confirma. “No kart, se o piloto está mais rápido, consegue chegar e passar; no carro, tem outras circunstâncias de corrida em jogo também. Por exemplo: você chega em outro carro e perde downforce. E tem toda a questão do acerto, do desenvolvimento e tudo”, explica.

“A Prema é uma equipe extremamente profissional, com um cronograma rígido de reuniões com os engenheiros, análise de dados, planejamento da estratégia da prova, estudo das regras desportivas e todo o resto. No kart, mesmo na equipe Kart Republic, que é uma das melhores no mundo, o horário é mais livre”, analisa.

“O carro tem muito mais componentes que o kart, as equipes têm mais profissionais envolvidos e daí por diante. É uma realidade muito mais complexa na F4 e vai ficando cada vez mais conforme o piloto se desenvolve na carreira. Então tenho muito a aprender, desde o funcionamento de tudo no carro até a melhor forma de reportar isso para a equipe e, assim, extrair, em conjunto com os mecânicos e engenheiros, todo potencial do equipamento”, diz.

Por fim, para aqueles que ainda não viram Câmara em ação nas pistas pelo mundo, o GRANDE PREMIUM pediu que ele desse uma pequena descrição de quem é como piloto. O jovem não fugiu da raia.

É somente o primeiro ano de Câmara do automobilismo dos monopostos (Foto: Prema)

“É muito difícil falar de mim mesmo… Sou um piloto trabalhador e apaixonado pelo que faz, mas que ao mesmo tempo controla bem suas emoções para permanecer sempre focado em melhorar. Sou um piloto calmo, tranquilo, que tenta manter o sangue frio sempre nas corridas para fazer as melhores escolhas”, finaliza.

A temporada de Rafael ganha um mês de junho bastante cheio com três fins de semana de corrida. Agora, entre 3 e 5, corre em Misano, pela F4 Italiana. Depois, pela mesma categoria, retorna a Spa, na Bélgica, para os dias 17 a 19. Ainda finaliza em Zandvoort, na Holanda, para a F4 Alemã nos dias 24-26. Logo nos primeiros dias de julho, entre 1-3, tem mais etapa da competição italiana, em Vallelunga. Antes do fim do ano, ainda terá a chance de conhecer – e competir – em Nürburgring, Monza, Red Bull Ring e no Lausitzring.

É só o começo de uma trajetória repleta de um piloto que apenas entrou no jogo. E que quer muito mais.

PÉREZ AUMENTA HISTÓRIA DE CINDERELA COM VITÓRIA EM MÔNACO NA FÓRMULA 1 2022

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