Somando todos os nomes que já teve, a Sauber já alinhou mais de 500 vezes no grid da Fórmula 1, e é por isso que o representante da agora Stake, Alessandro Alunni Bravi, espera que o período de transição até a chegada da Audi seja ao menos digno dessa história

A Sauber já foi na Fórmula 1 BMW, Alfa Romeo, agora se prepara para a ‘era Stake‘ até a chegada da Audi a partir da temporada 2026, fase essa que ninguém garante ser definitiva. Mas mesmo com tantas transições de nome e comando ao longo dos últimos anos, a base suíça é uma das mais tradicionais do grid atual da categoria — em GPs realizados, a estrutura fundada por Peter Sauber já alinhou 566 vezes desde 1993, somando todas as nomenclaturas que já possuiu. É um número inferior apenas ao de Lotus, Williams, McLaren e Ferrari no ranking histórico.

Pois é justamente essa tradição — ou melhor, essa “herança”, palavra escolhida pelo agora representante da Stake, Alessandro Alunni Bravi — que move a base de Hinwil a realizar uma transição não apenas pacífica, como digna para quem resistiu através de tantas mudanças até a chegada de mais um novo regulamento na F1. Até 2026, porém, há muito o que fazer, mas o italiano é bastante consciente do que, de fato, a equipe poderá alcançar.

Alunni Bravi conversou com o GRANDE PRÊMIO durante a passagem da Fórmula 1 por Interlagos, em novembro último. Àquela altura, o italiano ainda era figura difícil de ser imediatamente associada ao comando do time, como Toto Wolff e Mercedes, ou mesmo Guenther Steiner e Haas. De fato, o cargo ocupado após a saída de Frédéric Vasseur é oficialmente o de representante, e não chefe, mas as cobranças o fazem responder como tal.

2023, aliás, foi uma temporada que surpreendeu negativamente a todos após o razoável 2022, em que a equipe acabou empatada com a Aston Martin com 55 pontos. Aqui, no entanto, houve razões diretamente opostas para o resultado final, pois enquanto a equipe de Silverstone começou a trabalhar em uma linha de desenvolvimento que a levava constantemente aos pontos na segunda metade da temporada, a Alfa Romeo fez 52 dos 55 tentos nas nove primeiras corridas do ano.

Alessandro Bravi e Andreas Seidl: os comandantes da Alfa Romeo (Foto: Alfa Romeo)

A queda considerável de performance acabou se refletindo ao longo de 2023, com a Alfa Romeo brigando com a Haas para escapar da lanterna do campeonato de Construtores. Alunni Bravi, portanto, sabe que não haverá tantas mudanças assim para 2024, ainda que veja a equipe com fatores em comum com Alpine e a Aston Martin. A expectativa, porém, é de que o carro “completamente novo” ajude o time a “dar um passo” na briga pelo topo do meio do pelotão.

Confira na íntegra o bate-papo de Alunni Bravi com o GP na ocasião do GP de São Paulo:

GRANDE PRÊMIO: Como avalia a temporada 2023 da Alfa Romeo?

Alessandro Alunni Bravi: Acho que é correto dizer que estamos abaixo das nossas expectativas. Nessa temporada, vimos muitos altos e baixos em termos de formatos ligados a condições de pistas, como temperatura do asfalto, traçados diferentes que trazem comportamentos diferentes do carro. Tivemos um pacote inconsistente nos circuitos, e precisamos identificar o problema e a solução técnica para nos adaptar em diferentes traçados e condições. Em termos de desenvolvimento, fizemos um progresso comparado ao ano passado, pois conseguimos desenvolver o carro na temporada, trazer quatro ou cinco grandes atualizações para manter a distância de competitividade. Não cometemos erros, nossos adversários que deram passos maiores. A concorrência é muito grande. Você pode cair no Q1 ou avançar no Q3. Para igualar Aston Martin, Alpine, Williams, precisamos começar de um nível mais alto do começo da temporada. Fizemos bons desenvolvimentos, mas há uma distância do começo da temporada que ainda segue.

GP: O que a equipe espera para 2024?

AAB: Esperamos dar um passo. Estamos trabalhando nisso. Do jeito que estamos trabalhando, confiantes, pela chegada do James Key como diretor-técnico, todos que recrutamos para o departamento técnico, vamos conseguir dar esse passo. É claro que sabemos dos nossos competidores, não precisamos subestimar a F1. Vamos competir contra fatores comuns como Alpine e Aston Martin. O que mudamos é uma abordagem mais agressiva no carro desde o começo do ano. Oportunidades de marcar pontos são cruciais na primeira parte do ano, e precisamos ser agressivos, porque o próximo carro será base para 2025. Aprendemos muito nesta temporada, entendemos que a proteção de desenvolver esse pacote está quase no limite. Vamos para um conceito diferente, estamos trabalhando desde o chassi até a suspensão. Nós teremos um carro novo completo.

GP: Como a equipe está se preparando para a chegada da Audi?

AAB: Primeiramente, queremos prestar uma homenagem para a Alfa Romeo. Foram seis anos de uma parceria fantástica, que foi desenvolvida dentro e fora das pistas. No grupo Sauber, agimos como um polo para projetos como GTE e GTE-Am. Graças à Alfa Romeo, apresentamos um projeto de negócios para a Fórmula 1 em ter um fator comum não envolvido. A Alfa Romeo foi instrumental em 2018 para o crescimento do time, dar confiança para as pessoas, parceiros, um projeto longo. Então, temos a confiança de um fator comum como a Alfa Romeo. Primeiramente, isso é importante dizer, quero agradecer à Alfa Romeo e terminar em alta.

É claro que estamos em um projeto de transição. Toda a nossa infraestrutura está sendo fortemente desenvolvida para virar Audi. É um processo que envolve departamentos mais velhos, não só os técnicos, e é animador. Nos próximos dois anos voltaremos às nossas raízes, como Sauber. Somos um dos quatro times no clube das 500 corridas. Acho que temos uma herança e um bom ponto para começar na próxima temporada. Voltamos para o futuro. Estamos avaliando um novo parceiro para substituir, o que já foi anunciado em 2022. O nosso plano de estratégia é confirmar e ter uma base.

A Audi é uma acionista e é extremamente importante. Há uma dinâmica na companhia, de processos de decisões, as mais importantes. A Audi está trabalhando forte no motor para 2026. É um grupo de quase 50 pessoas para o departamento de motor, estão completando a nova fábrica com toda a tecnologia para competir na Fórmula 1. A Audi, como acionista, é nossa maior parceira. Existe discussão com eles sobre todas as decisões da companhia. Apontamos Seidl como nosso CEO para transformar o time para 2026, então há um diálogo constante do Andreas com a Audi.

Nunca tivemos problemas financeiros. Temos um dono forte, que sempre garantiu os recursos, não apenas para competir, mas também para desenvolver. Fizemos muitos investimentos quando ele entrou na companhia em 2017 em todos os setores, desde o túnel de vento até outros departamentos, de design. Este plano começou em 2017. Continuamos, tivemos tudo para competir. Só precisamos tomar as decisões certas e nos manter.

GP: Gostaria de ouvir suas impressões sobre a saída de Vasseur e chegada de Seidl.

AAB: Primeiramente, de um ponto de vista pessoal, no início de tudo foi difícil porque Fred é Fred. Era um mentor, trabalho com ele desde 2010. Antes disso, trabalhei com Nicolas Todt, que também era um dos parceiros da ART Grand Prix, aí trabalhei com Vasseur para a Spark Technology e depois encontrei ele na Sauber. No início, quando você vê a pessoa todo dia, trabalha com ela por quase seis anos, é uma transição, de se colocar em uma situação nova. Acho que temos um líder forte no Seidl, que trouxe, assim como o Fred, muita experiência, passado forte. A relação com o Andreas é ótima, é uma pessoa incrível. A transição foi fácil para mim, pela qualidade de Andreas. Fred é um amigo, é o chefe da Ferrari, que é nosso principal parceiro técnico. Para mim, é um novo papel. Ainda sou diretor da companhia, então faço as minhas funções normais dos últimos anos. Esse papel me dá mais visibilidade, mas sou uma das 600 pessoas. Preciso dar minha contribuição como qualquer um. Não há ninguém mais importante que outro no time. O objetivo é ganhar mais respeito trabalhando com as pessoas, dou meu melhor para representar o time, com a FIA, mídia os parceiros.

Segundo Bravi, relação entre ele e Vasseur é diferente agora (Foto: AFP)

GP: Qual avaliação faz da temporada de Valtteri Bottas e Guanyu Zhou?

AAB: É um ano com muitos altos e baixos. Acho que a F1 é um esporte tecnológico e, assim, o desempenho do piloto reflete no carro. É muito difícil neste esporte fazer a diferença como piloto, especialmente quando não se está em uma equipe de ponta. Penso que quando conseguimos fornecer a eles um carro de alto desempenho, eles mostram sua força tanto na classificação como na corrida. Quanto ao carro, nossa consistência tem sido um ponto fraco e eximo nossos pilotos de culpa, eles trabalham muito forte para melhorá-lo. Trabalhamos juntos para mudar os rumos da equipe, então, se não pudermos melhorar em todas as áreas, nosso trabalho não será bem feito. Estamos conscientes que 2024 será crucial para todos na equipe e eu reitero a confiança de poder lutar pelo máximo de pontos possíveis em cada corrida. Espero, claro, que Guanyu [Zhou] dê mais um passo como foi em 2022 e em 2023 em termos de desempenho.

GP: Gostaria que falasse sobre Théo Pourchaire e quais são os planos para o futuro?

AAB: Théo será um de nossos reservas em 2024. Estamos discutindo com seu staff qual poderá ser o melhor programa de corrida para que ele possa manter a forma de maneira adequada, afinal, é importante para um piloto que ele corra*. Sim, Pourchaire estará mais envolvido com a equipe nas sessões de simulador e queremos ele pronto para entrar no carro quando for necessário.

Existe uma possibilidade para ele [para 2025], afinal, nossos pilotos atuais terminam seus contratos em 2024. Porém, só haverá uma discussão com eles sobre o futuro a partir do meio da temporada, mas não iremos excluir nenhuma possibilidade, seja com Théo ou qualquer outro piloto que esteja disponível em 2025. Faremos essa avaliação apenas e tão somente após a primeira parte da temporada.

GP: O teto de gastos já melhorou algo na Fórmula 1?

AAB: O teto de gastos é crucial e vemos que a F1 se torna cada vez mais popular, crescendo exponencialmente sobretudo como um modelo de negócios sustentável para todas as partes interessadas. Em nossa equipe, temos três pilares que são muito importantes. O primeiro veio com a assinatura do novo Pacto da Concórdia. O segundo, para mim, são todas as atividades realizadas para a promoção da F1 pelo Liberty Media. Estamos na direção certa em termos de estratégia de sustentabilidade. E por último, a regulamentação financeira que nos permite operar dentro dos recursos provenientes que temos, sobretudo na construção dos carros. A médio e longo prazo, estes elementos vão permitir que mais times sejam competitivos e se aproximem do topo. Evidentemente, não podemos esperar que o teto de gastos coloque as dez equipes brigando por vitórias ou títulos, mas que haja uma convergência maior em termos de desempenho, esta é uma meta alcançável e tudo caminha nesta direção.

GP: Qual a sua posição sobre a entrada da Andretti na F1?

AAB: Minha posição é bem clara: qualquer equipe que queira entrar na Fórmula 1 deve agregar valor a toda comunidade, não só a curto, mas a médio e longo prazo. Contamos com a FIA para avaliar se estes critérios estarão presentes em quaisquer candidatos. A Andretti passou pela primeira etapa com a FIA, mas agora é uma fase muito importante com o comercial. Para mim, não é fácil entrar na F1, mas precisamos de equipes sólidas, com um plano para manter este nível de competição, de investimento necessário. A Audi é o melhor exemplo disso, é uma das principais marcas de automóveis do mundo e decidem entrar com um projeto forte, desenvolvendo seu próprio motor, adquirindo uma equipe já existente. Caso contrário, não precisamos de um time novo que preencha o grid com mais dois carros.

*Pourchaire vai correr na Super Fórmula em 2024.

(Entrevista por Gabriel Curty)

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