“Bateu Al Unser”: há 25 anos, Fittipaldi vencia 500 Milhas de Indianápolis e mudava relação entre Brasil e Indy

Vitória de Emerson Fittipaldi após disputa marcante com Al Unser Jr, pódio de Raul Boesel e narração icônica de Luciano do Valle foram alguns dos fatores que transformaram a 73ª edição da Indy 500 em divisor de águas para a aceitação da categoria no Brasil

Nesta quarta, 28 de maio, a primeira vitória de um piloto brasileiro nas 500 Milhas de Indianápolis completa um quarto de século. Naquele dia, 25 anos atrás, Emerson Fittipaldi dominou a 73ª edição da maior corrida dos Estados Unidos em sua maior parte. Quando não teve carro para ser melhor, contou com a sorte — como quando Michael Andretti assumiu a liderança e logo perdeu o motor, estourado —, ou foi bravo — como no fim, ao dividir a curva três com Al Unser Jr..
 
É difícil pensar na Indy no Brasil e não lembrar da narração de Luciano do Valle para a TV Bandeirantes: "Bateu Al Unser! Bateu Al Unser! Emerson vai ganhar! Emerson vai ganhar! O Brasil ganhou! Sabe por quê? Vai dar bandeira amarela, e o Emerson está na frente. Ganhou o Brasil! Ganhou o Brasil! Espetacular! Uma vitória que vai ficar para a história de todos nós!" 
 
Muitos são os que indicam essa corrida, 25 anos atrás, como o marco zero para a Indy ter dado certo no país. Assim como a narração icônica de do Valle, responsável por realizar aquela transmissão. Com Emerson vencendo e Raul Boesel subindo ao pódio, ficou difícil virar o rosto para a categoria americana.
 
A atuação praticamente impecável de Fittipaldi aquele dia garantiu a ele um lugar no troféu da Indy 500, bem como na história do automobilismo. Claro que a vitória sozinha já seria motivo de colocar para sempre seu nome num pedestal junto aos outros vencedores da prova, mas não foi 'apenas' isso. Ali, naquele dia de maio de 1989, Fittipaldi se tornou apenas o quarto campeão da F1 a vencer as 500 Milhas. Jim Clark, Graham Hill e Mario Andretti fizeram, antes dele. Sua emoção ao vencer levou-o às lágrimas. Aos 42 anos e com uma carreira repleta de láureas, chorava ao dizer que "era um sonho desde criancinha".
Emerson Fittipaldi celebra a primeira vitória nas 500 Milhas de Indianápolis (Foto: IMS)
Para receber a quadriculada no Speedway, Emerson teve de vencer um chassi que não estava em dia bom, aparentemente. O recém-estreado PC-18, fornecido pela Penske, teve problemas na prova. Com pouco mais de 100 voltas, nenhum dos três carros da equipe que era a atual vencedora da prova seguiam. A aparente preocupação latente que o problema se repetisse na Patrick foi logo limpo. Nada aconteceu. Fittipaldi disputara a Indy 500 antes, quatro vezes. Já havia liderado, tido chances de triunfar. No ano anterior, batera na trave. Em maio de 1989, não. Ele seguiria para vencer o campeonato aquele ano, com vitórias em Detroit, Portland, Cleveland e Nazareth. Venceria a grande corrida mais uma vez, em 1993. 
 
No Victory Lane, um Chip Ganassi que já era co-dono da Patrick, com tudo acertado para transformar a equipe em sua própria, na temporada seguinte. Foi a primeira vez de Ganassi como um dono de equipe vencedor de prova. Já ‘Pat’ Patrick, que tinha tudo certo com Ganassi, desistiu da aposentadoria. Procurou um novo box onde pudesse implementar a Patrick Racing. Achou. E, apesar da pouca expressão, o time teve vida até o final de 2004.
Na volta 198 da Indy 500, Al Unser Jr tenta fugir do tráfego, toca pneu com pneu com Emerson Fittipaldi e acaba no muro (Foto: IMS)
Confira como foram as 500 Milhas de Indianápolis de 1989:
 
A partir do momento que a bandeira verde foi sinalizada, Emerson não parecia interessado em dividir fila alguma. Largando em terceiro, ao lado de Rick Mears e Al Unser Sr, passou, abriu e com duas voltas já colocava uma distância impressionante para Mears, Unser e Mario Andretti. Só a primeira bandeira amarela, que logo veio, podia diminuir o domínio do brasileiro naquele momento. Kevin Cogan ficou com o carro dividido em dois após uma pancada na entrada dos boxes.
 
Relargada, e Fittipaldi abria de quase todo o grid outra vez. Quase, porque dessa vez Andretti seguia em terceiro, passou por Mears e veio na tocada da Patrick do brasileiro. Mas apenas enquanto não chegavam os retardatários, o que não tardou a acontecer. E pelo 30º giro, enquanto Unser Jr, Mears e Michael Andretti disputavam a quinta posição, o líder era mais líder.
 
O primeiro susto veio em seguida, no pit-stop, quando o motor Chevrolet do carro #20 ameaçou parar, mas rapidamente foi recuperado. John Andretti ficou atravessado por um breve momento na entrada do pit, mas o problema mesmo foi de Danny Sullivan, que quebrara o pulso na sexta-feira e tentava correr do mesmo jeito. O final de semana desastroso da Penske começava ali. Era o primeiro de três abandonos por problemas mecânicos. Unser Sr. e Mears seguiriam.
 
Enquanto os carros de Roger Penske e o guiado por Mario Andretti tinham problema, o Patrick de Fittipaldi seguia incólume. Quando parou pela terceira vez nos boxes, 112ª volta, era o piloto mais rápido da pista por uma margem imensa, com o carro funcionando sem problemas e a equipe trabalhando em sinestesia com o que seu piloto fazia na pista. Tanto que uma complicação em um dos pneus fez o time chamá-lo de volta apenas 18 giros mais tarde para uma parada mais longa, onde trocou todos os quatro pneus. Precisaria voltar ao pit instantes depois, assim que uma bandeira amarela causada pela quebra de Jim Crawford permitiu, tendo em vista acertar a sequência para que chegasse ao final da forma planejada.
O carro #20 de Emerson Fittipaldi singrando a reta do Speedway (Foto: IMS)
Pela volta 140, apenas Michael e 'Little' Al estavam na volta do líder. Mesmo o quarto colocado Raul Boesel vinha distantes cinco voltas atrás.
 
A parte mais difícil da corrida para Fittipaldi começou a 47 voltas do fim, quando Andretti, que vinha mais rápido havia algum tempo, passou e abriu certa distância. Nesse momento, a preocupação passou a ser com o PC-18. Emerson usava o novo chassi desenvolvido pela Penske que já tinha tido sua cota de complicações na corrida. Sullivan, Mears e Unser saíram da prova com problemas na caixa de câmbio.
 
De certa forma, a sorte sorriu para o brasileiro logo na sequência: Andretti teve problemas com seu motor Chevrolet, sendo obrigado a encerrar sua participação. Agora, apenas Fittipaldi e Unser Jr. dividiam a mesma volta. Raul Boesel estava sozinho na volta da terceira posição, bem seguro para conquistar o seu lugar.
 
Entrava em jogo, então, uma questão estratégica: a Galles colocou o suficiente de combustível para que 'Little' Al terminasse a prova; enquanto o plano da Patrick era fazer mais uma curta parada para colocar simplesmente o necessário que fizesse o carro #20 cruzar a quadriculada. Foi a mesma tática utilizada pela equipe sete anos antes para fazer com que Gordon Johncock vencesse a disputa com Rick Mears, ficando com a Indy 500 em 1982.
 
A oportunidade foi a roda solta da Gohr de Tero Palmroth, e a bandeira amarela. Só que colocaram mais combustível do que o necessário. E durante a sexta bandeira amarela do dia. E voltando misturado ao meio do pelotão.
 
Na relargada, Emerson abriu mais uma vez. De repente, os líderes alcançavam a volta 190, e Unser Jr. era, talvez pela primeira vez no dia, mais veloz que o brasileiro. Faltando cinco giros para o fim, aconteceu o que parecia inevitável: Unser Jr. passou. Só que seu combustível chegava ao final, e o mais prudente a fazer era administrar.

Teresa Fittipaldi e Shelly Unser, as esposas dos líderes, eram a todo instante focalizadas pela televisão americana. O desespero de ambas foi significativo no lance que definiu o destino da corrida. Era a volta 198 quando 'Little' Al encontrou trânsito e Fittipaldi conseguiu chegar. Emerson colocou o carro por dentro, Unser tentou também ir para dentro, fugindo do tráfego. Os dois tocaram pneus, e quem levou a pior foi o até então líder do campeonato de 1989. Pancada no muro, pneu que voava, e Fittipaldi era o único vencedor possível. A bandeira amarela confirmou: pela primeira vez, Emerson, duas vezes campeão mundial de F1, vencia a Indy 500.

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