Coluna Indy Rocks, por Hugo Becker: Indianápolis e o fim do bom senso

Ainda que seja plausível a ideia de uma corrida no circuito misto de Indianápolis, mais sensato seria realizar esta prova como a última mista da temporada. Longe das 500 Milhas, sendo apenas ela própria a estrela maior do campeonato, sem uma coadjuvante de pouco garbo e nenhuma tradição, uma ofensiva emulação de si mesma

 
Na última semana, a Indy confirmou a realização de uma ideia que nasceu duvidosa e se converteu em uma realidade ainda mais confusa: a criação de uma corrida 'extra' no circuito de Indianápolis, utilizando o traçado misto construído para a F1 na década de 1990. A prova será parte dos eventos da 98ª edição das 500 Milhas de Indianápolis, em 2014.
 
A notícia caiu feito uma bomba para os fãs da categoria. Poucos aprovaram, muitos questionaram. O projeto se torna ainda mais polêmico por conta de sua data: 10 de maio, um sábado. No dia 11, domingo, começa a semana de treinos livres que culmina no Pole Day, dia 17, e no Carb Day, 18. No dia 25, enfim, a lendária Indy 500. Em um intervalo de duas semanas, o inusitado: duas corridas no mesmo Indianapolis Motor Speedway, mas em configurações completamente diferentes: a primeira, uma novidade. A segunda, uma das únicas preciosidades verdadeiras que a série norte-americana ainda detém.
 
Mais detalhes surgiram no início desta semana. A 'corrida 1' terá 80 voltas, largada parada, correrá no sentido horário – oposto ao do oval, portanto – e o troféu deve se chamar 'The Hulman Cup', um brinde de Mike Miles ao próprio ego: o norte-americano é presidente da Hulman & Co., empresa que é dona dos direitos da Indy e promove a categoria. A ideia da prova, é claro, também é dele. Quase nada egocêntrico, só que ao contrário.
 

Não há, necessariamente, um problema na realização de uma prova nestes moldes em Indianápolis. A grande falta de senso, nitidamente, é a data em que ela se dará. Uma prova que nasce vazia e carente de qualquer sentido e que, por consequência, acaba também ajudando de forma direta a banalizar a cereja do bolo do campeonato, que acontecerá apenas duas semanas depois. Algo que ao invés de somar, acabará provocando uma overdose de Indianápolis em equipes, pilotos e fãs, justamente naquela que é tida como a prova cuja vitória vale, muitas vezes, mais do que o título da categoria. Uma exposição desnecessária, absolutamente desnecessária. Como se a F1 abrisse o mês de maio com uma corrida em Mônaco no sentido anti-horário e com largada lançada, e fechasse o mesmo mês com outra prova no mesmo lugar, nos moldes habituais. É nítido que não tem o menor cabimento.

 
O admirador mais radical da Indy há de se aborrecer com o paralelo com a competição europeia, isso já se sabe. Mas é um paralelo necessário. A concorrente norte-americana anda em círculos (sem trocadilho) desde a metade da década de 90, sem conseguir achar um rumo que a engrandeça. Pelo contrário: decisões como rodadas duplas, as extenuantes 'heat races' em Iowa e o calendário desconexo, muitas vezes com três provas em uma semana e, em seguida, mais de um mês sem nenhuma corrida, mais afastam do que aproximam os fãs. Mais vulgarizam do que enobrecem a série.
 
E ainda que, vá lá, seja plausível a ideia de uma corrida no circuito misto de Indianápolis – cujo autódromo é o símbolo máximo da tradição do automobilismo norte-americano, espécie de sinônimo da Indy, a ponto de claramente ter feito  F1 e MotoGP parecerem incômodas invasoras de um território alheio quando lá se apresentaram –, mais sensato seria realizar esta prova, talvez, como a última mista da temporada, como será, agora, o caso de Houston.  Longe das 500 Milhas, que continuariam como centro do calendário, como ponto máximo do ano, sendo apenas ela própria a estrela maior do campeonato, sem uma coadjuvante de pouco garbo e nenhuma tradição, uma ofensiva emulação de si mesma.
 
Com tradição não se brinca. Pelo visto, esta Indy fanfarrônica e circense, com decisões sem pé nem cabeça, terá que aprender isso da pior forma possível. 

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