Conta-giro: aos 40, Castroneves e Kanaan vivem temporada dura por competição e morte. E nem pensam em parar

Helio Castroneves e Tony Kanaan conversaram com o GRANDE PRÊMIO acerca dos principais acontecimentos da temporada 2015 da Indy. Os veteranos pilotos de 40 anos reconheceram os riscos que a categoria apresenta, mas tornaram a dizer que querem seguir correndo

Tony Kanaan e Helio Castroneves são dois grandes nomes do atual grid da Indy e até da história da categoria. Aos 40 anos, nenhum dos dois precisa provar mais nada a ninguém. A temporada 2015 de ambos, entretanto, não foi das mais gloriosas, já que os brasileiros não tiveram nenhuma vitória. Ao GRANDE PRÊMIO, Helio e Tony analisaram o campeonato que se encerrou no início do mês em Sonoma, viram mais pontos positivos do que negativos em suas participações e reiteraram o desejo de continuarem acelerando na categoria por mais anos, mesmo reconhecendo todos os riscos impostos pela modalidade.
 
Quinto colocado no campeonato, Castroneves reconheceu que, em termos de resultados, não foi um ano grandioso. O brasileiro, porém, lembrou que esteve entre os ponteiros na classificação geral a temporada inteira e até da sorte de sair ileso dos acidentes que sofreu.
 
“Se pensar que não venci corridas e terminei o campeonato em quinto, não foi como eu esperava. Mas eu cheguei na última corrida com chances de ser campeão, dá para dizer que foi um campeonato bom, apesar de tudo. E tem mais: se lembrarmos a gravidade dos acidentes que tive, fui sortudo em ficar inteiro. É por tudo isso que eu classifico com uma boa temporada, nota 8”, disse.
Castroneves acredita que teve uma temporada nota 8 (Foto: AP)
Oitavo com a Ganassi, Kanaan seguiu uma linha parecida com a do compatriota, listando uma série de pontos positivos alcançados em 2015 e explicando que a ausência de vitórias pesa, mas que está também relacionada a alguns detalhes.
 
"Nossa temporada foi boa. Claro que faltou ter ganhado uma corrida, mas é aquele caso em que os detalhes atrapalham. Iowa era uma em que a gente tinha toda condição. Melhorei muito meu rendimento em mistos em relação aos últimos anos. Também senti que melhorei muito meu entrosamento com o Dixon, foi um ano bem positivo", explicou.
 
Na análise da temporada dos times, Kanaan e Castroneves tiveram respostas bem opostas. O baiano admitiu que a Ganassi teve de correr atrás da Penske o campeonato todo, mas destacou que o título foi conquistado e nada mais importava.
 
"A Ganassi é um time gigante, então, quando não ganha o campeonato já dizem que a temporada é ruim. Nós corremos atrás da Penske o tempo inteiro e, no fim, tivemos o Dixon sendo campeão. Era o que o Chip queria, ele não queria saber quem ia ganhar, mas, no começo do ano, se reuniu com a gente e pediu que fôssemos atrás desse título. Cumprimos a meta", afirmou.
Tony Kanaan viu bons pontos em seu campeonato e valorizou o título da Ganassi (Foto: IndyCar)
Por outro lado, o paulista exaltou o rendimento forte da Penske o tempo inteiro, reconhecendo, porém, que faltou o título em uma temporada que considerou nivelada por cima. 
 
"A avaliação pode ser ruim pelo fato de não termos conseguido o título, mas a verdade é que a Penske fez um trabalho notável. Não é fácil para um time conseguir três vitórias, 11 poles, chegar com três pilotos na etapa decisiva com chances de título e empatar em primeiro lugar no número de pontos. Sim, o título escapou, foi uma pena, mas reflete bem como a temporada foi forte", analisou.
 
Vice-campeão da temporada 2015 após ter liderado o tempo inteiro, Juan Pablo Montoya protagonizou algumas polêmicas logo após perder o título para Scott Dixon. O colombiano primeiro reclamou da pontuação dobrada na decisão do campeonato em Sonoma. Depois, afirmou que o neozelandês foi campeão fazendo uma “temporada de merda”.
 
Para Kanaan, a reclamação do colombiano não faz muito sentido, já que foi Montoya quem venceu as 500 Milhas de Indianápolis, prova que também garante pontuação dobrada. Quanto às críticas ao campeonato feito por Dixon, o brasileiro apenas lembrou que o companheiro venceu três corridas – mais do que qualquer um – e citou uma provável cabeça quente de Montoya após perder o campeonato que parecia nas mãos.
 
"Eu acho engraçado, porque o Montoya se beneficiou muito também da pontuação dobrada em Indianápolis. Eu queria ver se não tivesse pontuação dobrada em lugar algum, fatalmente o Rahal e o Dixon estariam na frente dele já no final do campeonato. Entendo a frustração, mas não tem do que reclamar neste sentido", avaliou. "Ele realmente devia estar de cabeça quente. Como afirmar que o campeão fez uma temporada de merda? Mais ainda, como falar isso de alguém que venceu três corridas? Venceu mais corrida que ele, inclusive. Acho que ele se equivocou de novo, completou.
Kanaan defendeu a temporada do companheiro de equipe Dixon (Foto: IndyCar)
Cabeça quente também esteve na análise de Castroneves das críticas feitas por seu companheiro de Penske. Helio também não gosta muito da ideia de pontuação dobrada em mistos, mas reconhece que a reclamação com a temporada já em andamento não faz sentido. Para o paulista, este deveria ser um bônus presente em ovais de 500 Milhas.
 
"A gente precisa entender que o Montoya estava com a cabeça quente e que ele teria sido campeão se não houvesse essa pontuação dobrada na final. Para mim, só merece pontuação dobrada uma prova de 500 milhas. Aí, sim, tem toda uma preparação especial e é uma corrida longa. Mas tudo isso precisaria ser discutido antes do início da temporada, após a última prova não faz sentido", falou. "De novo, ele estava com a cabeça quente e, quando isso acontece, a gente fala e faz coisas que de outro modo não faria", complementou.
 
O momento mais complicado da temporada 2015 da Indy – e também o mais triste – apareceu justamente na semana entre a penúltima e a última etapa do campeonato. A morte de Justin Wilson em decorrência de um acidente sofrido durante as 500 Milhas de Pocono mexeu muito com o mundo da categoria. Kanaan, que visivelmente estava mexido no momento da homenagem ao britânico em Sonoma, comentou que correu a prova final mentalmente abalado.
 
"Foi muito difícil. Algo totalmente novo e ruim para mim. Quando o Dan morreu, a situação era outra, última prova, tivemos sete meses para esquecer tudo. Desta vez foi muito diferente, a gente teve uma semana. Quando vieram as homenagens, o hino…parecia que tinham derrubado 300 kg em cima de mim, estava muito difícil", afirmou.
A Indy reservou um minuto de silêncio para homenagear Justin Wilson (Foto: AP)
Mesmo com toda a carga emocional e a tristeza envolvidas, os dois veteranos brasileiros deixaram claro que o desejo de seguir na Indy é muito maior que a dor e o medo.
 
"Eu sempre estive ciente do risco que corria, a morte dele não muda meus planos de seguir correndo. Infelizmente, o Justin teve aquele azar de um em um milhão. Não foi algo como a do Dan, foi uma peça que voou e foi exatamente na cabeça dele", falou Tony.
 
"Quando um companheiro de pista morre a gente fica imensamente triste, de uma maneira que não dá para explicar. É muito duro ver um cara que convivia com a gente, que tinha a sua família ali com a nossa e, de repente, não está mais. Mas não muda meus planos de continuar correndo. Tragédias como a do Dan e agora do Justin fazem com que a gente fique mais focado ainda em termos de segurança, mas correr é a minha vida e ainda tenho muita vontade de continuar fazendo isso", avaliou Helio.
 
A temporada 2015 da Indy foi marcada por extrema competitividade, com sete equipes e nove pilotos vencendo ao menos uma prova. Mesmo com tantos destaques, os dois brasileiros escolheram Graham Rahal como a grande surpresa do ano. Divergiram, entretanto, quanto a quem foi o melhor piloto da temporada.
 
Para Castroneves, o companheiro de Penske Montoya, por sua regularidade, foi o melhor do ano.
 
"Para mim, o piloto do ano foi o Juan Pablo. Foi constante o campeonato todo, venceu a Indy 500 e só perdeu o campeonato no desempate. A boa supresa foi a grande performance do Graham Rahal, que só reforçou a tese do grande campeonato que é a Indy", disse.
 
Na opinião de Kanaan, a agressividade e a maturidade de Rahal pesaram na escolha.
 
"Para mim foi o Graham. Melhor piloto e também a maior surpresa. Fez um grande campeonato, melhorou muito", comentou.
Tpny Kanaan viu Graham Rahal como o melhor da temporada da Indy (Foto: IndyCar)
A dificuldade altíssima imposta pelos concorrentes em 2015 também foi tratada por Helio e Tony. Os brasileiros não hesitaram em dizer que o campeonato certamente vai entrar para a história. Kanaan, por exemplo, acredita que a temporada tenha sido parecida com a dos tempos mais antigos do automobilismo norte-americano.
 
"Foi a temporada mais dura que eu já disputei. Não tinha margem para erros e o nível das equipes e dos pilotos estava muito alto. Foi um belo ano para a categoria, talvez do nível daqueles em que a gente nem nascido era quando rolavam", afirmou.
 
Castroneves também falou bem empolgado do campeonato, exaltando a dificuldade nas disputas e a qualidade da temporada.
 
“A competitividade foi altíssima, foi um campeonato para entrar para a história, um dos mais duros que eu disputei", declarou.
Carlos Muñoz foi um dos nove com vitória em 2015 na Indy (Foto: IndyCar)
Segurança para o futuro
Questionados sobre as possibilidades para melhorar a segurança dos carros na temporada 2016, ambos não souberam cravar uma solução. Tanto o baiano, quanto o paulista, lembraram que o cockpit fechado pode atrapalhar em casos de capotamento.
 
Para Kanaan, não é certo que o cockpit fechado é o futuro da categoria. O piloto da Ganassi, no entanto, garantiu que vem, junto da Indy e da FIA, buscando saídas para evitar novas tragédias.
 
"Eu não sei te dizer. Acho que seria muito precipitado se afirmasse algo assim. Como presidente da associação dos pilotos, tenho conversado muito com a Indy e também com a FIA. É aquilo: evita que voem coisas na sua cabeça, mas e o resto? E se capotar, como você vai sair de lá? Então, estamos estudando direitinho as possibilidades, mas cientes de que este é um problema mundial, não da Indy. Teve a mola do Massa na Hungria, por exemplo", lembrou.
 
Castroneves também mostrou-se desconfiado em relação à eficiência da ideia do cockpit fechado. O piloto da Penske sugeriu saídas parecidas com as de carros de turismo.
 
"Olha, se é o futuro, não sei, mas com certeza está na pauta. Se a gente pensar nos casos mais recentes, parece ser uma solução boa, talvez até lógica. Mas também tem outra coisa que eu tenho pensado: que tipo de dificuldade o cockpit fechado traria para o piloto deixar o carro em caso de capotamento? Se você imaginar que o carro de turismo, mesmo com a proteção de cabeça que ele tem, ainda tem a janelinha ali do lado para o piloto sair do carro rapidamente, talvez seja esse o ponto que deva ditar a discussão", explicou.

Uma saída diferente foi desenhada pelo desiger Matus Prochaczka. "Doido, hein? É muito futurístico, mas não sei se é viável fazer isso", descreveu Kanaan ao ver as imagens.

Confira as projeções do designer nos carros de Dixon e Castroneves:

Um carro com cockpit semi-fechado surge como opção (Arte: Matus Prochaczka)

Nem cockpit aberto, nem cockpit totalmente fechado. Boa ideia? (Arte: Matus Prochaczka)

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