Na Garagem: Em retorno da Ganassi, Montoya estreia, domina e vence Indy 500
Juan Pablo Montoya liderou por 167 das 200 voltas das 500 Milhas de Indianápolis de 2000, a primeira dele, que só voltaria em 2014. Foi um domínio dele e da Ganassi, que voltava ao IMS após ausência de meia década
Juan Pablo Montoya saiu da F3000 como um dos pilotos mais assombrosamente talentosos formados durante os anos 1990, deixou a Europa quando se vislumbrava um futuro na Fórmula 1 e partiu rumo aos Estados Unidos. Ao longo de dois anos, reforçou todas as impressões do talento que mostrava desde os primeiros passos, mas foi num 28 de maio, como hoje, que estreou e brilhou no templo máximo dos monopostos nos Estados Unidos. Novato em Indianápolis naquele domingo, dominou. Venceu com absoluta demonstração de força. Montoya entrou para a história há 20 anos.
É necessário fazer uma pequena retrospectiva do começo da carreira do piloto colombiano, natural da capital Bogotá. Juan Pablo entrou no kart jovem, fez curso de pilotagem como convidado nos Estados Unidos e, considerado um grande talento na Colômbia, pulou para a Europa aos 19 anos na F-Vauxhall Britânica após participar de outros campeonatos pelas Américas. Por lá e pela F3 Inglesa no ano seguinte, venceu corridas e impressionou o suficiente para ingressar na F3000 em 1997, então a principal categoria de jovens que desejavam cruzar a fronteira da F1. E logo pela equipe de Helmut Marko, já naquela época um dos principais especialistas do mundo em trabalhar com jovens pilotos. Vice-campeão no primeiro ano (atrás de Ricardo Zonta), pulou para a poderosa SuperNova no ano seguinte e foi campeão com sobras.
Já em 1997, no entanto, a Williams convidou um grupo de pilotos para testarem o carro campeão daquele ano. Montoya foi bem e acabou convidado para ser piloto de testes do time de Grove, algo que fez durante duas temporadas. O ano de 1998 foi tenebroso para a Williams, que perdera os motores Renault após a companhia francesa deixar a competição. O resultado foi conversar com Chip Ganassi para tentar criar um fato novo. A Williams contratou Alex Zanardi, que mandava na CART, e deixou que a Ganassi sugasse Montoya para os Estados Unidos.
Carros sendo levados ao grid da Indy 500 de 2000 (Foto: Indy)
Em tempos da quebra entre Cart e IRL, a Indy tinha dois campeonatos. A Cart, claro, tinha o grid mais qualificado e era mais popular, mas a IRL tinha as 500 Milhas de Indianápolis. Logo em 1999, Montoya mostrou a que vinha, Venceu sete corridas e foi campeão em batalha apertada contra o futuro tetracampeão Dario Franchitti. Os dois terminaram com a mesma pontuação, mas Juan venceu mais. Montoya foi o primeiro novato campeão desde Nigel Mansell seis anos antes.
Agressivo, rápido, quase desrespeitoso na pista, Montoya já era um espécime rao de piloto que preferia ir ao muro a aceitar o segundo lugar, embora o ímpeto estivesse rendendo mais vitórias. A Ganassi voava, mas perdeu força em 1999. Tinha muitos problemas de confiabilidade, sobretudo com o novo motor: a Toyota passou a ser responsável pelo fornecimento em vez da Honda. Mas Chip tomou a decisão de 1 milhão: entrar nas 500 Milhas.
Foi a primeira vez que uma equipe da Cart entrou para competir no grid da IRL após a cisão. Bem recebida no autódromo, a Ganassi chegou como equipe avulsa apenas para aquela etapa, mas com cacife para brigar. Montoya estreava, enquanto o companheiro de equipe, Jimmy Vasser, voltava após ausência de cinco anos.
Depois da preparação, o primeiro desafio real era a classificação. O Bump era, claro, uma preocupação, mas a dupla passou por ela com tranquilidade. Os dois andaram bem no frio sábado, 20 de maio. Os 23 melhores daqueles dias estavam classificados diretamente e já se colocavam em posição de largada. Greg Ray, da Menard, bateu a carteira do colombiano e ficou com a pole, mas Montoya seria segundo e Vasser ficaria com a sétima colocação. O Bump Day, no dia seguinte, fechava o grid com os últimos dez classificados, mas a Ganassi já pensava na semana seguinte.
Os três primeiros no grid de 2000: Ray, Montoya e Salazar (Foto: Indy)
A largada foi um duelo na Menard. Quem se adiantou para desafiar o pole não foi Montoya, mas o companheiro Robby Gordon, que saía em quarto. Ray segurou e manteve a dianteira pelas primeiras 26 voltas. Montoya logo recuperou o segundo posto e tomaria a primeira colocação na volta 27, ultrapassando no meio do pelotão. Quando Ray foi aos boxes, o que colombiano também fez dois giros depois, a Ganassi trabalhou melhor e reforçou a dianteira. Estava atrás de quem definira por ficar na pista um pouco mais, mas estava à frente de Ray.
A corrida estava limpa. Sarah Fisher ficou com o carro morto no pit-lane por quase 1min, mas voltou para a pista. Todos os 33 nomes que participaram da largada seguiam na pista após a janela inicial de pit-stops. Vasser chegou a liderar por alguns momentos e cedeu a ponta para Robby McGehee. Quando todos pararam, na volta 33, Montoya retornava à liderança. O stint do colombiano na ponta duraria 143 voltas.
Durante o logo período de frente do estreante, muita coisa mudou. Montoya tinha vantagem e parou nox boxes sem perder a primeira posição. Deu tempo até de reclamar de óleo na viseira, mas a Ganassi disse que arrumaria mais tarde. A primeira bandeira amarela viria somente na 66 volta. O pole Ray já perdera ritmo e ocupava a sétima colocação quando passou muito em cima na curva dois, pegou de lado no muro e quebrou a suspensão dianteira direita. Quem também apareceu com problemas ao mesmo tempo foi Al Unser Jr., o Little Al, que fazia o retorno à prova após cinco anos. Com vazamento de óleo causado por um detrito de Ray, teve de parar e ficou bem longe da volta do líder.
Logo após a bandeira verde, Lyn St. James e Fisher, as duas pilotas que classificaram para a prova, colidiram e pararam ao mesmo tempo no muro da curva um. Restavam 30 carros após 75 voltas – nove na volta do líder. O tempo seguia fechando e a possibilidade de chuva era real. Nesse caso, claro, a corrida poderia terminar na volta 101 – 50% + 1 volta. O time de Eddie Cheever já falava em apostar para assumir a frente perto da centésima volta, o medo da água estava sério. A nova relargada aconteceu na volta 85, mas a briga não estava na frente. Montoya abria novamente, enquanto Scott Sharp era quem chamava a atenção ao assumir o oitavo posto para cima de Jason Leffler.
Uma nova bandeira amarela apareceu na volta 98 e durou três giros, mas agora apenas para a limpeza de detritos na pista. Com todo o pelotão junto no pit-lane, a Ganassi de novo trabalhava rápido e devolvia Montoya na dianteira. O brasileiro Airton Daré e McGehee seguiam no top-3. Little Al, com o carro superaquecido, e Andy Hillenburg, com travas na direção, também abandonaram de vez, assim como Robbie Buhl e Richie Hearn, respectivamente com problemas no motor e elétricos. Al prometia voltar, o que, de fato, fez em mais seis oportunidades, mas jamais sem o sucesso das vitórias de 1992 e 1994.
Montoya venceu a prova (Foto: Reprodução/Twitter)
A partir da próxima bandeira verde, no 102º giro, a chegada da chuva poderia significar o fim imediato da edição 2000 da corrida. Vasser agora aparecia em segundo, também fruto do trabalho da Ganassi. Na relargada, Montoya se mantinha em vantagem enquanto Daré atacava Vasser. Logo os perseguidores seriam Buddy Lazier e Jeff Ward, mas ninguém realmente conseguia se aproximar do #9. 25 nomes seguiam na disputa.
O próximo problema seria causado exatamente por Daré. O carro da TeamXtreme era rápido e permitia a ele se manter na volta do líder, mas o motor Oldsmobile trairia o brasileiro. Na volta 126, o motor estourou. Daré saiu irritadíssimo, e uma nova bandeira amarela foi chamada por conta do óleo deixado na pista. Havia apenas um outro brasileiro na prova: Raul Boesel, que teve jornada sumida e fechou em 16º. Montoya, diga-se, era o único colombiano, uma vez que Roberto Guerrero foi bumpado sete dias antes.
A relargada da volta 131 foi a primeira em que Juan foi realmente ameaçado, mas conseguiu escapar bem na linha de dentro e rapidamente voltou a abrir vantagem. A quinta amarela viria novamente por Greg Ray! Após passar quase uma hora no pit-lane, o #1 tentou voltar à pista e bateu mais forte ainda na curva de abertura. Mais uma rodada de pit-stop, mais uma vez Montoya saiu em boa vantagem – que se manteria até o estreante Sam Hornish – que venceria a Indy 500 seis anos mais tarde – bater forte no muro da curva dois ao perder a traseira e, assim, interromper o que parecia um crescimento de Lazier na prova. Era a volta 158.
Uma nova relargada veio na 162 – com 38 giros pela frente, a Indy 500 já se aproximava da decisão. Lazier ameaçou Montoya quando a corrida voltou a valer. Guiava bem e incomodava o ponteiro. O acidente de Hornish tinha sido o último da prova, mas ainda haveria outra amarela: mais um motor Oldsmobile estourou, agora o de Stan Wattles, na volta 174.
Uma última janela de pit-stop se abriu. A toada das paradas seguia: a Ganassi trabalhou muito mais rápido, 3s, que os times de Lazier e Eliseo Salazar, que aparecia em terceiro. Mas Vasser preferiu ficar na pista, porque tinha parado havia pouco tempo. Com isso, Jimmy assumia a liderança. Era uma aposta e, agora, precisava de uma bandeira amarela para que chegasse ao fim.
A última relargada da corrida aconteceu na volta 178. Vasser e Montoya abriam, enquanto Lazier tinha de lidar e ultrapassar Ward. Mesmo com menos combustível, Vasser era mais lento: a retomada de Juan Pablo era questão de tempo. Na reta oposta da volta 179, passou. O colombiano disparou, enquanto Lazier atacava Vasser pela segunda colocação. Mas Montoya sumira. Disparado na frente, estava perto da vitória.
Vasser não conseguiu levar até o fim. Parou nos boxes e acabou fechando somente em sétimo. Salazar teve momentos finais mais brilhantes, porque ultrapassou Ward e ficou em terceiro. Lazier mal tirava a vantagem de Montoya, que era de 8s a cinco voltas do fim. Não havia o que fazer. Juan Pablo Montoya recebeu a bandeira quadriculada como vencedor das 500 Milhas de Indianápolis.
Montoya foi o primeiro piloto a vencer a prova na estreia desde Graham Hill, em 1965, e também o primeiro a largar na segunda posição e vencer desde Mario Andretti, em 1969.
Montoya venceu a prova (Foto: Reprodução/Twitter)
O colombiano partiu para a F1 no ano seguinte. Com a Williams, venceu os GPs da Itália de 2001, de Mônaco e Alemanha de 2003 e do Brasil em 2004 – e foi terceiro colocado dos campeonatos de 2002 e 2003. Partiu para a McLaren no ano seguinte, onde ganhou as corridas da Inglaterra, da Itália e do Brasil em 2005. O fim da história do colombiano na F1 se deu em 2006, quando Juan Pablo anunciou que assinara contrato para correr na Nascar no ano seguinte, o que irritou Ron Dennis e fez a McLaren encerrar o acordo com o piloto e substituí-lo com o espanhol Pedro de la Rosa.
A aventura na Nascar durou 7 anos e muitas dores de cabeça. Montoya só voltaria a disputar as 500 Milhas de Indianápolis – e a Indy – em 2014. Em 2015, venceu a corrida pela segunda vez e liderou o campeonato quase todo, perdendo apenas por conta da pontuação dobrada da corrida derradeira.
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