Na Garagem: Emerson Fittipaldi supera problema em pit-stop e estreia em 5º na Indy

Emerson Fittipaldi iniciou sua vitoriosa carreira na Indy no dia 1º de abril de 1984, no circuito de rua de Long Beach, com um chassi antigo e pela pequena GTS Racing

Há exatos 40 anos, o Brasil começava sua trajetória na Indy. Emerson Fittipaldi alinhava o desatualizado March 83C da GTS para a abertura da temporada da categoria e, diante das circunstâncias, conquistava um surpreendente quinto lugar na corrida inaugural daquele campeonato, o GP de Long Beach, em 1º de abril de 1984.

A estreia de Fittipaldi na Indy foi precedida por uma série de acasos. O piloto ensaiou um retorno à Fórmula 1 e chegou a testar pela equipe Spirit em janeiro daquele ano, no antigo circuito de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. A possibilidade de volta à categoria acabou junto com os treinos, marcados pelos problemas de confiabilidade e a falta de competitividade do conjunto.

Em fevereiro daquele ano, Fittipaldi recebeu um convite para estar no GP de Miami, um evento que movimentava o endurance nos Estados Unidos. O chamado, entretanto, não foi para pilotar, mas para ser uma das celebridades no paddock do Bicentennial Park. O brasileiro aceitou o aceno da organização e aproveitou para estabelecer diversas conversas. Entre elas, as que abriram a possibilidade na Indy.

A primeira chance, porém, não foi daquelas mais sonhadas: a GTS fazia participações pontuais na categoria, além de contar com um chassi March 83C, produzido para o ano anterior. Envolvido em problemas financeiros após a bancarrota da Fittipaldi, equipe de Fórmula 1 que comandou com seu irmão, Wilsinho Fittipaldi, Emerson topou o acordo — mesmo que este valesse somente para as três primeiras etapas do calendário.

Emerson Fittipaldi acelera carro da GTS em Long Beach (Foto: Reprodução)

A pintura do carro do brasileiro também chamou bastante atenção e foi alvo de preconceito, inclusive. O bólido tinha o rosa como cor predominante, o que era raro de se ver no automobilismo na década de 1980. Naquela época, a tonalidade também era classificada como exclusivamente feminina.

Bicampeão mundial de Fórmula 1, Fittipaldi surpreendeu na classificação, realizada em 31 de março. A melhor volta do brasileiro foi 1min08s959 e rendeu o 12º lugar, logo à frente de Bobby Rahal, que competia com o chassi atualizado da March — o 84C —, já era vencedor na categoria e tinha um então prodígio como engenheiro na Truesports: Adrian Newey, atual responsável pela concepção dos carros da Red Bull na Fórmula 1. A classificação foi dominada por Mario Andretti, que registrou 1min06s263 com a Newman-Haas e foi mais de 0s6 mais rápido que Derek Daly, que sairia em segundo com a Bettenhausen.

Durante as 112 voltas da corrida, apenas uma bandeira amarela. A direção de prova abortou a largada por problemas no alinhamento dos pilotos. Depois, foram 111 giros sem intervenção do safety-car, o que favoreceu o domínio de Mario Andretti, que largou e não foi ameaçado desde a primeira curva.

Fittipaldi teve um início conservador, que misturava a prudência para evitar os muros de Long Beach com a necessidade de poupar equipamento. Logo nas primeiras voltas, o brasileiro capitalizou com a estratégia e assumiu o quinto lugar no 11º giro, após abandonos de Roberto Guerrero e Bruno Giacomelli, além do pit-stop precoce de Michael Andretti para troca de pneus e reabastecimento — o atual dono da equipe que pretende ingressar na Fórmula 1 fez uma parada logo na sequência com danos na asa dianteira.

Emerson Fittipaldi pouco antes de sua estreia na Indy (Foto: Reprodução)

Com 30 voltas, Mario Andretti era o primeiro, com Teo Fabi e Mike Chandler na segunda e terceira colocações, respectivamente, mas muito atrás do ponteiro. Com melhores condições dos pneus, Fittipaldi desbancava Al Unser Jr. e assumia o quarto lugar. Naquele momento, a janela de pit-stop se abriu para os líderes, com Fabi indo aos boxes.

Emerson foi um dos últimos a realizar a troca de pneus e reabastecimento, mas o trabalho feito pela GTS na volta 46 não foi nada bom. Em um período em que 15s era considerado um trabalho aceitável, o brasileiro ficou mais de 30s parado nos boxes.

Para sorte de Fittipaldi, Unser Jr. e Mike Chandler abandonaram logo na sequência e o brasileiro chegou a assumir o segundo lugar pouco depois de passar a metade da corrida. Isso não significou chance real de vitória para o estreante, pois Mario Andretti já tinha mais de uma volta de vantagem naquele momento. Rahal, Geoff Brabham e Tom Sneva perseguiam do brasileiro.

A concorrência de Rahal, hoje chefe de equipe do neto de Emerson, Pietro Fittipaldi, deixou de ser uma ameaça com 42 voltas para o fim. Ao sair dos boxes após a segunda parada, o piloto colidiu com Howdy Holmes e ambos abandonaram.

Brabham, então, imprimiu ritmo forte e superou o brasileiro antes da troca de pneus e reabastecimento. Na nova janela de paradas, a Newman-Haas trabalhou muito mal no carro de Mario Andretti. Ainda assim, o americano permaneceu à frente pela larga vantagem que tinha. O campeão da Fórmula 1 de 1978 venceu com mais de 1min03s para Brabham e começou a pavimentar o caminho para o título da categoria naquele ano.

A rodada de pit-stops também definiu o top-5. Sneva saiu na terceira colocação, à frente de Jim Crawford e Fittipaldi, que cruzou a linha de chegada duas voltas atrás do vencedor. Aquela etapa nas ruas da Califórnia foi um verdadeiro desafio de resistência para pilotos e equipes. Prova disso é que, dos 28 carros que largaram, somente 11 concluíram a disputa.

Curiosamente, o brasileiro terminou logo à frente de Jacques Villeneuve, mas não aquele, vencedor da Indy em 1995 e da Fórmula 1 em 1997. O canadense que disputou o GP de Long Beach de 1984 é irmão de Gilles Villeneuve e, consequentemente, tio do último campeão pela Williams na F1.

Em 1984, Emerson ainda competiu pela GTS nas duas etapas seguintes — Phoenix e as 500 Milhas de Indianápolis. Ficou fora em Milwaukee e Portland, mas disputou Meadowlands e Cleveland pela HR. O brasileiro não encontrou equipe para estar na primeira prova de Michigan, Road América e Pocono, mas conseguiu vaga para correr Mid-Ohio, Montreal, o segundo GP de Michigan e Las Vegas pela Patrick, time pelo qual conquistou em 1989 seu primeiro título na categoria e a Indy 500 do mesmo ano.

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